O Homem Baile

Ramones vive

No último show do festival Dosol, ontem, em Natal, Marky Ramone mostrou a diferença entre uma reles baterista de banda cover e um Ramone original. Cerca de dual mil pessoas se acabaram numa noite fadada a receber visitas do Além. Fotos: Ricardo Pinto/Divulgação.

Tukan (guitarra), Michale Graves (vocal) e Niño (baixo); ao fundo, a lenda viva Marky Ramone

Tukan (guitarra), Michale Graves (vocal) e Niño (baixo); ao fundo, a lenda viva Marky Ramone

Todos os camisetas pretas de Natal, Mossoró, Caicó e adjacências, vivos ou mortos, foram ao domingão from hell do Festival Dosol. Os vivos saíram de suas casas, e os mortos, de suas tumbas. Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues começaria assim uma crônica sobre a segunda e última noite da sétima edição do festival, cuja primeira parte foi encerrada ontem com dois mil garotos se digladiando ao som de Ramones no talo. Como é imortal, o pensamento vivo do Mestre vaga por estas linhas assim como vagavam os de Joey, Johnny, Dee Dee e o do próprio Marky, espécie de morto-vivo que continua a espalhar o legado do grupo que inventou a música punk aos lugares onde os parceiros, agora, só aparecem como almas penadas.

Michale Graves e Marky Ramone: recebendo visitas do Além

Michale Graves e Marky Ramone: recebendo visitas do Além

A Marky Ramones Blitzkrieg, com o vocalista do Misfits, Michale Graves, de cara limpa, cumpre o que promete: 32 músicas tocadas no talo e num pique de fazer inveja a muito adolescente por aí. Vinte e duas delas coladas umas nas outras, até que Graves faça um set acústico de três canções para que o público para de se matar ali, a olhos vistos. Entre “Beat On The Breat” e “Commando”, os cestos de lixo antes usados par recolher latas de cerveja amassadas, são lançados ao ar no meio da multidão. Vestido como o protagonista do filme “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”, Graves segura a onda muito bem, já que Marky não arrefece um minuto sequer, realçando a diferença ente um baterista de banda cover e um legítimo Ramone. O vocalista ganha camiseta jogada do público, tira foto para os fãs e se vê abraçado ao fantasma de Joey a cada nova porrada lançada sem dó sobre a garotada.

Não é que o público se divida naquelas rodas de pogo com um correndo atrás do outro como é comum nas praças nordestinas, e como aconteceu em boa parte do festival. Ontem, dentro de um Armazém Hall lotado, uma massa disforme se deslocava de um lado a outro, numa velocidade comandada pelos riffs manjados, porém eficientes depois de todos esses anos. Do meio do povo insurgiam body surfers lançados ao ar a todo o momento. Na falta do mosh de palco, controlado pela produção para que o caldo não desandasse, uns eram espremidos pelos outros e se jogavam sobre a multidão música após música. Enquanto no extremo Sul do País Sir Paul McCartney fazia chorar com canções de amor que embalaram gerações, no extremo Norte pérolas do cancioneiro ramônico como “Teenage Lobotomy”, “Pet Semetary”, “I Wanna Be Sedated” e “The KKK Took My Baby Away” mostravam outro panorama para a juventude disposta a tudo para se divertir. Como faziam os Ramones, aliás.

Marky Ramone e a bateria que fez questão de afinar

Marky Ramone e a bateria que fez questão de afinar

Antes, o show parecia que não iria acontecer. Marky Ramone decidiu que a bateria fosse desmontada do palco para ser afinada (!) no camarim, ocasionando um atraso de quase uma hora (coisa inédita nos dois dias de shows) e ele próprio ainda passou o som no palco, para delírio do público. A ansiedade era tanta que, o início, os organizadores cortaram um dobrado para que tudo funcionasse sem maiores problemas. Durante cerca de hora e meia, alucinações tomaram conta do local; teve gente que saiu de lá garantindo que viu, pairando sobre o palco, a trinca sagrada: Joey, Johnny e Dee Dee. Pode não dar para acreditar, mas a certeza unânime entre os garotos de Natal é uma só: Ramones vive.

Veja como foi o primeiro dia do festival

Veja como foi o segundo dia do festival

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Arthur Cumming em novembro 8, 2010 às 21:08
    #1

    Não tem palavras para explicar o que foi esse show de ontem… realização de um sonho! Fantástico!

    Ramones vive!

  2. Márcio Death Sangrento em novembro 10, 2010 às 2:21
    #2

    O melhor show da minha vida! Trocaria meus mais de 20 anos no rock somente por essa noite de domingo!
    Só queria mesmo poder ver isso de novo, pelo menos uma vez, antes de morrer!

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