Rock é Rock Mesmo

A primavera do rock

Com a volta do Rock In Rio, vivemos de novo o sonho de um mundo rock’n’roll; dura pouco, mas a intensidade é arrebatadora

Meus amigos, o que é a natureza. Depois de tanto tempo longe desse espaço, que, ao menos no mundo virtual, é a gênese de tudo, eis-me aqui de volta. Não há explicação que justifique tamanha ausência. Ou, por outra, há muitas explicações, mas elas são tão chatas, enfadonhas, que decido poupar os leitores de tal blábláblá. E quis o destino que, por um motivo ou outro, a retomada viesse a acontecer na véspera de mais um Rock In Rio, o maior festival de música do mundo, como dizem os cascudos publicitários, que volta ao Brasil depois de 10 anos. Dez anos, meus amigos. Não é mole, não.

Devo deixar claro que sou um entusiasta do Rock In Rio. Ora, foi o festival que marcou a minha geração e o período em que o rock foi grande de verdade nesse Brasilzão de meu Deus. Gerações inteiras, a partir dali, escutam histórias de gente que foi ao festival; todo mundo sabe mais ou menos o que é o Rock In Rio. Por isso não posso deixar de lado empolgação sabendo que, amanhã, estarei indo orgulhosamente para a minha quarta edição do festival. Não como o primeiro a entrar, como aconteceu ao meio-dia do dia 11 de janeiro de 1985, mas com o mesmo gás de participar de um grande festival. Se o show é a apoteose do rock, um festival de rock é o céu. O verdadeiro paraíso.

Disse que sou um entusiasta do Rock In Rio, mas não sou advogado do festival, muito menos cego. Sei que, num evento desse porte, nem tudo são flores. Observo, no entanto, certo exagero no tom crítico dado ao festival, cuja escalação para esse ano não me parece incompatível com sua história. O Rock In Rio sempre foi um festival de música, que teve na programação artistas de outros gêneros. Lembro que, na edição de 1985, tocaram ícones da mpb como Ney Matogrosso e Ivan Lins, e Al Jarreau e George Benson, mais identificados com o jazz. Eu e meus amigos ficávamos fulos da vida. Com o Circo Voador lotado e a Fluminense FM tocando banda nova à rodo – era o boom do rock nacional – colocar mpb no Rock In Rio era sacanagem. Mas é assim o Rock In Rio, ora bolas.

Por isso, não me estranha que o festival abra espaço para artistas popularescos e de gosto duvidoso como nessa edição. Eles são, para o bem ou para o mal, os novos ícones da mpb. Se ela, a mpb, está decadente, o rock não tem nada a ver com isso, meus amigos. Se o excesso de cantoras pop domina a parada internacional, transformando qualquer maiô cavado em “diva”, azar do mundo. O Rock In Rio não milita no rock, não é defensor do rock. Ele usa o rock para fazer um evento mainstream de grandes proporções e faturar alto. Sim, é um negócio, meus amigos. - E por que o rock?, perguntaria o leitor, no que eu respondo. Porque só o rock tem a vocação para as massas e para arrebatar multidões. Toda e qualquer nova onda na música mundial pega carona no rock para ser bem sucedida. Sempre foi e continua sendo assim.

Mas há – e como há – atrações de peso no Rock In Rio que, por algum motivo, a mídia ignora. Digo a mídia porque o público, esperto, esgotou os ingressos para o festival num instante. System Of A Down. Simplesmente a turnê de retorno da banda cujo show é o mais aguardado do Brasil nos últimos dez anos. Desde, ao menos, o lançamento de “Toxicity”, em 2001, todos querem o grupo aqui. Já vi dois shows deles e recomendo. Metallica. Quem foi aos shows do Morumbi, no ano passado, sabe que é imperdível. Desde 1999 o grupo não vem ao Rio, e está com um show (de repertório mudado a cada noite) misturando épocas e com músicas e disco recentes. Recomendadíssimo.

E tem mais. Red Hot Chili Peppers, Lenny Kravitz, Coldplay e Evanescence lançando disco, dá pra perder? Desculpe, mas não sou daqueles que reclama quando bandas vêm muito a Brasil. Por mim, poderiam todos vir pra cá a cada novo disco e a cada nova turnê, apresentando novidades. Ademais, não estamos em 1985 com shows escassos no Brasil, de modo que não é tão fácil assim trazer uma atração inédita. São shows que prometem. Num terceiro plano, tem também excelentes atrações do tipo “para compor o elenco”. Motörhead e Slipknot, por exemplo, nunca fizeram, nessa e em outras encarnações, um show ruim. Stone Sour e Snow Patrol também podem surpreender, e ninguém em sã consciência duvida que Stevie Wonder vai fazer um showzão. Tá bom pra vocês? Pra mim tá.

Disse que a mídia tem sido ranheta com o Rock In Rio e continuo. Essa ranhetice, de reclamar de tudo sobre o festival, se salienta lá do outro lado da Dutra. Os amigos de lá nutrem uma injustificável invejinha de o maior festival do Brasil acontecer aqui no Rio. Não precisava. São Paulo é, de longe, a cidade mais rock do Brasil. É por lá que passam turnês de tudo o que é banda que jamais tocou no Rio, de todos os portes. É lá que acontecem festivais como o SWU e o Planeta Terra, só pra citar dois. Deixem de bobagem, minha gente. Vem pro Rock In Rio você também.

Disse também que nem tudo são flores. Esse Palco Sunset, de encontros de artistas, por exemplo, é uma bobagem. Ele toma o espaço de um segundo palco como ele deveria ser, para receber artistas de médio porte, mais novos, sem cacife para atuar no Palco Principal. Muitos deles estão no Sunset, como Cidadão Instigado, Matanza e Móveis Coloniais de Acaju, mas os shows deles devem se diluir nessa proposta chata de encontro de artistas. Ficou faltando, também, um dia para o cada vez mais crescente classic rock, com um grupo gigante como o The Who, Van Halen ou Pink Floyd fechando a noite. Ao menos não vai ter o nefasto dia teen e nem deram espaço para esse rock adolescente que ganha prêmios nas TVs brasileiras. E tem aquelas patacoadas que queimam o filme do festival, como a abjeta campanha contra as drogas, a abertura com dueto de Milton Nascimento com Freddie Mercury no telão (!) e por aí vai. Eu disse que nem tudo são flores.

Mas o mais legal de tudo, meus amigos, é que, durante o Rock In Rio, tudo vira rock. O sujeito liga a TV e anúncio de carro tem rock, comercial dos Correios tem rock, o chiclete é rock. O classudo “Jornal Nacional” abre a edição diária com rock. Na cidade, nos outdoors e pontos de ônibus, a cerveja é rock, o banco é rock. Com o Rock In Rio, vivemos a primavera do rock, um sonho de um mundo rock que dura uns 15, 30 dias, mas é de uma intensidade arrebatadora. Ao menos para mim, que vivo o rock 24 horas por dia. E você, vai ficar aí reclamando ou vai aproveitar?

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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Comentários enviados

Existem 4 comentários nesse texto.
  1. Alexandre em setembro 22, 2011 às 20:38
    #1

    Texto muito bom! Parabéns, Bragatto! Concordo com quase tudo dito, as pessoas criticam o lineup sem analisar direito, critica por força do hábito… Quero ver achar lineup melhor que o dia do metal em algum festival europeu, com exceção do Wacken…

  2. Wesley em setembro 23, 2011 às 8:48
    #2

    A grande questão não é ter bandas de outros gêneros musicais, isso sempre teve, mas olha o primeiro Rock in Rio, teve Ozzy, Whitesnake, Scorpions, Queen sem falar nos outros, nesse de Rock mesmo só o dia do Metallica e o Guns e System, até o Red Hot, em um festival de 7 dias, é muito, muito pouco, isso é o que revolta, deveria no mínimo ter 4 dias de puro Rock n’ Roll, e não é isso que se vê, tem várias bandas por aí e os caras dão muito mais espaço para os outros estilos, Cadê Aeromisth, Scorpions, o próprio Whitesnake, AC/DC e bandas novas como Alter Bridge e outros? A grande revolta é essa e na hora que fazem reportagens enchem a boca pra falar que é o festival dos rockeiros e não sei o que e está longe de ser verdade!

  3. Nayz em setembro 29, 2011 às 10:06
    #3

    Isso ae! Ao invés de perder tempo vamos aproveitar!

  4. Rayra em outubro 2, 2011 às 16:27
    #4

    Concordo! Poderia ter essa banda… quem sabe aquela… ou aquela outra… poderia! Mas, vamos parar e pensar um pouco… será que é fácil montar um festival?! Contactar bandas, confirmar presenças, agendar horários?!
    Realmente, vamos aproveitar!

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