O Homem Baile

De verdade

Em apresentação bem tramada, Tarja Turunen assume lado heavy metal com mais afinco, mostra presença de palco renovada e emociona fãs com banda afiada e excelente performance vocal. Fotos: Luciano Oliveira.

Empunhando o símbolo do heavy metal, Tarja Turunen esbanjou empolgação no show do Rio de Janeiro

Empunhando o símbolo do heavy metal, Tarja Turunen esbanjou empolgação no show do Rio de Janeiro

Tarja Turunen não é mais a mesma, e isso é muito bom. Para um público apenas razoável, ontem, na Fundição Progresso, no Rio, a cantora brilhou durante quase duas horas, mostrando uma postura de palco mais agitada que das outras vezes, com direito a caras e bocas e repetindo o gesto eternizado no heavy metal por Ronnie James Dio. Com os “chifrinhos” em riste, Tarja nunca foi tão “true”. Logo no início – para se ter uma idéia - via-se a cantora, à esquerda do palco, travando um duelo acrobático com o violoncelista Max Lilja, ex-Apocalyptica.

Tarja Turunen pronta para dar o 'bote'

Tarja Turunen pronta para dar o 'bote'

O repertório também ajudou. Ao todo, foram nada menos que 10 músicas do novo álbum, “What Lies Beneath”, que deixaram para trás a fase “trilha sonora” do álbum de estréia da carreira solo, o confuso “My Winter Storm”, que forneceu cinco músicas ao set. O show é todo planejado com blocos bem específicos que inclui set acústico bem no meio; um solo de bateria do fabuloso Mike Terrana, seguido de um “improviso” em cima do tema de “Little Lies”, uma das músicas mais densas do novo álbum; um bloco festeiro, com releituras de músicas com sotaque pop; e o bis, que, no Rio, não teve “Wishmaster”, clássico dos tempos do Nightwish, como tem acontecido em toda a turnê. Também, o público pouco pediu. Talvez já estivesse satisfeito com a impactante inclusão de “The End Of All Hope”, no lugar de “Stargazers”, ambas do Nightwish, numa outra mudança em relação aos shows de outras cidades - veja como foi em São Paulo.

Tarja se comunica com a plateia várias vezes num português bastante razoável. “Estou muito contente em estar aqui”, diz logo no início, que teve músicas que não são de empolgar tanto. Não dá para entender como a banda de uma cantora inicia um show com “Dark Star”, justamente a única música em que divide os vocais com o baixista Doug Wimbish – no disco quem canta é Phil Labonte, do All That Remains. Mas a estratégia era comer pelas beiradas. “Esta é a minha preferida ao vivo”, disse a cantora, em “Falling Awake”, e foi ali que o show começou pra valer. Primeiro que a música é uma das mais colantes do novo CD, com um cantarolar implícito pelo bom tecladista Christian Kretschmar. Depois, porque foi a primeira em que o guitarrista argentino Julian Barrett deu o ar da graça, fazendo às vezes de Joe Satriani, autor do solo original. E, por último – e o principal -, é um dos momentos em que Tarja mostra uma impecável versatilidade vocal, recebe um buquê de rosas da turma do gargarejo e sorri feliz. Ô lindeza.

A cantora ao lado do 'canino' baixista Doug Wimbish

A cantora ao lado do 'canino' baixista Doug Wimbish

Mike Terrana afasta o conceito equivocado de chatice num solo de bateria ao acompanhar o tema pré-gravado “Wiliam Tell Overture”, de Rossini, famoso por ter sido usada em trilhas de desenhos animados e seriados na década de 60. O solo só realça a excelência do baterista, que toca com extrema precisão durante todo o show. Colado na performance a banda desenvolve o início de “Little Lies” com direito a belos solos de guitarra e de baixo. Doug Wimbish repete o número dos shows do Living Colour, tocando o baixo num tom agudo, como se fosse guitarra e, à Jimi Hendrix, usando os dentes. Juntas, as sequências instrumentais inquietam o público: é muito tempo sem Tarja!

Em “Underneath”, Tarja Anuncia a “luz” e logo depois surpreende com “The End Of All Hope”, que enlouquece o público. Depois desse momento lindo um sapão de pelúcia é atirado ao palco, gerando novos agradecimentos. Mas é em “Ciaran’s Well” que a cantora realmente se emociona e solta espontaneamente um “you are amanzing!” – algo como “vocês são estupendos”. A música antes do bis é a ótima “Crimson Deep”, daqueles tipos de balada com previsível, porém atraente final grandiloquente que chega a lembrar as peças de mais de dez minutos dos tempos do Nightwish. Na volta, a luz se faz de vez com os trajes (sempre combinando com o microfone) brancos: “Die Alive” sacode a Fundição numa outra grande performance vocal, e o show é encerrado com “Until My Last Breath”, que replica a fórmula de sucesso de “Nemo” na carreira solo. Não, realmente não precisava mesmo de “Wishmaster”; Tarja Turunen já consegue andar com as próprias pernas.

Com o exuberante modelito do bis, se faz a luz

Com o exuberante modelito do bis, se faz a luz

Set list completo:

1- Dark Star
2- My Little Phoenix
3- I Feel Immortal
4- In For A Kill
5- Falling Awake
6- I Walk Alone
7- Solo de bateria
8- Improviso instrumental
9- Little lies
10- Underneath
11- The End Of All Hope
Acústico
12- Higher Than Hope
13- We Are
14- Minor Heaven
15- Archives of Lost Dreams
Fim do acústico
16- Ciaran’s Well
17- Crimson Deep
Bis
18- Where Were You Last Night/Heaven is a Place on Earth/Living on a Prayer
19- Die Alive
20- Until My Last Breath

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Lichtgestalt em março 14, 2011 às 10:53
    #1

    Maravilhoso o show! Nunca vou esquecer!
    Tarja, te amo!

  2. Wesley Brito em março 14, 2011 às 15:29
    #2

    Pô, showzaço, ela realmente consegue andar com as próprias pernas. Ótima resenha. Faltou um destaque para a acrobacia vocal máxima em “Crimson Deep” e seu lá sustenido no final, que é uma das notas mais altas do repertório de uma soprano.

  3. Rodolfo em março 14, 2011 às 20:28
    #3

    O show foi excelente, essa mulher é fantástica. O autor disse tudo nessa frase: “Não, realmente não precisava mesmo de “Wishmaster”; Tarja Turunen já consegue andar com as próprias pernas.” Admito que não senti nenhuma falta das músicas do Nightwish.

    Destaque para “Crimson Deep” e minha favorita, “My Little Phoenix”. Senti falta “Rivers of lust”!

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