O Homem Baile

Dinossauro júnior

Sem músicas novas, Pavement sucumbe a repertório conhecido em apresentação fria e de pouco impacto; atrações bizarras transformam Planeta Terra em espécie de micareta indie. Fotos: Marcos Issa/Argosfoto/Divulgação

Bob Nastanovich salva a pátria do Pavement, enquanto o guitarrista Scott Kannberg se diverte

Bob Nastanovich salva a pátria do Pavement, enquanto o guitarrista Scott Kannberg se diverte

Embora tenha sido uma das atrações mais esperadas do Planeta Terra desse ano, o Pavement não conseguiu transformar a badalação em torno de sua turnê de reunião no destaque do festival, no sábado passado, no Playcenter, em São Paulo. Curiosamente, acabou atraindo apenas os fãs mais dedicados que se aglomeraram confortavelmente na beirada do palco; a massa que praticamente lotou o palco principal do festival até então se deslocou para ver o Hot Chip no palco secundário ou foi se divertir nos brinquedos do Parque de Diversões que atravancava o local. Era a prova de que uma das bandas mais importantes do indie rock dos anos 90 não tem um ramo de fãs significativo no Brasil, nem entre os seus pares – até o discreto Phoenix, que tocou antes, teve mais público.

Phoenix: Thomas Mars parece tímido no começo

Phoenix: Thomas Mars parece tímido no começo

Com o imenso palco reduzido e os integrantes próximos entre si, o grupo tocou basicamente o repertório da turnê de reunião. O problema é que parece faltar ritmo ao quinteto, que toca todas as músicas num andamento lento, desanimado até, muito longe das performances do passado. Só na terceira música, “Perfume V”, que tem um bom riff, é que parece que a coisa vai engrenar. Mas não engrena, porque a calmaria reinante logo volta. O grupo parece entrar numa espécie de moto-contínuo, até pelo jeito enfadinho de Stephen Malkmus cantar, coisa que só melhora com as intervenções de Bob Nastanovich, que canta e toca bateria e percussão. É o que acontece em “Father to a Sister of Thought”, quando ele agradece timidamente e diz que é bom estar no Brasil.

“Cut Your Hair”, cujo clipe rodou bastante por aqui, é uma das poucos que realmente levanta a platéia gelada do Pavement. O grupo também não amarelou e tocou “Range Life”, já no final do set, sem mudar a letra que cita pejorativamente o Smashing Pumpkins – Billy Corgan havia ameaçado partir pro pau caso encontrasse os integrantes nos bastidores. O final é com a boa dobradinha “Two States”/ “Here”, e a sensação que fica é que o grupo, sem apresentar nenhuma novidade, se junta ao Pixies como os primeiros grandes dinossauros indies de que se tem notícia. Só que o Pixies tem a seu favor um repertório extraordinário, influente e até performance de palco mais animada, o que – diga-se – em se tratando do Pavement do show de sábado passado, não chega a ser uma vantagem muito grande.

Afetação indie

Mika: muito ruim, mas com muitos fãs

Mika: muito ruim, mas com muitos fãs

Até o inexpressivo Phoenix veio da França e convenceu mais o público, muito maior em sua apresentação. Mesmo sem ter um repertório poderoso, o grupo tinha suas cartas na manga. Uma delas é a identificação com o rock da década passada que foi fundo na new wave, o que resulta nos momentos mais dançantes, caso de “Girlfriend” e o refrão colante “farewell, well, well…”, e de “1901”, que fechou o set em grande estilo. O vocalista Thomas Mars não tem lá uma voz muito atraente e nem se movimenta muito no palco. Em compensação, como era o último show da turnê deles, ele se mandou para fazer seguramente o maior crowd surf da história: com um microfone de cabo fluorescente, foi para lá no meio da muvuca, numa torre reservado a um câmera, e depois ainda voltou. Lindo!

Antes, o festival se viu representado por atrações bizarras nas quais a forma tinha mais destaque que o conteúdo. Primeiro foi o Of Montreal, cujo vocalista, de saias, não tem a noção artística para diferenciar o andrógino do mau gosto. A banda toca fantasiada e tem um grupo de dançarinos alegóricos que aparece mais do que a música. Aconteceu também com o cantor Mika, cujo som, uma espécie de indie dance de péssima qualidade, tem muitos seguidores. Mais pela afetação do moço – bom dançarino, diga-se – do que pela música em si. Foi outro que apelou por uma espécie de micareta indie que faz mal à saúde intelectual e jamais deveria fazer parte do elenco de num festival desse porte. Entre os brasileiros, o pouco que deu pra ver deixou claro que os Novos Paulistas (nome terrível) são melhores separados, sobretudo Tulipa Ruiz e Tatá Aeroplano, e que o Holger precisa parar com essa mania de querer ser Vampire Weekend quando crescer.

Thomas Mars, do Phoenix, vai pra galera

Thomas Mars, do Phoenix, vai pra galera

Placar Rock em Geral:

Novos Paulistas: 5,0
Holger: 4,0
Of Montreal: 3,0
Mika: 4,0
Phoenix: 7,0
Pavement: 6,0
Smashing Pumpkins: 8,0

Veja também: como foi o show do Smashing Pumpkins no Planeta Terra

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Comentários enviados

Existem 5 comentários nesse texto.
  1. Tiago Velasco em novembro 22, 2010 às 20:05
    #1

    E pensar que o Bragatto ia dar nota maior pra um bando de MPB do que para bandas de rock… Algo estranho acontece nesta casa cibernética!

  2. Feilpe Sad em novembro 23, 2010 às 7:35
    #2

    Colé Bragatto, fui no festival para ver o Pavement, e não me decepcionei nem um pouco, muito pelo contrário. Achei o show do Pavement fodaço, foi sensacional ver os caras tocando todas as preferidas e muito próximo da pegada dos discos. Aliás, essa foi a opinião de todos que estavam comigo para ver o show. Mas concordo, e comentei com a galera, que seria melhor num lugar menor. Festival é sempre uma merda.

  3. aline em novembro 23, 2010 às 7:48
    #3

    Você não gosta de indie, ficou claro. Mande alguém mais imparcial.

  4. Lizandra Pronin em novembro 23, 2010 às 15:04
    #4

    Ô Bragatto! Maldade com o Mika. O cara é bom. Puta pop dançante bem feito. Ponto alto no festival. Certamente você não é o público alvo, mas há de se reconhecer o talento do moço. Phoenix achei tudo muito parecido. Pavement, lindo. Smashing Pumpkins serviu pra matar saudades. Hot Chip delicioso. Minha resenha ficou bem diferente da sua! Impossível ter a mesma impressão. Foi bom te encontrar por lá, viu? Beijo!

  5. Marcos Bragatto em novembro 26, 2010 às 7:22
    #5

    Que nada, Lizandra! Aquilo é muito ruim mesmo! Manda um e-mail pra mim?
    Beijo!

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