O Homem Baile

Soco na cara

O renovado Smashing Pumpkins salva uma noite fadada a decepções no Planeta Terra; Billy Corgan toca com os dentes, esmerilha a guitarra nas caixas e assume de vez sua face mais pesada e voltada para o rock de verdade. Foto: Marcos Issa/Argosfoto/Divulgação.

Um enfurecido Billy Corgan fez a alegria dos fãs no show que marcou o encerramento do Planeta Terra

Um enfurecido Billy Corgan fez a alegria dos fãs no show que marcou o encerramento do Planeta Terra

Já era alta madrugada de domingo quando Billy Corgan voltou ao palco com sua nova banda, ainda chamada de Smashing Pumpkins, para arrematar uma apresentação absolutamente visceral. O público esperava por “Disarm”, um dos tantos hits que parece não caber mais no repertório da banda, mas a opção foi por “Heavy Metal Machine”, mais pesada que nunca, tocada num volume absurdo. Corgan sabia o que fazia, na tradução do “soco na cara” que prometera numa entrevista publicada durante a semana. Não teve pra ninguém: o renovado Smashing Pumpkins fez – e de longe - o melhor show da edição desse ano do Planeta Terra, que aconteceu ontem, no Playcenter, em São Paulo.

Não parecia que seria assim, de início, com a recepção fria causada por “The Fellowship” – há milhões de músicas melhores para uma abertura -, mas logo a coisa engrenou. “Today”, o primeiro sucesso a ser tocado, foi a senha para que o rock de verdade, ausente até então no afamado parque de diversões, tomasse conta do lugar. Já em “Astral Planes”, uma das novas que a banda vem jogando na web, o guitarrista Jeff Schroeder desanda a aplicar solos e ofusca – vejam vocês – o próprio Corgan. A música, aparentemente inofensiva e cadenciada, cativa por belos e discretos riffs, numa prova de que não é preciso a canção ser consagrada para arrebatar o ouvinte, basta ser boa e ter os ingredientes certos.

Billy Corgan não deixaria barato. Já na seguinte, “Ava Adore”, protagonizou um duelo daqueles com Schroeder, como se iniciasse ali uma virada de jogo para mostrar – com vantagem – quem é o dono da boca. Dali em diante, ele tocou com os dentes, esmerilhou a guitarra nas caixas próximas à plateia (só não a destruiu porque teve humildade em gol), distorceu cada acorde e finalizou um improvável solo de bateria (numa noite indie) com citações a “Moby Dick”, do Led Zeppelin, antes de o gongo (!) à Emerson, Lake And Palmer ser percutido cinco vezes. Tá bom pra vocês? O prodígio batera Mike Byrne, 20 aninhos, oriundo da desconhecida banda Moses, Smell The Roses, mostrou ter sido a escolha certa que contribui para o processo de renovação do Smashing Pumpkins.

Ainda que mantenha um temperamento irritadiço, Billy Corgan, 43, amadureceu muito. Nos últimos tempos, tem assumido abertamente suas influências de bandas como Black Sabbath e Rush, entre outras, coisa inimaginável no nicho do alternativo, onde a banda surgiu. E mostra isso, ao vivo, como um rocker de verdade, como se fosse ele um de seus próprios ícones. De comunicação em geral meramente protocolar com a plateia, Corgan até que se soltou, ao apresentar a banda e se autodenominar “Billy Ronaldinho”, numa referência ao centroavante de careca idêntica à dele. Teve bom humor para chamar “Spangled” de música triste, cutucando de forma sutil a apatia do Pavement no show anterior.

A primeira parte do set teve ainda a inesquecível “Bullet With Butterfly Wings” e outras “das antigas” incluídas foram “Tonight, Tonight”, que encerrou a primeira parte do show, e “Cherub Rock”. Poderia ter mais (“Disarm”, claro), mas como reclamar de uma hora e quarenta minutos de um show que salvou uma noite, até então, fadada a decepções? Nem mesmo o cansaço generalizado na alta madrugada retira da apresentação a pecha de redentora.

Set list completo (a conferir):

1- The Fellowship
2- Lonely is the name
3- Today
4- Astral Planes
5- Ava Adore
6- Song For a Son
7- Bullet With Butterfly Wings
8- Tarantula
9- United States
10- Splangled
11- Drown
12- Shame
13- Cherub Rock
14- Zero
15- Stand Inside Your Love
16– Tonight, Tonight
Bis
17- Heavy Metal Machine

Veja também: como foram os outros shows do Planeta Terra

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Comentários enviados

Existem 14 comentários nesse texto.
  1. Nina em novembro 21, 2010 às 12:12
    #1

    Acho que não estávamos no mesmo show, o que eu fui foi fraco, sem empolgação nem dele e nem do público, não foi foi de jeito nenhum o melhor show da noite.

  2. Pumpkin em novembro 21, 2010 às 21:13
    #2

    Set list horrivel

  3. Fernando em novembro 21, 2010 às 21:15
    #3

    Cara, essa é a melhor resenha que eu vi do festival e principalmente do show. Estava esmagado na grade, gritando… não foi só o melhor show de rock da noite, foi também o único show de rock da noite.

  4. Vargo Galvo em novembro 21, 2010 às 23:02
    #4

    Bragatto, assino embaixo do seu texto, à exceção da parte das músicas de abertura. A abertura com inéditas foi em função dos números permitidos para filmagem midiáticas extraoficiais. Me refiro ao fato de que outros sites corporativos cobriram o Planeta Terra e houve liberação para filmagem de algumas músicas para alguns.

  5. Kary em novembro 21, 2010 às 23:08
    #5

    Bom, eu estava nesse show, perto de muitas pessoas fãs dos Pumpkins, e todos eles adoraram, saíram emocionados, e o Billy até pegou a nossa camiseta no final. Quer show melhor? Interação total com a galera durante as músicas, foi fantástico.

  6. ZECA em novembro 22, 2010 às 0:21
    #6

    Nina eu não sei aonde vc estava, mas eu vi o mesmo que o da resenha

  7. Gustavo em novembro 22, 2010 às 10:23
    #7

    Sem dúvidas, o melhor da noite. Show para fãs, soco na cara, pesado, animal!!!

  8. Gustavo em novembro 22, 2010 às 10:35
    #8

    Show para fãs de verdade. Quem conhece a história de SP, e quem é Billy “Ronaldinho” Corgan, sabe que viu uma apresentação genuína. Soco na cara, som pesado, introspectivo, revoltado… foi animal!!!!

  9. Sheila em novembro 22, 2010 às 10:38
    #9

    Eu estava nesse show, e quando a banda entrou no palco, foi uma parada power, foi um verdadeiro show de rock, e ali eu vi a diferença de uma banda desse porte, pras outras que tocaram antes. Não tem comparação. Smashing Pumpkins arrasaram.

  10. Sheila em novembro 22, 2010 às 10:39
    #10

    Quem não foi se ferrou. Fato.

  11. marcos em novembro 22, 2010 às 13:07
    #11

    Desculpem, mas é muito chato!

  12. Estevan em novembro 24, 2010 às 0:19
    #12

    Curto muito Smashing Pumpkins e o fato de eu ter ficado grudado na grade só para ver eles compensou em ter que encarar os shows chatos do Novos Paulistas, Of Montreal, Mika, Phoenix e Pavement.
    Cantei, gritei, pulei… curit muito o show dos SP. Saí de lá com sensação que saia de um parque quando criança, ops mas eu estava num parque e ainda por cima vi o show da banda que curto pra caralho. Me senti a criança realizada!

  13. Gustavo em novembro 24, 2010 às 14:31
    #13

    Achei o show incrível e mais do que nunca penso que o Smashing Pumpkins é uma banda para fãs de verdade. Se você acha que vai chegar num show e encontrar um repertório de 15 anos atrás, melhor nem ir. Particularmente não tenho do que reclamar. Se fossem me pedir pra fazer um set, certamente seria diferente, mas posso dizer que amo cada música que foi tocada ali.

  14. Hugo em novembro 25, 2010 às 9:00
    #14

    Sou muito fâ, portanto uma resenha feita por mim seria muito tendenciosa. Tem pelo menos umas 20 músicas que eu gostaria de ter ouvido no show. Mesmo assim eu achei bom demais! Acredito que quem conhece SP a mais tempo sentiu que o Billy estava menos chato do que de costume. Acho que ele se empolgou com a energia da galera!

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