O Homem Baile

Brutal

Na véspera do “fim do mundo”, um enfurecido Matanza apresenta disco novo num dos maiores e melhores shows de sua história. Fotos: Luciano Oliveira.

O vocalista Jimmy pede aos céus uma dose a mais, antes que o mundo acabe em country hardcore

O vocalista Jimmy pede aos céus uma dose a mais, antes que o mundo acabe em country hardcore

Mais de mil camisetas pretas cantando músicas à capela à espera da entrada de sua banda preferida no palco não é uma cena muito comum, ainda mais em se tratando de rock nacional, e dos mais pesados. Foi essa a recepção que teve o Matanza, ontem, no Rio, em um Circo Voador que jorrava gente pelo ladrão. Era o lançamento do disco mais recente dos caras, o excepcional e ao mesmo tempo indigesto “Odiosa Natureza Humana”, que já nasceu fadado a cair no gosto do público da banda. Ao todo, foram oito das novas, quase todas cantadas em uníssono pela plateia, que passou as quase duas horas de show agitando sem parar – era pé na porta e soco na cara o tempo todo, sem, no entanto, nenhum registro de violência que não fosse, digamos, estética.

Jimmy agita enquanto o guitarrista Maurício sola

Jimmy agita enquanto o guitarrista Maurício sola

Mas quase não foi assim. Ávidos por repreender os mais afoitos que queriam dar mosh do palco, seguranças exageraram na mão e o vocalista Jimmy, logo em a “Arte do Insulto” – vejam vocês -, se valeu de um inédito discurso anti-mosh e a favor da repressão, controlando as coisas. “Vocês vieram aqui pra ver show de segurança pegado neguinho ou pra ver o show do Matanza?”. Foi o suficiente para que nenhum problema acontecesse dali em diante. Público bom é assim: o mestre diz a gente obedece. Não que houvesse muito tempo para raciocinar. Logo de cara são encaçapadas goela abaixo umas nove porradas em sequência, sem tempo para boa noite ou qualquer firula. Destaque para a fusão da nova “Ela Não Me Perdoou” com “Bebe, Arrota e Peida”. E aí vem o tradicional cumprimento do grandalhão: “Puta que pariu, Circo Voador!”.

Das músicas novas, nem todas funcionam tão bem assim ao vivo. A boa “Tudo Errado”, por exemplo, que em disco em um sotaque pop com batida dançante, passa despercebida na avalanche de peso e velocidade na qual é inserida. Talvez por isso é que músicas boas, mas não tão nervosas do álbum novo, como “A Menor Paciência”, “Saco Cheio e Mau Humor” e “Amigo Nenhum” tenham sobrado no repertório do novo show – uma pena. Não há, no entanto do que se reclamar: em quase duas horas de show são trinta e tantas músicas, incluindo até algumas do álbum tributo “To Hell With Johnny Cash”, “as únicas em que nós não falamos bobagens”, segundo Jimmy. O vocalista continua mandando bem no repertório de boas sacadas, tirando sarro dos outros integrantes e até do público, muito embora às vezes pareça ser tudo ensaiadinho demais.

O baixista China (atrás), Jimmy e Mauríicio

O baixista China (atrás), Jimmy e Mauríicio

Entre as novas que colam ao vivo estão “Respeito ao Vício”, “Remédios Demais” e “Odiosa Natureza Humana”, sendo que as duas últimas já vêm sendo tocadas nos shows desde o ano passado. Mas o público se refestela é quando os primeiros acordes das preferidas são reconhecidos, bem no comecinho. Acontece com “Eu Não gosto de Ninguém” (até pela identificação público/banda); na milagrosamente cadenciada “Santanico (Parte 1)”, readmitida no repertório; na impagável “Bom é Quando Faz Mal”; e na emocionante “Tempo Ruim”, outro momento raro de baixa rotação. E a reta final acelera tanto que leva o público ao delírio com as unânimes “Eu Não Bebo Mais” (que tira o fôlego de Jimmy) e “Ela Roubou Meu Caminhão”. Com o disco novo, o Matanza não só amplia o repertório dos shows como impõe um novo sentido para o que antes se definia por peso e velocidade. Numa palavra? Brutal.

Mas a noite era da festa A Grande Roubada, que teve, além de cuspidores de fogo, mágicos e os quilinhos a mais da desejada Sweetie Bird, outras duas bandas. O Gangrena Gasosa, que segue a sina de trocar de integrantes como quem veste as fantasias do saravá metal, fez um excelente show. Pela primeira vez se viu um público renovado com gente mais nova cantando tudo de cor e alteado. Zé Pelintra, figuraça, não deixou por menos ao anunciar a jocosa “Quem Gosta de Iron Meiden Também Gosta de KLB”, convertendo o título em “Quem gosta de Angra também gosta de Parangolé”. Já Omulu, o outro vocalista, bradava por Satanás e garantia: “ele não vai pegar vocês, não, tão com medo de que? Rock é do diabo!”. O show agradou geral e patrocinou rodas de pogo o tempo todo. Mais cedo, o Cabrones Sarnentos reuniu um bom público na abertura. O grupo, mistura de Motörhead com psychobilly, é bom e mostra cada vez mais entrosamento - mas caminho é longo.

Gangrena Gasosa: público renovado

Gangrena Gasosa: público renovado

Set list completo Matanza
(a conferir):

1- Remédios Demais
2- Ressaca Sem Fim
3- Meio Psicopata
4- Rio de Whisky
5- Ela Não Me Perdoou
6- Bebe, Arrota e Peida
7- Bom é Quando Faz Mal
8- A Arte do Insulto
9- Santa Madre Cassino
10- Melhor Sem Você
11- Tombstone City
12- Tudo Errado
13- Eu Não Gosto de Ninguém
14- Todo o Ódio da Vingança de Jack Buffalo Head
15- Respeito ao Vício
16- Whisky Para Um Condenado
17- Interceptor V-6
18- Carvão, Enxofre & Salitre
19- Santanico (Parte 1)
20- O Chamado do Bar
21- Cover Johnny Cash
22- Cover Johnny Cash
23- Odiosa Natureza Humana
24- Tempo Ruim
25- Pé na Porta e Soco na Cara
26- Clube dos Canalhas
27- Imbecil
28- Maldito Hippie Sujo
29- Conforme Disseram as Vozes
30- Ela Roubou Meu Caminhão
31- Eu Não Bebo Mais
32- Estamos Todos Bêbados
33- Interceptor V-6

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Desirée Mossi em maio 25, 2011 às 17:39
    #1

    Marcos, já assisti uns 5 ou 6 shows do Matanza, e te digo com toda certeza, o show de sexta-feira, 20/05, foi o melhor de todos, Matanza se superou em tudo, estava tudo lindo!

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