Imagem é Tudo

Big Country

Wonderland
(ST2)

bigcountrywonderlandA imagem em close do e-bow de Stuart Adamson tocando as cordas da guitarra na belíssima introdução de “The Storm”, já no início do bis, talvez seja a mais emblemática e sintética de toda a história do Big Country. Foi usando o “arco eletrônico” que o grupo escocês definiu o som raro e inimitável que marcou sua trajetória, juntando uma sonoridade regional com sotaque celta e gaita de foles, com guitarras inspiradíssimas. Era o início dos anos 80 e o pós punk abria todos os leques possíveis dentro do rock britânico, em uma de suas fases mais criativas.

O show é daqueles gravados pela TV alemã Rockpalast, dessa vez na cidade de Essen, e foi realizado em março de 1986, quando o Big Country curtia o sucesso do segundo álbum, “Steeltown”, e começava a mostrar as músicas que fariam parte de “The Seer”, que seria lançado quatro meses depois – “Look Away”, por exemplo, é apresentada como “novo single”. Mesmo assim, no repertório há o predomínio do disco de estreia, “The Crossing”, que comparece com quase metade das 16 músicas tocadas em cerca de uma hora e meia. A banda aparece no palco com a típica indumentária, algo entre o new romantic do Duran Duran e o positive punk do Sisters Of Mercy. Nada a ver com o som de guitarras siamês e, ao mesmo tempo, minimalista praticado pelo grupo. Curioso como o quarteto se mexe no palco, longe dos saborosos clichês do rock, em passinhos que beiram o desengonçado.

Detalhes que não tiram a importância musical e a interação com o público, cuja ansiedade inicial é aplacada de supetão pela trinca “Wonderland” (badaladíssimo single, órfão de álbum), o hit “Fields Of Fire” e “Where The Rose Is Sown”. Nessa última o crescente de guitarra de Adamson, que chega a duelar com Bruce Watson, na parte final, é de arrepiar. Ele tenta se comunicar com a platéia, mas o esforço não é lá muito eficiente. O alemão de cursinho não funciona, tampouco o inglês de sotaque carregadíssimo. A música, sim, e muito bem. Mesmo na intrincada “Steeltown”, com introdução ligeiramente modificada, a participação do público é de empolgar. Na dobradinha “In A Big Country”/“Inwards”, ambas do primeiro disco, dá pra ver a plateia se acabando de tanto pular, mesmo numa fria transmissão de TV. Antes do início de “Chance”, que tem a marcação do incrível batera Mark Brzezicki, e em “Lost Patrol”, que realça o baixo denso de Tony Butler, Adamson incentiva – com sucesso - o cantarolar que o povo tanto quer mostrar.

O DVD, lançado lá fora em 2005, só chegou ao Brasil no ano passado, mas antes tarde do que nunca. Porque o show, embora com evidentes destaques, vale pelo chamado “conjunto da obra”. No caso do Big Country isso inclui a sonoridade diferenciada, as guitarras tocadas pra valer - sem as super avaliadas texturas típicas do pós punk -, e músicas que são um verdadeiro achado pop, dos tempos em que o rock era o bastante para requebrar as cadeiras. Tudo isso junto, em cima de um placo, com a voz e o carisma de Stuart Adamson, ganha um potencial extraordinário que poucos puderam aproveitar. Ou seja, trata-se de um documento imperdível de uma banda que pode receber a inequívoca pecha de “injustiçada pela história”.

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