Fazendo História

Limp Bizkit
Buscando uma saída para o nu-metal

Matéria publicada em 2003, na Rock Press, época do lançamento do álbum “Results May Vary”. Foto: Reprodução/Internet.

limpbizkit1Se o terceiro disco de uma banda é considerado decisivo para a afirmação da música que ela se propõe a fazer, para o quarto lançamento não se espera muito mais do que ver a continuidade de um trabalho. Mas não é exatamente isso que está acontecendo com o Limp Bizkit, um dos ícones do nu-metal, o subgênero mais polêmico do heavy metal. “Chocolate Starfish And The Hot Dog Flavored Water”, o terceiro disco, consolidou o nu-metal praticado e desenvolvido desde o tempo em que o vocalista Fred Durst fazia tatuagens em Jacksonville, na Flórida, antes de ser descoberto por Fieldy, baixista do Korn. Mas “Results May Vary”, o quarto e recém lançado álbum, mostra o Limp Bizkit ciscando em várias outras direções que não a fórmula rap/hip hop/andamentos quebrados/palavrões a rodo/letras rebeldes contra a sociedade americana. Ok, o selinho criado pelo congresso americano alertando os pais quanto ao conteúdo explícito ainda está lá, mas, na terra da “liberdade”, ele hoje serve muito mais como marketing a favor do que contra.

“Results May Vary” nasceu de um parto longo. Para começar, em 2001, em meio a uma apertada agenda de shows, o guitarrista Wes Borland, que influía, e muito, nas composições do grupo, caiu fora. Ora Durst tocava guitarra sozinho no palco – o que atrapalha sua performance saltitante como vocalista, ora um candidato a vaga chegava a se apresentar, antes de ser dispensado em seguida. Até um concurso nacional para encontrar um substituto para Wes chegou a acontecer numa rede de lojas, mas a vaga ficou com Mike Smith, que tocava no Snot (não confundir com o quadrinista de mesmo nome, nem com Mike Doling, outro guitarrista que também tocou no Snot e ainda no Soulfly). Depois, nesse longo intervalo de três anos, a banda gravou e desistiu do material mais de uma vez, assim como anunciou vários nomes para o disco, como Panty Sniffer e Bipolar.

Mas talvez “Results May Vary” (resultados podem variar, em português) tenha sido realmente o título perfeito. Mas por que eles podem variar? Primeiro porque o disco não tem um único produtor, embora Fred Durst, além de ser executivo da gravadora, tenha participado da produção de todas as 16 faixas. Desse total, o veterano Terry Date (Prong, Deftones), que também co-produziu “Chocolate Starfish”, tomou conta de oito, Rick Rubin (Red Hot, SOAD), de cinco, DJ Lethal, de uma, e o próprio Durst fez duas sozinho. O que aparece de diferente nesta partilha é um certo aceno da banda para temas (musicais) antes não abordados, fugindo dos mandamentos do nu-metal, pouco importa se para melhor ou para pior. Já a quarta faixa, “Underneath The Gun”, é um rock lento, denso e com riffs de peso, sem rap, sem hip hop, com a letra cantada (sem nenhum palavrão, acreditem) e belos solos após o refrão. Outros exemplos de que o Limp Bizkit está buscando a luz para dar cabo na repetição estão em “Eat You Alive” (a do videoclipe), que segue a linha vocal de sempre, mas também economiza nos “motherfuckers”, “fuckin” e “in tha house”, “Build a Bridge”, balada talhada para as rádios e que começa com um arranjo de violões, “Down Another Day” e “Let Me Down” . Isso sem falar na boa cover para a melancólica “Behind Blue Eyes”, do Who, na qual Durst quase vira herói (?!).

O problema é que uma outra parte das músicas ainda estão amarradas ao nu-metal repetitivo da banda, e o conteúdo da maioria das letras, apesar da contensão das baixarias, continua fazendo jus ao controverso Fred Durst, o mesmo que costuma incitar os fãs a violência, como no Woodstock de 1999, e que levou o Limp Bizkit a ser processado pelos próprios fãs, depois de ter abandonado a palco numa turnê com Mudvayne, Deftones e Metallica, em Chicago. A acusação? Durst teria usado frases preconceituosas, xenófobas e homofóbicas para se comunicar com o público. A revolta foi tanta que a banda teve que bater em retirada. Exemplos desse comportamento mezo hostil mezo bizarro pode ser visto no DVD que a primeira edição do disco traz como bônus. Nele estão cenas que antecipam o primeiro DVD oficial do grupo, “Poop”.

Se “Results May Vary” não é um discaço (e não é mesmo), ao menos dá a chance para que os que acusam exageradamente o Limp Bizkit de ser uma “boyband com guitarras” possam rever seus conceitos, e mostra que a banda que um dia levou nota zero de um jornalista atormentado pode mostrar muito mais do que uma simples repetição de fórmulas. Resta agora esperar para ver se essa transição terá continuidade e onde ela vai dar, mesmo porque, enquanto “produto”, “Results May Vary” deve ser um fracasso de vendas. Tomara que isso não desencoraje os caras.

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