O Homem Baile

Sem erro

Com show “solo de banda”, Slash percebe o tamanho da própria história na reação da plateia às várias fases pelas quais passou; público não teve o que reclamar em noite memorável. Fotos: Luciano Oliveira.

Slash não precisa solar o tempo todo para mostrar toda a sua genialidade, mas também não economiza

Slash não precisa solar o tempo todo para mostrar toda a sua genialidade, mas também não economiza

Como show de guitarrista, só o arraso que foi a instrumental “Watch This”, turbinada ao vivo, já valeria a noite. Mas Slash não é apenas um guitarrista. Sua imagem solando com a guitarra empunhada na beirada de um penhasco sendo aproximada da câmera faz parte do inconsciente coletivo do rock’n’roll: todo mundo já viu, mas não sabe onde. Foi ele quem compôs músicas que habitam a memória de milhões de pessoas e inventou riffs irresistíveis e inesquecíveis. Isso é que as pessoas que encheram o Vivo Rio, na noite de ontem, queriam ver. E viram. E se divertiram a valer. Nem a terrível equalização do som, no estilo “sobe-e-desce”, atrapalhou.

O vocalista Myles Kennedy foi um achado para Slash

O vocalista Myles Kennedy foi um achado para Slash

A noite, no entanto, é fadada a comparações. Quase metade do repertório vem do Guns N’Roses, onde – todos sabem – as atenções eram divididas com Axl Rose. No meio de uma “Rocket Queen”, por exemplo, o olhar em cima do vocalista Myles Kennedy faz parecer que se trata de um show cover. Mas desviando-se o pescoço para a direita, lá está o originalíssimo Slash, tocando certinho tudo o que ele criou. Kennedy, titular do Alter Bridge, honra seja feita, é peça de ajuste cirúrgico. Slash tem razão (leia a reportagem aqui) quando diz que só ele é capaz de cantar todas as músicas do repertório que passeia por sua trajetória e inclui músicas gravadas originalmente por Axl Rose e Scott Weiland - só para se ter uma idéia. É difícil explicar, mas Myles Kennedy tem uma versatilidade sob medida que incorpora cada um dos vocalistas como se eles fossem personagens, mas, ao mesmo tempo, sem que sua performance soe como reles cópia. Um verdadeiro achado.

Já no início, em “Ghost”, Kennedy parece Ian Astbury, do The Cult, que gravou a canção no disco solo de Slash. A escolha é boa, o público conhece e não se importa nem um pouco que o primeiro “bloco Guns” só comece na quarta música. “Nightrain”/“Rocket Queen”/“Civil War”, todas agarradinhas, dá pra imaginar? No público há marinheiros de todas as idades, mas nenhum de primeira viagem. Todos conhecem e curtem as fases de Slash, incluindo até o Snake Pit, banda que esteve no Rio em 1995 e não atraiu um décimo do público do show de ontem. Curiosamente, Slash, no início do bis, esquece essa passagem e, nas poucas vezes em que fala com o público, se derrete pela cidade. “Em 1991 (com o Guns N’Roses, no Rock In Rio) foi a primeira vez em que estive aqui e desde então acho esse o melhor lugar para tocar”, disse o guitarrista, que prometeu voltar logo no final do show.

Slash se diverte 'no melhor lugar para tocar'

Slash se diverte 'no melhor lugar para tocar'

E foram quase duas horas e quinze em que ele suou a camisa. Não só na já citada “Watch This”, em que debulha a guitarra sem dó, nem no clássico solo em cima do tema do filme “O Poderoso Chefão”, consagrado na turnê dos álbuns “Use Your Illusion”, do Guns N’Roses. Em “Nightrain”, foi muito além da gravação original; em “Starlight”, uma das poucas baladas da noite, gravada originalmente por Kennedy, abusou em solos e evoluções que converteram a canção, de ordinária, em excepcional; e fez a pesada “Nothing to Say”, que já é boa, cantada por M Shadows, do Avenged Sevenfold, ganhar um up grade de peso que fez toda a diferença. E tudo isso trocando muito pouco de uma guitarra para a outra, sempre na clássica pose vertical e com a cartola que ele jura ser a mesma comprada num brechó, lá pelos idos de 1991. Acredite se quiser.

Não há – acreditem – prazer maior do que ver Slash, sem nem ao menos avisar, iniciando riff de “Sweet Child O’Mine”. A baladinha, até pelo sucesso planetário, é um dos símbolos da popularidade do Guns N’Roses e de quem criou o excepcional riff. Poderia ser o final apoteótico, mas “Slither”, do Velvet Revolver, vem depois, e é recebida com o entusiasmo que marcou a noite do início ao fim, e apontou para o bis elétrico que teve “Mr. Brownstone” e “Paradise City”, em sequência. Nem parecia show de guitarrista, mas o triunfo foi dela: da guitarra muito bem usada por um músico talentoso em todos os sentidos.

A turnê de Slash no Brasil continua hoje (7/4), em São Paulo, no HSBC Brasil; e amanhã (8/4), em Curitiba, no Curitiba Master Hall – veja os detalhes aqui.

Para saber como foi a entrevista coletiva com Slash, clique aqui.

A clássica pose com a guitarra empunhada pra cima

A clássica pose com a guitarra empunhada pra cima

Set list completo

1- Ghost
2- Mean Bone
3- Sucker Train Blues
4- Nightrain
5- Rocket Queen
6- Civil War
7- Back From Cali
8- Starlight
9- Nothing To Say
10- Beautiful Dangerous
11- We’re All Gonna Die
12- Watch This
13- Rise Today
14- My Michelle
15- Patience
16- Solo - “O Poderoso Chefão”
17- Sweet Child O’ Mine
18- Slither
Bis
19- By The Sword
20- Mr. Brownstone
21- Paradise City

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Comentários enviados

Existem 4 comentários nesse texto.
  1. Rowse em abril 7, 2011 às 8:35
    #1

    Cacete! Uma das melhores matérias que eu já li! Arrepiei, pois me senti lá novamente! Amei! Parabéns! Slash!

  2. alexandre paula em abril 7, 2011 às 15:43
    #2

    Eu tenho um amigo de 14 anos que gostaria muito de ter 18 ontem só para ver o show do Slash ao vivo. Ele simplesmente ia amar tudo isso.

  3. Anderson em abril 8, 2011 às 21:59
    #3

    É sensacional ver o Slash no palco. E ninguém toca as músicas do GNR como ele. Só não gosto desse cara aí cantando…

  4. Carol Pamplona em abril 11, 2011 às 22:10
    #4

    Ai, nem acredito que perdi o show da minha vida! Slashrocks e a matéria ficou ph***!

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