O Homem Baile

O inferno é aqui

Claustrofobia faz show destruidor no domingo de peso do Festival Dosol, no qual brilharam o local Kataphero e o Conjunto Musical Merda. Público se esbaldou em incansáveis rodas de pogo. Foto: Ricardo Pinto/ Divulgação.

Claustrofobia: evolução sonora e amostra do material com letras em português

Claustrofobia: evolução sonora e amostra do material com letras em português

A turistada pode partir para as famosas praias escondidas atrás de dunas fenomenais, mas no domingo do Festival Dosol, a juventude de Natal só quer saber é de esporro mesmo. E chega sedenta na tarde encalorada para ver o bicho pegar. É uma espécie de redenção da música pesada local – e de outras cidades do Nordeste – que vai fundo no metal extremo e no hardcore. Não é dizer que a Ribeira, na região portuária, seja transformada na filial do inferno, mas é como se a chave da cidade estivesse entregue ao Cão em forma de gente.

Alta tensão

Kataphero: revelação local e sintonia com a Europa

Kataphero: revelação local e sintonia com a Europa

Quando o Claustrofobia entrou no palco principal, no Armazém Hall, o ambiente já fazia jus ao nome do grupo. Nascido thrash metal, o quarteto paulistano evolui a olhos vistos e hoje faz um som pesadíssimo e em sintonia com o que vem lá do outro lado do Atlântico. Das raízes, o grupo traz a manha de cadenciar trechos de uma mesma música, alternado com porradas impiedosas. A novidade é a gravação do próximo álbum, o primeiro com letras em português, de onde saiu “O Pino da Granada”, como boa amostra do que vem por aí. O vocalista/guitarrista Marcus d’Angelo se adapta muito bem – já tinha feito o cover bem sacado para “Filha da Puta”, do Ultraje a Rigor. Mas foi com “Arise”, do Sepultura, que o público veio abaixo em monumentais rodas que sumiam e surgiam sem parar. Para quem acha que o metal brasileiro parou no Sepultura, taí a continuação.

O Nordeste sempre foi pródigo no som pesado nacional, e esta edição do festival não deixou barato, com Facada , do Ceará; Desalma, de Pernambuco; e a local Kataphero. Local o modo de dizer, já que o quarteto investe com precisão no death metal comum aos pares europeus, como o Hypocrisy, só para citar um exemplo. As guitarras às vezes limpas, melódicas até, dão um interessante contraste com a porrada que sai das caixas do Centro Cultural Dosol, abarrotado e encalorado. Com poucos – mas eficientes – solos, o grupo só peca pelo excesso de sons pré-gravados, a menos que um tecladista estivesse malocado atrás do palco para não dar bandeira.

Desalma: Thrashão dos bons que vem de Recife

Desalma: Thrashão dos bons que vem de Recife

Na cadência do thrash, o Desalma vem de Recife como o ímpeto da destruição. O trio aposta em levadas sombrias que logo avançam para a velocidade cruel que faz doer os ouvidos mais sensíveis. O resultado é um som técnico, bem tocado, mas sobretudo com alto poder de combustão, faísca ideal para que todos se debatiam na beirada do palco. Quase não se percebe, mas as letras que saem do vocal gutural são cuspidas em bom português, o que faz do grupo uma grata revelação no metal nacional. Ao Facada coube fechar a noite no palco menor, e o trio não fez por menos. Em poucos minutos despejou um crust/grincore esporrento para arrematar a noite. “Estamos aqui para celebrar o prenúncio do fim”, disse o baixista James, num dos intervalos. Vacilou quem saiu antes para ver o show de Marky Ramone, cujo início atrasou em quase uma hora.

Rodas gigantes

Mais cedo, entre a turma do hardcore, a tarde foi de altos e baixos. A ansiedade pelo show do Garage Fuzz fez a produção iniciar a apresentação um pouco mais cedo. Antes do vocalista Farofa e sua turma entrarem já tinha gente se jogando sobre os outros em pensamento no Armazém Hall. O grupo fez um show correto e lembrou os bons tempos do hardcore melódico, antes da contaminação emo que praticamente tirou o importante subgênero de cena.

Facada: fim do mundo anunciado

Facada: fim do mundo anunciado

Incorreto é Mozine, dono de bandas toscas que fazem sucesso em Natal: Mukeka di Rato (a maior delas), Os Pedrero (a preferida da casa) e o Merda, no qual faz as vezes de guitarrista. Como de hábito, o grupo agradou geral. Tocando uma guitarra de brinquedo (mas que sai som) adquirida num camelô japonês, ele desencadeou as maiores rodas da tarde, quando o público ainda chegava ao festival. De quebra, homenageou o capixaba (o grupo é do Espírito Santo) mais ilustre, ao tocar uma impagável versão para “Quando”.

Apresentado como uma banda de “surf e lombra”, o Mahatma Gangue, de Mossoró, é na verdade um trio, que tem Rafaum (Distro) e Pedro (Catarro) na formação. Com músicas a serem melhor arranjadas e tocadas mais vezes, sobra vontade ao grupo, mas falta repertório mais definido e ensaiado. Já o AK-47 mistura referências a vários segmentos do metal, mas aparece mais por conta do vocalista, que tem o corpo cravado de agulhas durante o show e se banha de “sangue”. Duas bandas que precisam evoluir. Em tempo: por questões logísticas o Homem Baile não pôde ver o show das bandas Pumping Engines, Burn My Heart At Sunset e Todos Contra Um, todas locais.

Intermináveis rodas de pogo povoaram o show do singelo Merda

Intermináveis rodas de pogo povoaram o show do singelo Merda

Placar final Rock em Geral:

Amp: 7,0
Love Bazukas: 7,0
Hossegor: 6,0
Decreto Final: 5,0
Nevilton: 7,0
Humana: 5,0
Mechanics: 9,0
Sweet Fanny Adams: 7,5
Sex On The Beach: 7,5
Superguidis: 8,0
Venice Under Water: 5,0
Camarones Orquestra Guitarrística: 8,0
Autoramas: Dez, nota dez!
The Tormentos: 7,0
Calistoga: 5,0
Black Drawing Chalks: 8,0
Vespas Mandarinas + Fábio Cascadura: 7,0
Orquestra Contemporânea de Olinda: 5,0
Cabruera: 6,0
Móveis Coloniais De Acaju: 8,0
Mahatma Gangue: 5,0
Kataphero: 8,5
Conjunto Merda: 7,5
AK-47: 5,0
Garage Fuzz: 7,0
Desalma: 7,5
Claustrofobia: 8,0
Facada: 7,0
Marky Ramones Blitzkrieg: 8,0

Veja como foi o primeiro dia do festival

Veja como foi o segundo dia do festival

Veja com foi o show de Marky Ramone no festival

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Adelvan em novembro 10, 2010 às 10:33
    #1

    Parabéns, Bragatto. Excelente cobertura, como sempre.

  2. Marcos Bragatto em novembro 10, 2010 às 16:47
    #2

    Valeu Adelvan!

  3. Ricardo em novembro 19, 2010 às 0:39
    #3

    Diria até que foi salvo pela logística, hahauauahuahauhauah

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