O Homem Baile

Alegria, alegria…

Depois de 30 anos sem dar as caras, Mötley Crüe mostra ao Brasil o peso do hard rock oitentista em noite de inesperada unanimidade por parte do público. Fotos: Daniel Croce.

O vocalista Vince Neil comandou a festa do Mötley Crüe com um hard rock pesado e contagiante

O vocalista Vince Neil comandou a festa do Mötley Crüe com um hard rock pesado e contagiante

Se tivesse vindo ao Brasil no auge da forma, nos anos 80, uma banda espalhafatosa como o Mötley Crüe teria sido seguramente achincalhada por público e mídia. Mas ontem, no Credicard Hall, em São Paulo, o grupo recebeu um aval unânime de gregos e troianos e revelou, com um hard rock pesado e de refrões contagiantes, que está na história do rock pesado com todos os méritos que o tempo, aos poucos, avaliza. Com um repertório curto, porém certeiro, em pouco menos de hora e meia o quarteto californiano viu uma plateia entusiasmada lhe prestar todas as honras reservadas aos clássicos do rock.

Tommy Lee: uísque distribuído para o público

Tommy Lee: uísque distribuído para o público

O show ainda é, oficialmente, o da turnê do álbum “Saints of Los Angeles”, de 2008, com o palco temático que inclui pedestais customizados e o microfone de Vince Neil todo cravejado de brilhantes. Curioso ver a fauna de fãs que se veste exatamente como o grupo, lá pelos idos de 1987, já que os integrantes, hoje, podem ser considerados “discretos”. Neil, que outro dia cumpria pena por dirigir embriagado, mantém a boa voz que marcou os grandes momentos do Mötley Crüe; eles começam a aparecer em “Shout At The Devil”, a quarta da noite. Malandro, o grupo entra à mil por hora e emenda quatro petardos seguidos sem dizer nada, num arregaço incomum nos nossos tempos. Em “Live Wire”, de forte sotaque punk, uma roda e pogo é ensaiada entre expressões de alegria que brotam dos semblantes mais fechados. Quando Vince Neil, o guitarrista Mick Mars e o baixista Nikki Sixx se aproximam da beirada do palco, em “Same Ol’ Situation”, o público enlouquece de vez.

De lá de trás, onde toca numa batera com algumas peças gigantes – cujo valor é mais imagético que sonoro – Tommy Lee, incorrigível, vai pra frente entreter o público com uma garrafa de uísque e volta para tocar um pianinho na babíssima “Home Sweet Home”, talvez a única da noite que não teve um efeito devastador sobre o público. Longe de ser broxante, a música deixa Mick Mars, que ostenta uma cartola e um visual hoje mais identificado com o gótico do que com o hard rock, à vontade para repetir todos os clichês do rock numa só música. O solo que ele faria mais tarde, para dar outro refresco à turma, tampouco acrescentou algo. Até o grito de olê-olê-olê repetido pelo público o velhusco decalcou – Mars é tido como o mais cansado entre os quatro e o responsável pelo show ser tão curto.

O baixista Nikki Sixx e o guitarrista Mick Mars

O baixista Nikki Sixx e o guitarrista Mick Mars

Já “Don’t Go Away Mad (Just Go Away)”, de andamento cadenciado, mas longe de ser uma balada, foi um das que a platéia mais participou, e deu a oportunidade de Mick Mars se redimir numa bela intervenção. Ele foi bem também em “Dr. Feelgood”, mas aí o que atrapalhou foi o som da casa, que deve aumentar com urgência a altura do palco e/ou implantar os desníveis no isso que garantem boa visibilidade a todos. O refrão de “Ten Seconds to Love” colou feito chiclete no rosto que cantava cada verso sem medo de ser feliz. A música foi a única mudança no repertório apresentado no Chile, sábado passado, ao entrar na vaga de “To Fast For Love”. Em “Girls Girls Girls” foi a vez das meninas subirem nos ombros dos rapazes para colocar as manguinhas de fora, ou, por outra, os peitos pra fora. A mais exaltada evitou até o sutiã e foi advertida por um segurança estraga prazeres a se recompor.

As duas últimas músicas, divididas por um intervalo de uns cinco minutos do bis, foram espécie de síntese do show e do próprio Mötley Crüe. Os riffs pesados e barulhentos de “Kickstart My Heart” e “Looks That Kill”, tocadas no talo; a performance de um frontman raro na história do rock; os refrões colantes e de fácil aceitação que revelam a qualidade das composições; e, sobretudo, a capacidade de entreter da banda como um todos se refletiram na expressão alegre e feliz de quem lavou a alma numa grande festa do rock’n’roll. De hoje em diante - está implicitamente acertado - nossos escribas jamais voltarão a citar o refogado feito a partir de condimentos gordurosos para se referir ao hard rock do Mötley Crüe. Sob pena de ser ignorado.

Vince Neil toca guitarra em 'Same Ol’ Situation'

Vince Neil toca guitarra em 'Same Ol’ Situation'

Antes, o Buckcherry pecou pelo excesso. Não das tatuagens que transformam o tronco do vocalista Josh Todd num verdadeiro mostruário, mas não se pode fazer um show de abertura com uma hora de duração, sendo que a atração principal toca hora e meia. O grupo existe há mais de dez anos e tem bom repertório, cantado por muita gente no meio do público. Além de Todd, convertido em “Serguei de Saquarema” por um punhado de gozadores, quem carrega o grupo nas cotas é o guitarrista Keith Nelson, que sola em quase todas as músicas. Destaque para o duelo de guitarras em “All Night Long”, o bom refrão de “It’s a Party” e a desnecessária baladaça “Sorry”, que ,tocada no final do set, bem poderia ter sido limada.

Set list completo Mötley Crüe

1– Wild Side
2– Saints of Los Angeles
3– Live Wire
4– Shout At the Devil
5– Same Ol’ Situation
6– Primal Scream
7– Home Sweet Home
8– Don’t Go Away Mad (Just Go Away)
9- Solo de guitarra Mick Mars
10- Dr. Feelgood
11– Too Young To Fall In Love
12– Ten Seconds to Love
13– Smokin’ In The Boys Room
14- Girls Girls Girls
15– Kickstart My Heart
Bis
16– Looks That Kill

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. daniel croce em maio 19, 2011 às 1:15
    #1

    Bragattones, o Tommy Lee ofereceu jagermeister e não whisky

  2. giselle em junho 6, 2011 às 19:06
    #2

    Você só esqueceu de citar Primal Scream, que rolou no final.

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