Sessão intensa
No único show no Brasil como banda principal, Two Door Cinema Club encara o calorão do verão carioca e mostra que é possível colocar todo mundo pra dançar com boa música. Fotos: Luciano Oliveira.
Ver uma nova banda fechando o show com um cover dos Strokes chega a ser sintomático. Ainda mais no ano em que o grupo, que foi o símbolo de uma geração ao ficar famoso no mundo todo sem gravar um único disco, só com a força da internet, vai completar dez anos do lançamento do seu primeiro álbum, “This Is It”. Só que o Two Door Cinema Club precisava completar um repertório de uma hora, ontem, no Circo Voador, no Rio, visto que o novíssimo grupo irlandês só tem um CD lançado. Isso tudo seria só um detalhe se “Last Nite” não fosse deixada para um segundo bis no qual o público – conectadíssimo, assim como o dos Strokes, dez anos atrás – enlouqueceu.
Não foi o único momento em que isso aconteceu. O Two Door Cinema Club é da linhagem de bandas indies que revivem os anos 80 e optam por um flerte com as pistas, como fizeram - de forma pontual – Keane e Franz Ferdinand, e como faz maciçamente o Friendly Fires. Só que, num único álbum, o Two Door emplacou uma quantidade de músicas colantes que realça a estreia de qualquer banda, ainda mais quando todas elas colocam o sujeito para dançar sem medo de ser feliz. Ou seja, o show é uma pista de dança cristalina, e quando isso é feito com o rock - bingo! - a festa está armada.
Dá para jogar o resultado das boas canções na conta do guitarrista Sam Halliday, que desenvolveu um curioso estilo minimalista, carregado de efeitos (delay aos montes) que lembra a carpintaria de Vinni Reilly, o tímido guitarrista que tocava o Durutti Column nos anos 80 - esqueça por um momento que a banda é irlandesa e evite dizer que Halliday aprendeu com The Edge, do U2. Embora um sintetizador esteja bem ali no centro do palco, é Sam Halliday que impinge evoluções soletradas em músicas como “This Is The Life” (que cresce um bocado ao vivo) e “Eat That Up, It’s Good for You”, e essas nem foram as melhores da noite, de acordo com a reação da platéia.
O público, aliás, não tomou conhecimento de que “Handshake” foi anunciada pelo baixista Kevin Baird como “uma música nova” e cantou e dançou como se não houvesse amanhã. Antes dela, a sexta a ser tocada, o vocalista bochecha rosada Alex Trimble falou com público, agradecendo pelo comparecimento ao “primeiro show como atração principal no Brasil” (o grupo tocou anteontem no Meca Festival, no Sul) e até aos “cariocas empolgados”, grupo que viabiliza shows no Rio através da venda de cotas antecipadamente. Não faltaria mais nada para ele ganhar a lona do Circo de vez, cheia que só ela. Para o público, os melhores momentos foram o hit nato “Undercorver Martin”, a intensa “I Can Talk”, no fim do segundo bis, e “Something Good Can Work”, cujo falsete de Trimble levou às palmas.
Se é possível estabelecer um senão no show, ele vai para a “monocórdica” bateria do grupo, cuja batida praticamente se repete, a custa de um chimbau irritante, durante todo o set. Tanto que “What You Know”, talvez a única que fugiu desse dilema, foi de um alívio oxigenante – a despeito de a música ser, também, excelente. Ocorre que o grupo, em princípio, compunha só com bateria eletrônica e parece não ter feito o dever de casa na transição para o instrumento acústico, tocado ao vivo. Fácil de corrigir, a menos que a repetição seja proposital para deixar tudo mais dançante e descerebrado, como se faz usualmente em pistas de dança. De uma forma ou de outra, o Two Door Cinema Club prova que é possível colocar todo mundo pra dançar com boa música.
Set list completo:
1- Cigarettes in the Theatre
2- Undercover Martyn
3- Hands Off My Cash, Monty
4- Do You Want It All?
5- Something Good Can Work
6- Handshake
7- This Is the Life
8- Kids
9- You’re Not Stubborn
10- Costume Party
11- What You Know
12- Eat That Up, It’s Good for You
Bis
13- Come Back Home
14- I Can Talk
Bis
15- Last Nite
Tags desse texto: Two Door Cinema Club
Eu simplesmente amei o show. Os caras mandaram muito bem todos os hits. Cá entre nós, aquela finalização com “Last Night” dos Strokes foi sensacional. Dancei muito. Estou morto de cansaço. Valeu muito apena. Grande abraço a todos. #TDCC =)
Adorei a resenha de vocês.
Relatou exatamente o que eu percebi.
Na moral? Esse show foi muito bom. =)