O Homem Baile

Sem ritmo de jogo

Com repertório mal planejado, RPM apresenta músicas novas, revive bons tempos, mas vê show acabar antes do próprio fim. Fotos: Luciano Oliveira.

Paulo Ricardo mantém boa voz e boa forma, mas ao grupo RPM está faltando de entrosamento

Paulo Ricardo mantém boa voz e boa forma, mas ao grupo RPM está faltando de entrosamento

Cerca de quatro mil pessoas lotaram o Citibank Hal ontem à noite, no Rio, para ver o show de retorno do RPM. É a turnê do álbum “Elektra”, ainda inédito, mas que já tem músicas com download gratuito disponibilizadas. Famoso por apresentar novidades cenográficas nos anos 80 – como o indefectível feixe de raios laser verde, que reapareceu -, o grupo usou projeções em uma tela transparente à frente do palco e um pórtico treliçado com dois balancinhos nos quais o vocalista/baixista Paulo Ricardo e o guitarrista Fernando Deluqui subiam em alguns momentos.

Os teclados de Luiz Schiavon são marca registrada

Os teclados de Luiz Schiavon são marca registrada

As quatro músicas da nova safra dão mostras de que este novo retorno (sim, eles vão vêm várias vezes) pode ser melhor que os anteriores porque elas têm o mesmo “jeitão” daquelas que catapultaram o grupo ao sucesso no disco de esteia, “Revoluções Por Minuto”. É a mistura de teclados prog/tecnopop de Luiz Schiavon com guitarras discretas, mas eficientes quando devem ser; a bateria meio acústica, meio eletrônica de “PA”; e o vocal estiloso de Paulo Ricardo, intacto depois de tantos anos. A melhor delas é o single “Dois Olhos Verdes”, cuja sequência de teclado (quase um riff) é sintomática e cativa logo de cara. O lado ruim é que as outras três não são lá grandes composições, e a banda, no palco, parece fora de forma, pouco entrosada. O público, também, dá de ombros: é uma pena que a maioria ali ignore a nova produção do quarteto.

A montagem da ordem das músicas tampouco contribui. O show abre com a morna “Muito Tudo”, uma das novas, tem momentos de sobe e desce e só esquenta mesmo com o tema do “BBB”(!), “Vida Real”, versão feita em cima do tema do programa original, holandês. Na hora dos hits, o grupo exagera e queima todos os cartuchos no final, de modo a não deixar nada impactante para o bis. Quando percebe que a noite já tinha acabado e havia o bis a ser feito (não é possível que o plano fosse esse), a saída é repetir “Louras Geladas” e “Dois Olhos Verdes” – a fraca “Crepúsculo não conta. Vale lembrar que o bom álbum “Quatro Coiotes” foi solenemente ignorado e que músicas como “Sob a Luz do Sol” e “Pr’Esse Vício”, do fora de série disco de estréia, poderiam ter ampliado o tempo do set, que durou cerca de hora e meia.

Fernando Deluqui: sempre discreto e eficiente

Fernando Deluqui: sempre discreto e eficiente

Mas há, também, os bons momentos. Num deles, “London London”, o vocalista, no topo do palco, em um dos balancinhos, repete as cenas que causaram frisson nos anos 80, mas dessa vez os gritos são menos agudos – a média de idade do público é bastante avançada. Ao avistar o tal feixe de raio laser, impossível não entrar num looping de nostalgia oitentista, cada um com o seu, tendo as imagens em comum. É o que acontece ainda em “Flores Astrais”, dos Secos & Molhados, que marcou no show/álbum “Rádio Pirata Ao Vivo”, ainda hoje o mais vendido por um grupo de rock nacional. A versão blues/slide guitar de “Exagerado” surpreendeu pela ausência de pieguice e não decepcionaria Cazuza, a quem – claro – a música é dedicada. A dramática “A Cruz e a Espada”, por sua vez, é tocada em tributo a Renato Russo, mas aqui a lembrança é a bizarra participação “do além” do líder da Legião, registrada no álbum “RPM 2002” – uma das voltas citadas lá em cima.

O jornalista Paulo Ricardo, na pele do cantor, continua mostrando o currículo. Cita Rod Stewart na ótima “Liberdade/Guerra Fria”; “Rubie Tuesday” na fraca “Onde Está o Meu Amor”; e em “Rádio Pirata”, hoje grito de torcida do time do vocalista, faz um autêntico pout pourri, com The Doors, Led Zeppelin, mais Beatles e Stones. Na sequência matadora no final antes do fim (“Revoluções por Minuto”/“Alvorada Voraz”/“Rádio Pirata”/“Olhar 43”), o público se livra das mesas empecilhantes e parte para perder a linha na beirada do placo, num cenário amplificado do Noites Cariocas e do Mamão Com Açúcar, ambos lembrados pelo próprio Paulo Ricardo. Só um dos tantos flash backs de uma noite fadada mesmo a (boas) recordações.

Paulo 'PA' Pagni também está em boa forma

Paulo 'PA' Pagni também está em boa forma

Set list completo:

1- Muito Tudo
2- Dois Olhos Verdes
3- Vida Real
4- Louras Geladas
5- Rainha
6- Juvenília
7- Liberdade/Guerra Fria
8- A Cruz e a Espada
9- Exagerado
10- Onde Está meu Amor?
11- London London
12- Flores Astrais
13- Ela é Demais (Pra mim)
14- Revoluções por Minuto
15- Alvorada Voraz
16- Rádio Pirata
17- Olhar 43
Bis
18- Crepúsculo
19- Louras Geladas
20- Dois Olhos Verdes

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Lucas em junho 6, 2011 às 0:53
    #1

    O show foi bom e a resenha precisa de uma revisão, não só ortográfica mas também conceitual. “Balancinho” foi zoeira com o show, eu estava lá e a plataforma que os erguia era grande o suficiente. Nem shows de rock internacional possuíam a produção que vi naquele show e isso não foi citado como ponto positivo. Criar polêmica falando mal sem embasamento é fácil, lendo a resenha dá a entender que só deram bola fora.

    Um detalhe realmente ruim - e por sua vez, não citado na resenha - foi a estrutura montada para a plateia. Show de rock com mesas e cadeiras é muito desperdício de espaço, né? Sem contar que fica um clima conservador meio chato de se livrar. Não pode ficar em pé para curtir que atrapalha quem está atrás.

  2. Marcos Bragatto em junho 6, 2011 às 11:23
    #2

    Meu caro Lucas, seu problema é vocabulário e compreensão de texto.

  3. Letícia em junho 6, 2011 às 20:47
    #3

    Poxa… Pra mim é realmente muito inquietante o fato de não darem crédito a artistas como tais, de um talento fora de série. Acho que é muito fácil fazer críticas e mais críticas, sem ao menos avaliar os pontos positivos e dar ênfase a eles; em uma forma de incentivo, pois querendo ou não, todos nós, independentemente de sermos artistas, precisamos deste atributo. Ao invés de focar praticamente toda a publicação em supostos erros, por que não dar uma chance ao novo? Por que não dar uma chance a uma parcial repaginação da banda? E por falar em reais detalhes ruins, por que não citaram a presença das mesas ao invés de uma pista, que seria irrevogavelmente melhor? Outro aspecto de grande relevância, é o fato de como o brasileiro só dá valor ao que vem de fora. Posso citar, como exemplo, Paul McCartney, Bon Jovi, U2, Rolling Stones, etc… Sem dúvida artistas inquestionavelmente fantásticos, mas que quando estão em turnê, atraem um público com faixa etária mais avançada, como citado no texto acima, mas nem por isso ninguém os considera obsoletos, já com relação a artistas brasileiros a história muda de figura. Mas eis a questão que não quer calar: por que somente enaltecer o internacional? Temos diversos prodígios nacionais, como Ira!, Titãs, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Engenheiros do Hawai, Biquini Cavadão, etc… que simplesmente são “jogados para escanteio”. Eu, particularmente, sei como dosar as coisas, as colocar na balança, pois sou uma amante da música estrangeira, mas também uma grande apreciadora de tesouros nacionais, como o RPM. Concordo com o Lucas, acho que falar mal sem embasamento é complicado.

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