No Mundo do Rock

Com futuro, sim, senhor!

Seminal para o punk rock, Vibrators volta ao Brasil na turnê do disco mais recente, lançado em 2009; grupo é o que mais se mantém em atividade entre todos os de sua geração, que inclui Sex Pistols, Clash e Buzzcocks. Fotos: Reprodução MySpace oficial.

Eddie (bateria), Knox (vocal e guitarra) e Oete (baixo): quem disse que o punk não poderia envelhecer com dignidade?

Eddie, Knox e Pete: quem disse que o punk rock não poderia envelhecer sem perder a dignidade?

Ver TV é deprimente, não tem nada mais sem graça. A frase é um verso de uma música do Matanza, mas, não por mera coincidência, é também o que faz Ian Carnochan sair de casa e subir num palco 134 vezes num ano para tocar o bom e velho punk rock. “Knox”, como é conhecido, já completou 65 primaveras e é líder do The Vibrators, banda seminal para o punk rock que fez parte da geração britânica que inclui Sex Pistols, Clash e Buzzcocks. Com uma breve parada entre 1980 e 1982, o grupo é o único entre todos eles que se mantém em constante atividade, fazendo turnês e lançando discos com frequência. Que “no future” que nada.

O mais recente deles é “Under The Radar”, de 2009, base das turnês mais recentes que inclui o Brasil na próxima semana. É a terceira vez do Vibrators no País, e a primeira no Rio – veja as datas aqui. Mas o grupo não se ilude e avisa que boa parte do repertório desses shows vai sair dos dois primeiros álbuns, lançados em meio ao furacão punk do final dos anos 70. Quem nunca ouviu “Baby Baby” e “Sweet Sweet Heart” que volte a estudar o bê-á-bá do rock e compre o ingresso para ver os caras que fizeram o punk acontecer.

Na formação atual, dois integrantes que montaram a banda, em 1976: Ian “Knox” Carnochan (guitarra/vocal) e o baterista Eddie. Mas o baixista Pete é do ramo, tocava na banda finlandesa No Direction até entrar para o Vibrators em 2003. Embora veteranos, eles aprenderam rapidamente a se virar no mercado independente que se estabeleceu – afinal são da geração do “do it yourself” – e não param mais de fazer shows. Só em 2010 foram 134, ou seja, uma média excepcional de quase um show a cada dois dias. Nesse papo com Knox, via e-mail, você confere as expectativas para os shows no Brasil, a fase atual da banda, como é ter 34 anos de punk rock e um pouco mais da história, contada por quem esteve lá.

Rock em Geral: Essa é a terceira vez que vocês vêm ao Brasil, mas a primeira no Rio. Quais são as expectativas?

Ian “Knox” Carnochan: Estamos esperando que seja tão bom quanto ou ainda melhor do que as outras duas vezes. Foram shows muito bons. Está muito frio aqui na Inglaterra e vai ser legal encarar um pouco de clima quente.

REG: Vocês vão tocar um set acústico em São Paulo. Sempre fazem isso, desde que lançaram o álbum “Unpunked”, em 1996? As músicas não perdem força nesse formato?

Knox: Tocamos o estranho set acústico e é uma mudança boa em relação ao que sempre fazemos. Acho que as músicas soam muito bem no formato acústico, há certo frescor, como se fossem novas. Quando estou tocando dessa forma, sempre descubro outras maneiras de tocar essas músicas. Mas quando chega o final do set eu provavelmente esqueço tudo!

REG: Sobre o repertório dos shows no Brasil, o que você pode nos adiantar?

Knox: Não quero entregar o jogo, mas é claro que tocaremos muita coisa do nosso primeiro álbum (“Pure Mania”, de 1977), e do segundo também (“V2”, de 1978), além de algumas novas, uma boa mistura. Tocaremos “Troops Of Tomorrow” (última faixa do “V2”). Lançamos muitos álbuns, 16 de estúdio, então há muito material para escolher.

REG: O punk foi um movimento que, como diz o lema (“no future”), nasceu para não ter futuro, mas bandas como o Vibrators continuam em plena atividade. Como você vê essa trajetória?

Knox: Aparecemos muito rápido e tivemos muito sucesso. O punk deu um sumiço em torno do início dos anos 80, mas voltou e nós estamos fazendo shows desde 1982, quando a banda voltou a se reunir. Costumávamos fazer 35 shows por ano quando voltamos, já que nem sempre todos na banda estavam disponíveis. Mas eu disse ao Eddie (baterista), já nos anos 90, que queria ter outros músicos para poder tocar com a banda o tempo todo. Essa foi uma grande ideia e nós agora tocamos mais. No ano passado fizemos 134 shows!

REG: É óbvia a conexão sexual com o nome Vibrators, mas você se lembra como esse nome foi escolhido para a banda?

Knox: Foi o John Ellis, guitarrista da formação original, que surgiu com essa ideia. É um bom nome, mas nos manteve afastados da rádio e provavelmente limitou o nosso sucesso. Eu ainda acho que esse nome é um pouco subversivo.

Knox canta e toca guitarra em show do Vibrators

Knox canta e toca guitarra em show do Vibrators

REG: Se você pudesse comparar o punk de vocês do início de carreira, o som era parecido com o de quais bandas?

Knox: Acho que o mais próximo seria o som do Ramones, mas nós temos um material bem mais variado e soamos um pouco como todas as outras bandas. Então, de certa forma, temos nosso próprio som. Não somos o que eu chamaria de típica banda punk.

REG: O Vibrators foi uma das primeiras bandas que fez a transição do punk para a new wave, lá no começo. Vocês tiveram problemas com o público e a crítica naquela época?

Knox: Sempre há pessoas que irão te criticar, mas só fazemos o que gostamos, e acho que as pessoas gostam disso. Éramos a terceira banda mais importante no Reino Unido. Provavelmente fomos os primeiros a usar um sample (do Jimi Hendrix, no disco “V2”) e o primeiro a ter uma música com rap. (“We Name de Guilty”, no álbum “Guilty”, de 1982).

REG: No início vocês sempre tocavam no 100 Club (abriram para os Sex Pistols lá), em Londres, que está para fechar. Vocês já pensaram em fazer alguma coisa para impedir isso?

Knox: É claro que eu gostaria que esse clube continuasse funcionando, é um lugar histórico e o acho que o Estado deveria fazer algo. Mas, às vezes, há questões de grana rolando nos bastidores e não é mais possível manter a coisa funcionando, a não ser que você tenha muita grana. Se o 100 Club tiver mesmo que acabar, eu espero que alguém pegue um galpão e recrie o local lá dentro. O mesmo com o CBGB: deveriam criar em outro lugar, quem sabe em Las Vegas? Rolou um papo nesse sentido.

REG: Vocês lançaram o álbum “Under The Radar” em 2009, com músicas inéditas, depois de sete anos só gravando covers. Como foi gravar músicas próprias de novo? E o disco, foi bem aceito?

Knox: Esse disco tem sido muito bem aceito. Estou sempre compondo, então há boas músicas nesse disco, assim como eu posso destacar músicas boas em todos os nossos discos. Quando você faz um disco por ano, que é o que costumávamos fazer, não tem muito tempo para a composição, especialmente nós, que trabalhamos duro na estrada. Não fazer um álbum por uns tempos, em geral, quer dizer que você terá músicas melhores.

REG: “Under The Radar” é um disco que às vezes lembra o punk do início. Havia uma intenção de resgatar aquele espírito?

Knox: O Mark Brennan, da nossa gravadora, a Captain Oi!, queria um disco que soasse mais como um punk mais cru. Então foi isso que lhe entregamos. O Nigel Bennett, ex-guitarrista do Vibrators, gravou todas as guitarras, já que eu estive doente (sofreu acidente de moto) naquele período. Me concentrei em cantar.

REG: A música “How Beautiful You Are” é uma balada com palmas e tudo, o que não é tão comum num disco do Vibrators. Como essa música apareceu?

Knox: Ela estava guardada e eu sempre gostei dela, então foi usada no disco para dar um contraste. E lembre-se que “Baby Baby” é uma música lenta. “Baby Baby” é possivelmente a única música lenta tocada nas pistas com punk rock e hardcore. Eu acho uma vergonha que as bandas punk não façam ao menos uma música lenta por disco, como contraste. Mas, no fundo, eu acho que eles pensam que não conseguem compor assim.

REG: Você ainda acha que o disco de estreia, “Pure Mania”, é o melhor do Vibrators? Você já pensou em refazer este disco, usando os equipamentos e ferramentas de hoje?

Knox: Eu acho que é o nosso melhor disco porque as músicas são muito boas e o disco tem um som único. Eu não acho possível fazê-lo ficar melhor, já que é um disco muito representativo para nós. Mas talvez uma nova versão desse disco fosse bem interessante, quem sabe para 2011?

REG: No Brasil o álbum “Guilty” se tornou bem conhecido entre os fãs. Foi um sucesso no Reino Unido e em todo o mundo?

Knox: Foi um disco ok. É o disco que fizemos assim que voltamos a tocar juntos, então é muito variado. Minhas favoritas nesse disco são “Rocket To The Moon”, do Pat Collier, e “Sleeping” e “Fighter Pilot”, que são minhas.

REG: Como a música “Stiff Little Fingers”, do The Vibrators, se transformou na banda Stiff Little Fingers?

Knox: Reza a lenda que o guitarrista/vocalista Jake Burns estava sendo sondado por uma gravadora que queria assinar com a banda e ele precisava de um nome. Ele não tinha nenhum, mas o nosso single (“London Girls”) estava na frente dele e o Lado B era “Stiff Little Fingers”, e ele disse que esse era o nome da banda. É uma história bem bacana.

REG: Vocês hoje têm família, crianças? Como é a família de um punk rocker profissional que vê a nova geração crescer?

Knox: Não, eu não tenho uma família convencional, mas estou um pouco envolvido com essas coisas. Eu vejo o filho dos outros crescendo e se interessando por música, em geral não punk rock, mas não importa. As pessoas fazem o que elas fazem. Eu nem me importo caso elas não se interessem por música. Eu acho que o importante é o agora. Se eu tivesse nascido há 100 anos eu não teria me interessado por música, assim como eu não gostava do que rolava na minha época.

REG: Enfim, o que move vocês a continuar tocando punk rock depois de 34 anos?

Knox: Você se acostuma a fazer isso e acaba gostando disso. Há muita coisa ruim com a qual você tem que conviver: dormir tarde, manhãs terríveis acordando cedo em aeroportos esquisitos… Mas é melhor que passar o dia vendo TV! E imagine a próxima parada, pessoas velhas e terríveis em casa! Acessem nossos sites: www.thevibrators.com e www.myspace.com/thevibrators

O Vibrators em seu habitat natural; semana que vem é a vez de o Brasil receber os pioneiros do punk

O Vibrators em seu habitat natural; semana que vem é a vez de o Brasil receber os pioneiros do punk

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Marcelo em janeiro 22, 2011 às 6:44
    #1

    Como é legal ler uma entrevista com uma banda tão importante e, nos dias de hoje, tão underground como o The Vibrators! Vida longa ao Knox!
    Valeu Bragatto!

  2. Tiago em julho 28, 2014 às 10:13
    #2

    O Knox é gênio na arte de tocar guitarra. É uma pena que esteja fora do banda atualmente. Conheci a banda através de um cover que o Holly Tree fez da música ‘Judy Says’. Hoje é uma das minhas preferidas. Um dos meus sonhos é assistir um show com a presença do Knox na banda. Abraço e ótima entrevista.

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