No Mundo do Rock

Despedida

Antes de iniciar recesso por tempo indeterminado, Disturbed vem ao Brasil para única apresentação, no interior de São Paulo. Fotos: Divulgação (1 e 3) e Allen Ross Thomas/Divulgação (2).

John Moyer, Dan Donegan, David Draiman e Mike Wengren: cansaço das turnês determinou recesso

John Moyer, Dan Donegan, David Draiman e Mike Wengren: cansaço das turnês determinou recesso

Sabe aquela história de duas notícias, uma boa e outra ruim? Pois então. A ruim é que o bafafá em cima do fim do Disturbed é mais ou menos verdade. O grupo vai mesmo entrar em um recesso por tempo indeterminado, basicamente por que os quatro integrantes não se aguentam mais em meio a infindáveis turnês. Recesso que - sabemos todos - pode resultar num retorno extraordinário (vejam o caso do Foo Fighters) ou no fim definitivo do grupo. A notícia boa é que os últimos quatro shows do grupo antes dessa parada acontecem na América do Sul, sendo um deles no Brasil, na próxima terça, na gloriosa São Bernardo do Campo(!) - saiba mais aqui.

Filho bastardo dos dias de glória do nu-metal, o Disturbed foi muito além do gênero que dominou o mercado americano durante anos, e atingiu grande sucesso, colocando seus cinco álbuns sempre em destaque nas paradas de lá, graças à uma grande base de fãs. O som pesado do quarteto é ao mesmo tempo acessível às massas, graças à voz ritmada e marcante de David Draiman; às guitarras pesadas, mas com groove, de Dan Donegan; à afinação diferenciada do baterista Mike Wengren, que faz dupla com o baixista John Moyer; e aos refrões colantes espalhados pelas músicas. Para se ter uma ideia, só o disco mais recente, “Asylum”, lançado no ano passado, vendeu 180 mil cópias na semana de lançamento e entrou direto no primeiro lugar da parda da Billboard. Números que, no entanto, não convenceram a gravadora de lançar o CD por aqui.

E que também não sensibilizaram a banda a continuar. Foi o que nos contou o baixista John Moyer, em um papo rápido (10 minutos cravados) por telefone. Ele disse que o ponto sobre o recesso é o descanso da rotina das turnês, emendadas disco após disco. Falou – mas não muito – de como será o show do Brasil; do desenvolvimento de uma “assinatura” para o som do Disturbed; do sucesso nos Estados Unidos e das diferenças entre os fãs. Aproveitem que essa pode ter sido – de fato – uma das últimas entrevistas do grupo.

Rock em Geral: Antes de qualquer coisa, há notícias que dão conta do fim do Disturbed. É verdade que a banda vai se separar?

John Moyer: Basicamente vamos dar um tempo. Todo o ciclo de um álbum nós sempre planejamos o que fazer depois, e, pela primeira vez, decidimos um recesso. Nós lançamos cinco discos nos últimos 10, 11 anos, e em cada disco fizermos turnês por cerca de um ano. Sempre estivemos muito, muito ocupados. Achamos que poderíamos ter um recesso e é o que está acontecendo, um recesso indefinido. Depois vamos pensar no que fazer.

REG: Há a intenção de fazer alguma coisa nesse período, gravar discos solo ou outros projetos?

John: A questão de dar um tempo é se manter afastado da estrada, das turnês. Eu não acho que alguém de nós vá sair por aí tocando com quem quer que seja, não faria sentido. Mas todos podem fazer outras coisas. O David (Draiman, vocalista) e o Dan (Donegan, guitarrista) têm uma gravadora, a Intoxication Records, e tenho certeza que eles vão dar um gás nela. Dan é um ótimo produtor e deve trabalhar com algumas bandas. Eu também tenho outras coisas a fazer na música, gosto de dar aulas, de compor. Coisas que já fazemos, mas não será o caso de tocar em nenhuma outra banda.

REG: Antes vocês vêm ao Brasil pela primeira vez, quais as expectativas?

John: Esperamos encontrar fãs enlouquecidos, o que ouvimos falar é que os fãs de metal mais loucos do mundo estão na América do Sul. E que todas as bandas que tocam por aí nos contam. Espero que funcione conosco também.

O baixista John Moyer em ação num dos shows

O baixista John Moyer em ação num dos shows

REG: Sobre o repertório, vocês pretendem priorizas as músicas do disco mais recente (“Asylum”) ou fazer tipo um “best of”, já que é a primeira vez por aqui?

John: Vamos fazer um show maior que o normal, então teremos muitas coisas antigas, muitas novas e bastante de fases intermediária da banda. Mas ainda não definimos exatamente quais músicas nem a ordem delas. Estes serão os últimos quatro shows que faremos em um bom tempo, então acho que vamos aproveitar como algo especial.

REG: Vocês pretendem gravar esses shows, ou parte deles, para um lançamento no futuro?

John: Não temos intenção de gravar nada agora, a não ser que seja por hobby, com nossas câmeras pessoais. Não estamos viajando com nenhuma equipe de gravação nem pretendemos contratar uma.

REG: Todos os discos do Disturbed chegaram às primeiras posições das paradas americanas, mas isso não acontece na Europa, muito menos no Brasil. Você acha que é por causa de vocês terem um som, digamos, “americano demais”?

John: Sei lá, não tenho certeza. Fazemos ou que fazemos sem nos importar muito se soa americano, britânico ou seja lá o que for. Simplesmente temos um estilo do qual gostamos e nossos fãs também gostam muito. Eu não saberia qualificar se isso é americano ou europeu, só fazemos o que fazemos.

REG: Mas você vê diferenças entre o público de vocês, nos Estados Unidos e fora dele, na Europa, por exemplo?

John: São bem diferentes. Europeus, às vezes, são bem organizados, sempre que têm chance, entre as músicas, costumam aplaudir. Tipo assim (cantando): “Disturbed! Clap, clap, clap! Disturbed! Clap, clap, clap!” Fazem isso sem atravessar, é incrível. Acho que é uma questão cultural deles, é uma das grandes diferenças entre o público americano e o europeu.

REG: No passado o som do Disturbed era bastante associado ao nu-metal que predominava nos Estados Unidos. Você acha que essa associação acabou? Vocês ainda carregam características do nu-metal?

John: Eu não acho que tenhamos influências do nu-metal, mas temos certas coisas em comum. Guitarras pesadas, guitarras pesadas com efeitos nos vocais… Mas são coisas que estavam aí antes do nu-metal. Eu acho que posso te dizer como é o nosso som. Tem potência, é estridente, é muito melódico, às vezes, tem o andamento quebrado… Mas quando é preciso classificar, é heavy metal ou hard rock ou nu-metal. Eu acho tem um pouco das características de tudo isso, mas um termo desses sozinho não define o que fazemos, embora nunca pensamos nisso na hora de compor.

REG: Todos os discos do Disturbed mostram mais ou menos a mesma assinatura. Vocês se preocupam em não ser uma banda repetitiva, ao compor e arranjar cada música de um novo álbum?

John: Nós temos um tipo de som definido, mas para mim todas as músicas são diferentes, e não é como se fosse um desafio para nós fazer músicas diferentes umas das outras. Mas sempre que nos reunimos para finalizar músicas novas, nos distanciamos do que fizemos antes. Sempre temos os acordes básicos do nosso som, uma batida original, a abordagem, tudo isso é parte do que somos. Mas eu acho que cada nova música é um “indivíduo”, com sua identidade. A sonoridade pode ser a mesma porque é o nosso tipo de som, feito pelos mesmos quatro caras. Fazemos um bom trabalho, porque não acho que tenhamos repetido as mesmas músicas o tempo todo. Temos um leque de músicas bem diferentes, mas todas têm, ao mesmo tempo, a nossa marca.

REG: Qual a característica você acha mais identificável nas músicas do Disturbed: as guitarras pesadas, a voz ou os refrões colantes?

John: Acho que todas elas, todas funcionam juntos…

REG: Vocês costumam gravar covers de bandas como U2, Genesis e Tears For Fears, por exemplo, que não são familiares para o público do metal. Como vocês escolhem as bandas? E quanto aos fãs, eles respondem bem a esse tipo de coisa?

John: Ah, é sempre divertido achar uma música e pensar ela de uma forma pesada e depois transformá-la numa canção de metal. É divertido, e tivemos muito sucesso com “Shout” (Tears For Fears) e “Land of Confusion” (Genesis) e, claro, a música do U2 (“I Still Haven’t Found What I’m Looking For”). São versões legais de músicas que as pessoas não esperariam que elas fossem pesadas. E é claro que gostamos das bandas, o U2 é uma das maiores bandas do mundo, têm músicas que fazem parte de toda a minha vida.

Disturbed: música pesada, mas acessível, que vem conquistando o mercado americano a cada disco

Disturbed: música pesada, mas acessível, que vem conquistando o mercado americano a cada disco

Tags desse texto:

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado