O Homem Baile

Recordar é viver

Em noite de celebração do thrash metal, D.R.I. revive primórdios do crossover no Abril Pro Rock; Desalma e Torture Squad são destaques entre os brasileiros. Fotos: Rafael Passos/Divulgação.

O vocalista Kurt Brecht e o batera Rob Rampy: quilinhos a mais não atrapalham o desempenho do DRI

O vocalista Kurt Brecht e o batera Rob Rampy: quilinhos a mais não atrapalham o desempenho do DRI

Não fossem os quilinhos a mais dos integrantes do DRI, e parecia que estávamos todos nos anos 80, na Bay Area californiana (ok, a banda é do Texas), ou mesmo nos 90, quando o thrash metal chegou com certo atraso ao Brasil. Peso extra que não atrapalha em nada a performance do quarteto, que conta com dois integrantes da formação original: o vocalista Kurt Brecht e o guitarrista Spike Cassidy. Peso, também, é o que não falta nos riffs alucinantes que eles aprenderam com gente como o guitarrista do Slayer, Kerry King, para fazer daquele hardcore ordinário o tipo de som que seria batizado de crossover – e o termo, a partir dali, seria usado para descrever qualquer coisa entre que se fizesse entre um subgênero qualquer e outro.

Derrick Green: muito papo e pouco entrosamento

Derrick Green: muito papo e pouco entrosamento

Por essas e outras o show do DRI, ontem, no Abril Pro Rock, soou como aula de história do rock, do hardcore, do metal. O riff marcado que introduz longamente “Acid Rain”, por exemplo, define tudo em alguns segundos, e o púbico responde à altura. Em “Argument The War”, a roda se expande a ponto e atingir a lateral do outro palco – são dois, lado a lado. “Madman”, que homenageia o pai de Brecht, responsável pelo batismo do grupo ao cunhar a frase “dirty, rotten and imbecils” (sujos, podres e imbecis, em português), é outra que se destaca no set list de cerca de uma hora, o suficiente para a inclusão de 17 porradas que permanecem vivinhas da Silva. Havia outras seis músicas para o caso de o grupo precisar, mas as duas guardadas para o final deram conta do recado: o clássico “Violent Pacification”, e “Five Year Plan”, que tem o verso/mantra “I lose, you win” repetido pelo resto da noite.

Não foi ao acaso que o vocalista do Violator, Poney Ret (é isso mesmo?), lembrou de quando fez a tatuagem do logo do DRI no braço. A imagem do bonequinho pogando ganhou a pele de tudo que é fã de metal por esse mundão. Só que a banda chave para entender o Violator é o Nuclear Assault, e o gênero é mesmo o thrash metal, o de raiz. O grupo mostra o decalque não só nas músicas, repletas dos artifícios do gênero (longas intros, maratonas de guitarras, mudanças de andamento), mas também num caprichado visual retrô que inclui as calças pretas de boca apertada e a cabeleira desconjuntada. “É a volta da espontaneidade”, acredita o vocalista. Um pouco de criatividade cairia bem, mas quem falou que eles querem isso?

Vitor Rodrigues, do Torture Squad

Vitor Rodrigues, do Torture Squad

Os caras do Desalma e do Torture Squad querem, e muito. O Desalma é uma grata revelação local que levou as referências do thrash e do death metal a um patamar de agressividade inacreditável. O peso das músicas dos rapazes – que tocaram por cerca de meia hora e, por serem locais, tiveram pouco público agitando – está chegando às raias do absurdo, do exagero, do descomunal. A alternância de vocais rasgados e guturais (sim, são diferentes aqui) e a colaboração do baterista com o guitarrista nos vocais garantem um acabamento surpreendente. “Desalmo”, sinistra ao extremo, e de inabalável precisão, é a faixa símbolo dessa promissora banda.

Precisão é o que define o Torture Squad, grupo está em num outro estágio, a ponto de precisar de certa renovação. Talvez a estreia do novo guitarrista, André Evaristo, contribua no processo. Nada que tenha atrapalhado a boa apresentação do grupo, cujo thrash metal já se desenvolveu para outros rumos; o som é contemporâneo, não revivalista. O refrão de “Raise You Horns”, a conhecida “Horror & Torture”, que agita o público com ferocidade, e o final com “The Unholy Spell” resumiram o status atual de um grupo que olha para a proa do barco.

Baterista do Desalma: revelaçao com peso absurdo

Baterista do Desalma: revelaçao com peso absurdo

Como “banda do vocalista do Sepultura”, espera-se muito mais do Musica Diablo. A base sonora do grupo é o thrash metal (novidade…), tocado por integrantes cascudos que se garantem na hora em que o bicho pega. Derrick Green, de seu lado, “canta” mais do que faz no Sepultura, talvez em busca de um diferencial. Os melhores momentos, no entanto, acontecem nos solos dobrados dos guitarristas xarás André Nitrominds e André Curci, e nas evoluções do baterista (e animal) Edu Nicolini. Os piores são as “falas” em português de Derrick em cada intervalo, no maior estilo “mano”. No final das contas, a impressão que fica é que eles precisam ensaiar muito mais para encontrar a tal química que – dizem – toda banda precisa.

Clique aqui para ver como foi o show do Misfits no Abril Pro Rock.

O Abril Pro Rock continua hoje, no APR Club, com as bandas Boss in Drama, MiM e Voyeur, e vai até o final do mês, sempre nos finais de semana – saiba mais aqui.

Set list completo DRI:
1- Snap
2- I’d Rather Be Sleeping
3- Acid Rain
4- The Application
5- Commuter Man
6- Thrashard
7- Who Am I
8- Slumlord
9- Suit and Tie Guy
10- I Don’t Need Society
11- Madman
12- Couch Slouch
13- Argument Then War
14- Abduction
15- Nursing Home Blues
16- Violent Pacification
17- Five Year Plan

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Adelvan em abril 17, 2011 às 10:53
    #1

    Excelente como sempre. Te vi lá na área de imprensa. Pense num cabra concentrado !

  2. Hugo Montarroyos em abril 17, 2011 às 11:28
    #2

    Eu respeito uns cinco jornalistas no mundo, e o Bragatto é um deles. Aliás, ele nem sabe, mas fiz jornalismo por causa do André Forastieri, Alex Antunes e Marcos Bragatto… só isso

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado