O Homem Baile

DNA diversidade

Com uma programação que é a cara do festival, o domingão do Abril Pro Rock agradou a todos; show visceral de Karina Buhr, simpatia de Arnaldo Antunes e carisma de Tulipa Ruiz marcaram a noite. Fotos: Rafael Passos/Divulgação.

A pequenina e agitada Karina Buhr mais parecia um 'Iggy Pop glitter' na última noite do Abril Pro Rock

A pequenina e agitada Karina Buhr mais parecia um 'Iggy Pop glitter' na última noite do Abril Pro Rock

A variedade de gêneros e estilos no dia do encerramento não chega a ser novidade no Abril Pro Rock, que caminha para comemorar as vinte primaveras em 2012. Mas nesse ano, a programação – que no papel parecia fria – se revelou bastante acertada, para deleite de um público estimado pela produção em 5 mil pessoas, quase superando o da noite do metal, que abalou as estruturas do Chevrolet Hall, na sexta. Ontem, não; nada de camisas pretas suadas: saiu a segmentação e entrou a diversidade.

Tulipa e Jeneci fazem o par romântico/fofo

Tulipa e Jeneci fazem o par romântico/fofo

Não que o rock não fosse bem representado, a começar pela surpreendente Karina Buhr. De líder de grupo de sonoridade regional-lugar-comum Comadre Fulozinha, a moça surge no palco como uma espécie de versão feminina de Iggy Pop glitter. Disposta a dar o sangue no palco e escorada por uma bandaça que tem Edgar Scandurra e Fernando Catatau nas guitarras, a cantora não pára um momento sequer, seja se rastejando feito iguana (olha o Iggy aí de novo), ou quicando no centro do palco. Já na terceira música, como o sugestivo título “Solo de Água Fervente”, Scandurra e Catatau solam que é uma beleza. Fora do Cidadão, cujo som é repleto de efeitos, o guitarrista vai muito mais além com seu instrumento de origem. Em “Mira Ira” uma verdadeira muralha de guitarras explode sobre o público, num riff duplamente carregado de distorção, e o final, com “Nassiria e Najaf” parece mesmo um apocalíptico fim do mundo. Numa palavra: visceral.

Tulipa Ruiz, que antecedeu Karina, não tem o peso do rock, mas é gosto comum entre a platéia de Recife. Impressionante como as músicas são cantadas, se consideramos que o único disco da cantora saiu no final do ano passado; e não era só em “Efêmera” que isso acontecia. A cantora comemorou a estreia no APR relembrando dos tempos em que, aos 17, tirava onda usando uma camiseta do festival enviada por um amigo. Escoltada por uma boa banda – que inclui o guitarrista Luiz Chagas (dos tempos de Itamar Assumpção) Tulipa ganha o público pela simpatia e espontaneidade, com um repertório que é, sim, bom, mas irregular. Em “Dia a Dia”, Marcelo Jeneci tocou acordeão, cantou e fez par romântico/fofo com Tulipa. Nem precisava, né?

Doreen Shaffer no feeling do Skatalites

Doreen Shaffer no feeling do Skatalites

Jeneci é o responsável pelos teclados da fase brega/jovem guarda de Arnaldo Antunes, que tem Edgar Scandurra fazendo dupla jornada, na sequência do show de Karina Bhur. Enquanto o guitarrista se ajustava ao figurino terninho Beatles, o incrível telão do Chevrolet Hall homenageava Lula Côrtes, notório propulsor de rock na mpb, que faleceu recentemente. Arnaldo é de uma simpatia só, e em “Consumado” chega a descer para cantar no meio da platéia, que continua cantando tudo. O astral da noite é tão bom que todos os shows parecem ser, cada qual a seu modo, os preferidos do público. Em “Envelhecer”, Ortinho (lembram do Querosene Jacaré?) faz de tudo para participar, mas é sabotado pelo microfone desligado na maior parte do tempo. Entre belos solos de Scandurra, o final reserva lembranças de Odair José, com “Quando Você Decidir”, e de Beth Carvalho, com “Vou Festejar” (“você pagou com traição…”), para delírio geral. Não precisava, mas ver um clássico do samba convertido em rock tem lá um gostinho de vingança.

Sem medo de ser feliz, o Eddie entrou no palco já tocando seu maior sucesso, o hino do Recife “Quando a Maré Encher”. O suingue daquilo que eles chamam de “Olinda original style” logo contagia o público e a dança rola solta no meio do salão. A façanha nem é tão difícil assim, se consideramos a vocação do povo de Recife para o rebolado, mas o Eddie é um verdadeiro clássico. No final, Karina Bhur, que deveria estar conectada a um balão de oxigênio, reaparece para participar em uma das músicas. Àquela altura, a coisa parecia que ia ficar ruim para o Skatalites, escalado para o encerramento do festival no início da madrugada de segunda. Qual nada. O público não tirou o pé do Chevrolet Hall, a não ser para pular ao som de uma verdadeira orquestra de ska. Depois de vários números instrumentais, Doreen Shaffer assumiu os vocais e deu um up grade no repertório, incluindo uma versão pra lá de roots de “Nice Time”, de Bob Marley. No final, “Guns Of Navarone” mais parecia um hit de FM local, ao levantar o público pra valer.

Chicha Libre: ecumenismo musical e universal

Chicha Libre: ecumenismo musical e universal

Quem iniciou a dança de salão, mais cedo, foram os ecumênicos do Chicha Libre. O grupo é do Brooklin, mas todos são branquelos azedos que falam francês e tocam músicas que se referem a ritmos dos lugares mais distantes, dos Andes ao Oriente Médio, do tema do desenho animado “Os Simpsons” à Amazônia. Todas têm um sotaque latino misturado com trilhas de faroeste e surf music de raiz. Ou seja, prato cheio para os dançarinos vocacionais da animada platéia. Na abertura, ainda com o público chegando, o Feiticeiro Julião chamou mais a atenção por conta da – dizem - presença do papai, o Senador Humberto Costa. A também local Mamelungos mostrou que tem que se esforçar muito para não ser só uma banda de baile, mas não precisa apelar para a loshermanice, né? O mico da noite, no entanto, ficou com a antibanda Holger. O Vampire Weekend do Tietê é seguramente uma das piores coisas que subiu num palco desde o advento do espetáculo. Fazer dos animados recifenses um painel apático foi o grande feito da turminha sem noção.

O Abril Pro Rock continua durante todo o mês, no APR Club - saiba mais aqui.

Veja como foi a primeira noite do Abril Pro Rock

Veja como foi o show do Misfits no Abril Prock

Veja como foi a segunda noite do Abril Pro Rock

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Marcos em abril 18, 2011 às 21:31
    #1

    Momentos marcantes. Desde os ‘vampirecos’ do Tietê, passando pela moça simpática com nome de flor, pela ex-florzinha, um senhor enxuto cantando musicas do cabeludo careca Odair José a um rock’n do Eddie. Astral sensacional! Novas amizades.
    Grande abraço, broder!

  2. Adelvan em abril 19, 2011 às 17:14
    #2

    Edgar Scandurra e Fernando Catatau na mesma banda??!! Impressionou. Bela resenha. Eddie é foda, classico dos clássicos. Gostaria de ter comparecido, mas aquele buraco no sábado me quebrou, precisava estar em Aracaju na segunda.

  3. MarcoDeDé em abril 19, 2011 às 18:12
    #3

    Pô galera, falar que Mamelungos é parecido com Los Hermanos é algo tão fácil de se dizer, porém não tem nada a ver… será possível que toda banda que use metais agora vai ser rotulada de ser uma loshermanice?

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