O Homem Baile

Força bruta

Em noite concorrida, Kid Abelha reaparece em turnê comemorativa tocando os sucessos da carreira. Fotos: Luciano Oliveira.

Em boa forma, Paula Toller liderou o Kid Abelha em noite marcada pelos sucessos da carreira do grupo

Em boa forma, Paula Toller liderou o Kid Abelha em noite marcada pelos sucessos da carreira do grupo

Até Paula Toller se surpreendeu com a maciça presença de público no Citibank Hall, ontem, no Rio. Quatro anos distante dos palcos e seis sem lançar nada de novo, o Kid Abelha reaparece com duas músicas novas, numa turnê de aniversário de 30 anos que arrebanhou cerca de 3500 pessoas sentadinhas, no maior estilo música de churrascaria. Ao menos até o bicho pegar no final do set. “Que bom que vocês vieram nesse início de frio… vamos ter uma noite quente, vamos cantar, tocar e brilhar”, disse a cantora, logo depois da primeira música.

O trio posicionado na frente de um dos telões de led

O trio posicionado na frente de um dos telões de led

O brilho a que ela se referia não está apenas no título de uma das novas (“Glitter de Principiante”), mas também no palco produzido com dois telões em led. Um ao fundo e outro no meio do palco, separando os músicos de apoio da banda propriamente dita - além de Paula, George Israel e Bruno Fortunato. O movimento do telão do meio, subindo e descendo, somado às projeções, deu um efeito simples dos mais interessantes. O figurino discreto (brega até) de Fortunato e Israel realça o brilho de Paula Toller, esbanjando impecável forma física, aos 48. Mas não é só de belas pernas que vive a cantora. Em “Dizer Não é Dizer Sim”, por exemplo, leva a voz a um alcance inesperado; em “Garotos”, cita “Loiras Geladas” e imita o vocal forçado de Paulo Ricardo; e se emociona ao citar “Amanhã é 23” como um elo de “intimidade” com o público.

O repertório é irregular – a carreira do grupo também – e tem equívocos pontuais. Do disco mais recente, o bom “Pega Vida”, só entrou uma música, “Peito Aberto” (há outras melhores, como a faixa-título ou “Por Que Eu Não Desisto de Você”); o clássico oitentista “Lágrimas e Chuva” ganhou versão acústica (a plugada é melhor); a “Educação Sentimental” boa é a I, mas eles tocaram a II; e a terrível dobradinha reggae “Na Rua Na Chuva Na Fazenda” (do Hyldon)/“Eu Só Penso Em Você” quase jogou tudo por água abaixo. Mas há muitos acertos também, como na escolha dos músicos da banda de apoio, que inclui o baixista Marcelo Granja (ex- Engenheiros da Hawaii) e o preciso Adal Fonseca, na bateria. E, a bem da verdade, é impossível tantos hits passarem em branco num show.

Bruno Fortunato e George Israel agitando

Bruno Fortunato e George Israel agitando

As duas novas apresentadas se opõem. “Glitter de Principiante” é mais pesada e tem, ao mesmo tempo, a cara do Kid Abelha dos anos 80, com o carimbo do saxofone de Israel. Ora, se a década serve de inspiração para dezenas de bandas novas por que não para quem esteve lá? A outra, “Veio do Tempo”, é uma baladinha daquelas de “compor o elenco”, cheia de violões, mais parecida com a carreira solo do próprio George Israel. São recebidas de modo contemplativo pela plateia, que quer mesmo é ver a banda tocando blockbusters como “Lágrimas e Chuva”, senha para a invasão da frente do palco pelo “bonde do abelhão sem freio”, nas palavras de Paula Toller. Se acústica, e com citação a “Year Of The Cat”, de Al Stewart, já causou frisson, imaginem se fosse com guitarras…

Ainda mais que o limitado Bruno Fortunato aprontou em várias partes do show. Solou horrores no final de “Eu Tive Um Sonho”, em “Amanhã é 23” e na ótima “Fixação”, que mostrou uma impagável caveirinha dançando no telão. Em algumas músicas, como “Peito Aberto”, Bruno ainda sacou um dedal do bolso para fazer uma slide guitar em grande estilo. No bis já não havia mais mesa e cadeira que desse conta da empolgação do público. A bela “Como Eu Quero” e “Alice (Não Me Escreva Aquela Carta de Amor”), tocadas na versão em que foram gravadas, permitiram o acompanhamento de todos e mexeu com Paula Toller, que agradeceu muito no final, dando a entender que um segundo bis poderia ser tirado da cartola. Não rolou. Depois de apresentar a banda, tudo virou festa com “Pintura Íntima” e as indefectíveis levadas de sax de George Israel. Com pouco esforço, o Kid Abelha sentiu a força bruta de um repertório consagrado.

O visual 'glitter' arrojado de Paula Toller

O visual 'glitter' arrojado de Paula Toller

Set list completo:

1- Nada Sei
2- No Seu Lugar
3- Educação Sentimental II
4- Glitter se Principiante
5- Como é Que Eu Vou Embora
6- Na Rua Na Chuva Na Fazenda
7- Eu Só Penso Em Você
8- Dizer Não é Dizer Sim
9- No Meio Da Rua
10- Amanhã é 23
11- Grand Hotel
12- Veio Do Tempo
13- Garotos
14- Peito Aberto
15- Lágrimas e Chuva
16- Eu Tive Um Sonho
17- Seu Espião
18- Fixação
19- Te Amo Pra Sempre
Bis
20- Maio
21- Como Eu Quero
22- Alice
23- Pintura Íntima

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. alexandre paula em maio 15, 2011 às 18:04
    #1

    Ainda que não seja fã do Kid Abelha tenho de reconhecer que a Paula está linda, linda, linda. =))

  2. Leonardo de Castro Alves em maio 16, 2011 às 10:57
    #2

    Realmente o show foi maravilhoso, como fã e seguidor do grupo há 15 anos, posso dizer que esse foi um dos melhores que já estive, e olha que não foram poucos nesses 15 anos. Literalmente, o Kid “Veio do Tempo” com muito “Glitter de Principiante”.

  3. Erick Rabello em maio 16, 2011 às 21:58
    #3

    Kid Abelha é daquelas bandas que virou instituição. Impossível não ir a um show e não se divertir. Com todos os altos e baixos, eles venceram 30 anos na estrada. Não é toda banda que completa essa idade com um público renovado. Admiro-os justamente pela simplicidade pop das canções. Nunca tiveram pretensão de ser a maior banda pop do país. Conseguiram isso com a ajuda dos fãs e das rádios.
    Difícil é ver alguma banda, hoje em dia, repetir esse feito.

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