Fazendo História

Super tênis velho

Queridinho da crônica especializada, Superguidis atualiza o indie rock dos anos 90. Publicada na Outracoisa número 19, de março de 2007. Foto: Divulgação.

superguidisNas listas de melhores do ano que pipocaram em tudo o que é canto, o Superguidis chamou a atenção. No ano passado, o grupo gaúcho foi praticamente uma unanimidade entre os críticos e encheu os olhos de quem pode vê-lo em cima de um palco. Há alguns anos, essa façanha era coisa inimaginável, considerando a origem dos meninos – eles eram de uma banda punk chamada Dissidentes – e o fato de cada metade do grupo viver separada em duas cidades: Porto Alegre e Guaíba. Só que aí eles conheceram o Pavement e tudo mudou.

Além de toda a atenção dada à banda americana mais indie dos anos 90, foi determinante a entrada de Lucas Pocamacha para dar início às mudanças que desaguariam no aclamado álbum lançado no ano passado. “As influências eram outras, mais voltadas para os anos 60, terninhos e todas as fantasias a que tínhamos direito. Depois vimos que não era isso o que queríamos, conhecemos o Pavement e acabamos virando isso”, explica o próprio guitarrista, deixando claro que está na década de 90 a fonte onde bebe o Superguidis. E isso numa época em que os anos 80 pautam o pop rock mundial. Colocar mais umas bandas no saco de referências não deixa o Lucas bravo. “Se indie é Yo La Tengo, Sonic Youth e My Bloody Valentine, pode nos chamar de indie, sim”, define ele, “mas se é Franz Ferdinand e Arctic Monkeys, então preferimos ser chamados de outra coisa”, alfineta.

Para quem não é gaúcho, o nome da banda (fruto de demorado planejamento) requer uma breve explicação. Lucas fala de novo: “Precisava ser uma coisa fácil de dizer e de lembrar, com quatro sílabas. Gostamos porque ‘guidis’ é uma gíria old school para tênis aqui no Sul, então, sem querer, acabamos cativando também a galera que usava guidis nos anos 70”. Sim, eles parecem muito interessados em conversas sobre décadas.

Além de Lucas Pocamacha, fazem parte do Superguidis Diogo Macueidi (baixo), Marco Pecker (bateria) e Andrio Maquenzi (voz e guitarra). É deste último uma das melhores músicas do álbum, “Bolo de casamento”, que o parceiro Lucas traduz com propriedade: “É uma das nossas canções ‘estou-puto-e-quero-quebrar-alguma-coisa’, fala sobre as peripécias da entrega de um bolo de casamento para alguém que não soube realmente dar valor a essa boa ação”. Andrio e seus camaradas são mestres em fazer músicas simples utilizando palavras que nunca são ditas. Que tal “Piercintagem”? Ou ainda “Malevolosidade”? No caso desta, a letra diz que eles não sabem se aquilo existe. Uma pesquisa rápida em dicionários deixa claro que, não, elas não existem. Segundo Lucas, “Malevolosidade” foi feita para soar como Foo Fighters. A bolachinha tem também “Spiral Arco-Íris”, que trata de um singelo presentinho feito com palitos de picolé… Isso sem falar em “Raio que o parta”, que abre o CD chutando a porta e rindo. “Essa é mais uma da série ‘Lucas-encara-a-música-como-uma-seção-de-terapia’”, conta o próprio, bem no seu estilo. “Eu tava meio atrapalhado com as coisas e queria que os meus problemas fossem embora, daí rolou essa música pra eles. E o pior é que essa não foi a primeira e nem vai ser a última da série”.

“Superguidis”, o badalado álbum, não é o primeiro trabalho. Antes dele, dois EPs foram lançados por conta própria: “O véio máximo”, de 2003; e “Ainda sem nome”, 2004. Neste mesmo ano, “Pacotão” reuniu os dois e ofereceu uma faixa bônus. Desse material, a banda ainda pescou duas músicas (“O véio máximo” e “O banana”), o que não significa que faltam de novas composições. “Até deixamos algumas músicas novas de fora, resolvemos regravar essas porque elas mereciam um acabamento melhor. No próximo disco, também vamos gravar outras duas. São músicas que nós gostamos e que muita gente pede nos shows”, explica Lucas, certo de que o contrato assinado com o selo Senhor F. foi uma espécie de marco para a banda.

A bocada surgiu, como de hábito, através da indicação de amigos. “O Evandro (Wilbor, baixista), da Laranja Freak (outra banda gaúcha), já conhecia a figura e nos apresentou um dia no Bar Opinião, aqui em Porto Alegre. Entregamos a master e no dia seguinte ele mandou um e-mail dizendo que estava interessado em lançar”, lembra Lucas. A “figura” a que ele se refere é Fernando Rosa, dono do selo Senhor F. e que, em Brasília, quando o assunto é bandas novas, manda prender e soltar. Com a ajuda do plebeu Philippe Seabra, Fernando não teve dúvidas e transformou a bolachinha num lançamento em CD – às vezes ele prefere só o meio virtual. O homem-história do rock nacional estava realmente certo, tanto que, além da tal unanimidade da crônica musical, o disco já está na terceira prensagem. “Estamos bem, em menos de um ano já se esgotaram as duas primeiras tiragens do disco. Isso é ótimo, já que esse é o nosso primeiro CD com distribuição nacional. Nunca achamos que seríamos indicados para tantos ‘melhores do ano’, é muito gratificante”, vibra o guitarrista.

Enquanto esta matéria está sendo lida provavelmente os quatro gaúchos já estejam trancados no Daybreak Studios, de Philippe Seabra, em Brasília. E de lá eles só saem com um novo disquinho debaixo do braço. “Temos dez novas e duas regravações programadas, a idéia é lançar o disco no meio de 2007. Não temos uma previsão muito concreta, mas lançaremos o mais breve possível”, entrega o animado Lucas Pocamacha.

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