O Homem Baile

Anotou a placa?

Em show devastador, Misfits massacra público do Abril Pro Rock com um repertório de 32 músicas em pouco mais de uma hora. Fotos: Rafael Passos/Divulgação.

O animadinho Jerry Only mandou logo um 'bota pra fuder' em bom português pra incendiar geral

O animadinho Jerry Only mandou logo um 'bota pra fuder' em bom português pra incendiar geral

Depois de mais de cinco horas de paulada na moleira, poucos acreditavam que a noite de estréia do Abril Pro Rock, ontem (15/4), no Chevrolet Hall, no Recife, ainda tinha o que mostrar. Eis que surge o Misfits, direto das catacumbas do rock, passando por cima de todos sem pedir licença. O trio, cascudo, não quis muita conversa e aplicou altas doses de rock’n’roll do bom e concentrado. Para quem não sabe, o trio (no início eram quatro) é uma espécie de Ramones dos quintos dos infernos que mistura punk rock de raiz, psychobilly, rockabilly e o escambau, sob uma temática de horror denunciada já nos figurinos. Não se engane: a cara de defunto do guitarrista Dez Cadena se perpetua desde muito antes do black metal surgir lá nos cafundós da Europa nórdica. Não por acaso a imagem cadavérica da banda é um dos ícones mais reconhecidos pelo imaginário inconsciente do rock em todos os tempos.

O batera Robo e sua famosa dentição

O batera Robo e sua famosa dentição

O manda-chuva, porém, é o baixista/vocalista Jerry Only, que tem até um curioso assistente para lhe despejar gelo no “vão” entre o pescoço e a sinistra jaqueta, toda estilizada – imagine o dia em que ele vir ao Brasil em pleno verão. Antes de “Hybrid Moments”, ele mostra intimidade ao usar o grito de guerra do bom e velho Camisa de Vênus: “bota pra fuder!”. Não é a primeira vez do grupo no Brasil, mas a estreia no Recife, e, por extensão, no Nordeste, é de arrebatar. “Astro Zombies” puxa o típico cantarolar do público, que resgata uma carga extra de energia, mantendo quase que por todo o tempo a imensa roda no estilo local, com um seguindo o outro, numa fila indiana from hell andando em círculos.

Cadena já integrou as fileiras do pioneiro do punk/hardcore americano Black Flag, e é ele quem canta em “Six Pack”, de sua ex-banda, dedicada a um integrante da platéia, apontado com o com o dedo: “é, você mesmo!”. A respirada ajudou a Only mandar duas porradas coladinhas: “Horror Hotel” e “Hollywood Babylon”, num dos melhores momentos do show. Nadas que superasse, mais tarde a clássica “American Psycho”. A introdução lenta, sinistra, é a senha para que – aí, sim - o público se acabe de vez. Chamar a singela canção de “clássica” até que não ajuda muito, ante a um repertório incrível que contagia até que não está familiarizado com o trio. Ainda mais quando vêm à tona as batidas fáceis do rock dos anos 50 que o trio capta tão bem, com o necessário acréscimo de peso do batera Robo, mais um que já passou pelo Black Flag.

O 'defunto' Dez Cadena também canta

O 'defunto' Dez Cadena também canta

Outro momento de verdadeiro frenesi, curiosamente, é em “Helena”, uma das poucas façanhas pop (ao menos até a página 2) do Misfits, mas havia no ar uma certeza não correspondida. Faltava o grupo retribuir a gentileza ao Metallica, que deu um gás na carreira deles ao gravar covers para nada menos que três músicas: “Last Caress”, “Green Hell” e “Die Die My Darling”. O encerramento em grande estilo, com “We Are 138” matou a pau, e deixou para o final do bis “Rise Above”, outra do Black Flag, e (desejos quase atendidos) “Die, Die My Darling”. Em cerca de uma hora e dez minutos de show, o Misfits atropelou, numa noite memorável. Alguém aí anotou a placa?

O Misfits volta a tocar hoje, em São Paulo, na Virada Cultural (show de graça), e no Rio, no domingo, no Circo Voador - veja os detalhes aqui. Neste final de semana, os vivos sairão de suas casas, e, os mortos, de suas catacumbas: todos estarão lá.

Em pouco mais de uma hora o Misfits atropelou o público na noite de etreia do Abril Pro Rock

Em pouco mais de uma hora o Misfits atropelou o público na noite de etreia do Abril Pro Rock

Clique aqui para ver como foram os outros shows da primeira noite do Abril Pro Rock.

Tags desse texto:

Comentários enviados

Existem 5 comentários nesse texto.
  1. Nithzael em abril 16, 2011 às 23:10
    #1

    Quem elogia um show do Misfits com Jerry Only sozinho depois que seu ego escroto acabou com a banda, não manja nada de rock e muito menos sabe o que é Misfits.

  2. Hugo Montarroyos em abril 17, 2011 às 11:43
    #2

    Queria agradecer de coração aos amigos Guilherme Moura, Bruno Nogueira, Roger de Renoir, Paulo André, Enzo Fernando e família Abril pro Rock….amo todos vocês…

    Ah, quem vos tecla é o professor de filosofia e produtor do Matalanamão e do Novanguarda…um tal de Hugo Montarroyos, que terá a honra de casar no Alto José do Pinho em 2012 e ter o Lobão como padrinho….

  3. Adelvan em abril 17, 2011 às 14:20
    #3

    Sozinho? O cara tava com dos ex-Black Flag!

  4. Daniel K em maio 4, 2011 às 11:01
    #4

    Eu fui no show aqui em SP e foi muito bom mesmo, e não é como o cara aí em cima disse, eu curto Misfits há muiito tempo… Claro que a fase Danzig e depois Graves era foda, mas o Jerry tá mandando bem, sim, a banda tá com uma pegada nervosa.

  5. Luis em janeiro 30, 2012 às 19:56
    #5

    O mais engraçado é que tem gente que comenta, descendo o pau nessa formação, etc. Mas, na boa, duvido que deva ter ido a um show da formação clássica, que é de1977-1983. Tem nego aí que nem nascido devia ser. Ah, fala sério viu… Como disseram, tem o Dez Cadena, do Black Flag, que critica essa formação, aí sim não deve saber nada de punk! Vai ouvir Fresno, Restart, NX Zero, vai… E parabéns pelo resenha!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado