O Homem Baile

Muito mais que punk rock

Pela primeira vez no Rio de Janeiro, Vibrators mostra que o som do grupo não ficou estagnado nos três acordes; na abertura, o Rock Rocket foi o parceiro ideal. Fotos: Michael Meneses.

Knox, Eddie e Pete: nomes simples e som simples que sustentam a lenda viva do punk chamada Vibrators

Knox, Eddie e Pete: nomes simples e som simples que sustentam a lenda viva do punk chamada Vibrators

O público não era lá tão grande, mas as cerca de 200 pessoas que compareceram ao Espaço Acústica, ontem, no Rio, para ver o Vibrators, não se arrependeram. A lenda viva do punk britânico tocou por cerca de uma hora e detonou vários clássicos da época em que tudo aconteceu, lá na terra da Rainha, e ainda mostrou músicas do álbum mais recente, o bom “Under The Radar”. Os veteranos Knox (guitarra e vocal) e Eddie (bateria), ambos na faixa dos 60 anos, mostraram fôlego de garoto, tocando músicas em sequência sem dar trégua para o público que se aglomerava em rodas na beirada do palco. Com cara de vovô do punk, Eddie, inclusive, circulou sem ser notado pelo público durante os shows de abertura. Que popstar que nada.

Knox do alto de suas 65 primaveras bem vividas

Knox do alto de suas 65 primaveras bem vividas

O trio, completado pelo baixista Pete, o mais novo (pero no mucho), traz de volta o punk básico de raiz, os clássicos três acordes, mas toca de um jeito diferente, talvez até pelo fato de fazer turnês incansavelmente desde que voltou à ativa, em 1982(!). A guitarra de Knox não é tão básica como foi gravada nos dois primeiros álbuns do grupo (“Pure Mania” e “V2”); às vezes, o riff simples do punk se converte num riffaço de tremer fã de hard rock de raiz. Foi o que aconteceu em “I Need a Slave” e “Disco in Moskow”, por exemplo. Knox também se envereda por solos – ok, não é toda hora - crus e secos, mas consistentes e que funcionam muito bem ao vivo. Assim foi em “Troops Of Tomorrow” e na ótima “Sweet Sweet Heart” e sua indefectível introdução, num dos pontos altos da noite. A pauleira foi tanta que o cabeçote do amplificador do baixista Pete pifou e teve que ser substituído.

O outro ponto de destaque foi o clássico maior dos Vibrators, “Baby Baby”, curiosamente uma música lenta e cadenciada, mas colante que só ela. O hit é um exemplo clássico da identificação do punk de raiz com o rock’n’roll de origem. A ponte entre épocas distintas também foi verificada já no bis (que aparentemente não estava programado), quando o trio levou “Brand New Cadillac”, famosa com o Clash, mas gravada originalmente como lado B de um compacto de Vince Taylor, em 1959. Informação que pouco interferiu nos moshs que proliferaram em “Baby Baby” e em todo o set. As músicas novas, embora desconhecidas de grande parte do público, não fizeram feio. Ente elas, destaque para “Free Spirit”, que realçou o vigor do batera Eddie, e “We’re The Dead”, de refrão tenso, mas fácil de ser cantado, que foi a pedida certa para o início do bis. O momento “quebra tudo que é a última” aconteceu com “Yeah Yeah Yeah”, que terminou com Knox segurando o pedal com as mãos enquanto a guitarra uivava no amplificador.

O baixista Pete é o 'jovem' entre os 'vovôs'

O baixista Pete é o 'jovem' entre os 'vovôs'

A mesma ponte entre a origem do rock e o punk de raiz ecoou forte antes, no show do Rock Rocket. O trio paulistano mergulha cada vez mais no rockabilly, mas, ao misturar com o punk, encontra uma alquimia explosiva e poderosa – o que antes era pose, agora é atitude. Como não se lembrar das festinhas de antigamente com a impagável “Puro Amor em Alto Mar”? Ou mesmo na energia psycho de “Doidão”, tocada coladinha nela? Isso sem falar nas letras impagáveis que giram em torno de bebedeiras, azarações e outras curtições da juventude. O repertório é bem encaixado e o show cresce muito do meio para o final, com banda e público bem empolgados. A instrumental “Shark Attack”, surf music das boas, e “O Que Você Quer Aqui” também merecem menção, num belo show.

Quem abriu a noite foi o Vulcânicos, banda cover de clássicos do rock das décadas de 50/60. Mesmo com a formação subtraída de um guitarrista, o grupo mandou bem, com “Spoonful” e “Jailhouse Rock” no repertório, só para se ter uma idéia. Mas não estaria na hora de o grupo pensar num trabalho com músicas próprias? A turnê do Vibrators pelo Brasil continua hoje e vai até domingo. O grupo faz o show “Unpunked” hoje, no Astronete Bar; amanhã tona no Inferno Club; e domingo encerra o Skate Fest, com entrada franca, na cidade de Americana. Saiba todos os detalhes aqui.

Público + banda: vista aérea da verdadeira festa punk carioca

Público + banda: vista aérea da verdadeira festa punk carioca

Set list completo:

1- Bad Time
2- Pure Mania
3- I Need a Slave
4- Whips & Furs
5- Kid’s a Mess
6- Troops Of Tomorrow
7- Amphetamine Blue
8- Free Spirit
9- London Girls
10- Sweet Sweet Heart
11- Under The Radar
12- 24 Hour People
13- Baby Baby
14- Judy Says (Knock You In The Head)
15- Disco In Moscow
16- Automatic Lover
Bis
17- We’re The Dead
18- Brand New Cadillac
19- Yeah Yeah Yeah

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