O Homem Baile

Zorra total

Green Day transforma show de rock em espetáculo de entretenimento pueril e hipnose coletiva. Fotos: Luciano de Oliveira.

O showman Billie Joe comandou o Green Day e o público num espetáculo cheio arifícios extra-musicais

O showman Billie Joe comandou o Green Day e o público num espetáculo cheio arifícios extra-musicais

As cerca de dez mil pessoas que se dirigiram ontem à noite à HSBC Arena, no Rio, para assistir a um show de rock saíram de lá satisfeitas com um dos maiores “entertainers” de que se tem notícia. Capitaneado pelo líder guitarrista/vocalista Billie Joe Armstrong, o Green Day, além de apresentar ao público uma saraivada de sucessos, tratou de usar todos os artifícios imagináveis para manter o público em movimento, resultando numa hipnose coletiva poucas vezes vistas no mundo do show business. Fogos de artifício, fantasias, jatos d’água, lança-rolos de papel higiênico e de camisetas, chamado a voluntários para cantar no palco e jatos de papel picado, entre outros, foram usados sob o comando de Billie Joe, espécie de Silvio Santos do rock que não perdia uma única chance de puxar um coro de “êêê, ôôô” com a plateia.

O baixista Mike Dirnt faz careta para o público

O baixista Mike Dirnt faz careta para o público

Já havia sido assim na última visita do grupo ao Brasil, em 1998. Ali, Billie Joe, gordo como uma porca (veja fotos aqui e aqui), tocava riffs de bandas clássicas, vestia mil camisetas, uma por cima da outra e usava máscaras de monstros, entre outros artifícios performáticos. Só que, na época, o grupo desfrutava de franca decadência e tudo parecia um mecanismo de sobrevivência. Com o renascimento pós 11 de setembro e o sucesso dos álbuns “American Idiot” (2004) e “21st Century Breakdown” (2009), o procedimento deveria cair no desuso, mas, ao contrário, o grupo o aperfeiçoou e investiu pesado no entretenimento, deixando de lado a música. Fosse outro o repertório de sucessos, de qualquer banda, em meio a tanta animação de platéia, o resultado seria o mesmo. Ou Billie Joe está inventando uma nova forma de ser fazer show de rock ou está completamente perdido.

“Boa noite, Rio, vocês estão prontos? O Green Day está de volta, depois de longos 12 anos”, disse o vocalista logo no inicio do show, que começa com a boa “21st Century Breakdown”. Na seguinte, “Know Your Enemy”, ele já vai para o canto do palco e toca com a guitarra nas costas, dando início à série sem fim de presepadas homéricas. Ao fundo panos gigantes começam a cair em meio a sucessivas explosões. O som, alto pacas e na pressão, só aumenta a animação do público, que responde a cada chamado de Billie Joe para repetir refrões, cantarolar, levantar braços e participar de alguma forma. Nenhum artista no mundo do rock tem tanto o público na mão como o Green Day – parece até comício ou celebração de fanáticos religiosos.

O comportado batera Tre Cool usou até sutiã

O comportado batera Tre Cool usou até sutiã

Em “East Jesus Nowhere”, um voluntário infantil é chamado ao palco para “levar um tiro, morrer” e depois dar aquele que deve ter sido o primeiro mosh da vida, e logo num show do Green Day! Em “2000 Light Years Away”, outros dez fãs juvenis sobem ao palco para cantar, tirar fotos e perturbar Billie Joe no palco. Tudo, claro, ensaiadinho e com a permissão da produção. O incauto que subiu por forças próprias saiu sob uma poderosa gravata de um dos seguranças. Enquanto tudo isso acontece, o som continua no talo. Além de Billie Joe, o baixista Mike Dirnt e o baterista Tre Cool, há três músicos de apoio: Jason White e Jeff Matika (guitarras) e Jason Freese (teclados). Eles fazem de tudo, inclusive usam fantasias (a de Elvis decadente é impagável) em “King For a Day”.

Antes, na dobradinha “Longview”/“Basket Case”, o grande hit da primeira era Geen Day, o momento mais esperado, quando um fã é chamado para cantar. Depois de uma garota de péssima voz, um candidato a Billie Joe se sai bem imitando as presepadas do ídolo e fatura uma guitarra de presente, em pleno palco. Tudo previsto no roteiro, claro. Tanto que, na platéia, fãs seguravam cartazes com a frase “me dê sua guitarra”. Pode-se dizer tudo de Billie Joe, mas o vocalista desfruta de uma forma física impecável, e simplesmente não pára em cerca de duas horas de espetáculo corrido. Nos dois momentos medley do show, fãs de todas as idades e origens reconhecem e cantam clássicos de Black Sabbath, Led Zeppelin, Ramones, Rolling Stones e até “Shout”, dos Isley Brothers, entre outros. Quer coisa mais desnecessária num show do Green Day que Isso? Pois então vá perguntar aos fãs, que, de seu lado, não deixam de responder a um só chamado para cantar, pular, levantar os braços. É o espetáculo de animação pleno e total, em estado bruto.

Um raro momento em que Billie Joe pára de agitar

Um raro momento em que Billie Joe pára de agitar

Depois de uma geral na primeira era Green Day (que inclui “Burnout” e “When I Come Around”), a primeira parte termina com a dobradinha “21 Guns”/”Minority”, esta num clima folk com acordeom, harmônica e tudo. No bis, predomínio da segunda era: “American Idiot”, que detona a maior roda de pogo da noite (ninguém cansado quase três horas depois?) e a “progressiva” “Jesus Of Suburbia”. Curiosamente, num show onde a agitação é tamanha que é quase impossível não se surpreender, mesmo com óbvio, o desfecho é calmíssimo, com “Whatsername” só no violão, o momento lindo com “When September Ends” e “Good Riddance”, tudo como manda o roteiro. No final a sensação de todos é que acabou de acontecer o maior show de rock em todos os tempos. Ou, no mínimo, o mais maluco de todos.

Set list completo:

1- Song of the Century
2- 21st Century Breakdown
3- Know Your Enemy
4- East Jesus Nowhere
5- Holiday
6- Nice Guys Finish Last
7- Give Me Novacaine
8- Letterbomb
9- Are We the Waiting
10- St. Jimmy
11- Boulevard of Broken Dreams
12- Burnout
13- Geek Stink Breath
14- Paper Lanterns
15- 2000 Light Years Away
16- Hitchin’ a Ride
17- When I Come Around
18- Iron Man / Rock N’ Roll / Sweet Child O’ Mine / Highway to Hell / Back In Black
19- Brain Stew
20- Jaded
21- Longview
22- Basket Case
23- She
24- King For a Day
25- Shout / Blitzkrieg Bop / Break On Through / Satisfaction / Hey Jude
26- 21 Guns
27- Minority
Bis
28- American Idiot
29- Jesus of Suburbia
30- Whatsername (acústico)
31- Wake Me Up When September Ends
32- Good Riddance (Time of Your Life)

O Green Day toca amanhã, em Brasília, e na quarta, dia 20, em São Paulo. Saiba tudo aqui.

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Comentários enviados

Existem 11 comentários nesse texto.
  1. Henrique em outubro 16, 2010 às 14:45
    #1

    Um comentário sensato, definindo bem o que foi o show. Talvez a melhor crítica que li até agora. Eu, como fã desde o primeiro CD, e tendo ido em 98, vi coerência em tudo e gostei do show inteiro. Se é a forma certa ou errada de se fazer um show de rock, quem somos nós pra dizer. Mas no mínimo original e funcional, é. Foi um show pra lembrar.

  2. sh9xep em outubro 16, 2010 às 15:07
    #2

    Bem, assim ninguém dorme.
    Acho ótimo como os caras do Green Day interagem com os fãs, e o Green Day sempre foi uma banda… feliz. Eu gosto muuito do Green Day, e vou no show deles, vai ser ótimo!

  3. Carlos Mazmanian em outubro 16, 2010 às 16:28
    #3

    Qual set list tá certo, esse aqui ou o da matéria “Green Day faz Maratona Rock na HSBC Arena”?

  4. Marcos Bragatto em outubro 16, 2010 às 18:16
    #4

    Qual a diferença entre os dois, Carlos?

  5. Rodrigo em outubro 17, 2010 às 12:48
    #5

    O comportado batera Tre Cool usou até sutiã

    Putz, nem li tua critica, ja li duas e me decepcionei, mas peguei essa frase embaixo da foto do Tre. Muda isso, dá pra notar de longe que você nem conhece a banda, só mandaram você fazer uma crítica e você fez…

    Sugestão: O batera maluco Tre Cool usou até sutiã

  6. Nicole em outubro 17, 2010 às 16:56
    #6

    dá pra notar de longe que você nem conhece a banda, só mandaram você fazer uma crítica e você fez… [2]

    Não sei no Rio, mas em Porto Alegre ele nem precisava pedir pros fãs reagirem… era instintivo…

  7. AMK1710 em outubro 17, 2010 às 21:54
    #7

    Esse foi meu primeiro show, e, pra mim, foi perfeito nos termos de show e tal, mas pra mim faltaram as músicas “Viva la Gloria!” e “Christian’s Inferno”, que são músicas para fazer a plateia pilhar junto com eles, encaichariam muito bem. Eles poderiam tirar algumas menos conhecidas, botar essas duas e alongar mais um pouco as músicas dos medleys, porque todos as conhecem, todos se animam…

  8. Raila Spindola em outubro 18, 2010 às 9:27
    #8

    “O comportado batera Tre Cool usou até sutiã”… Ri pra caramba com essa. Enfim, concordo com o Henrique, se é a forma certa ou não de fazer rock eu não sei, só sei que me diverti como nunca na vida, amei o set list, amei a performance, amei a interação, amei tudo. Parabéns ao Green Day pelo melhor show/espetáculo que já vi na minha vida.

  9. Rodrigo Lacerda - MG em outubro 18, 2010 às 16:22
    #9

    O show foi muito bom. Aliás, show não, espetáculo !!!

  10. Carooll Rabello em outubro 18, 2010 às 21:29
    #10

    Foi o melhor show, o melhor da minha vida toda! Billie Joe é o melhor!

  11. Bárbara em dezembro 29, 2011 às 16:58
    #11

    Fui no show de SP, e tenho que admitir que foi o melhor show/dia da minha vida! Passei muito tempo esperando por isso, e na hora parece que é algo surreal, sei lá, que você tá sonhando! Eles fazem um dos, se não for o melhor show de rock da atualidade. É inacreditável o que você sente quando tá lá, o publico louco, gritando, pulando e reagindo a cada palavra que saía da boca deles… Só sabe como é quem já foi a um show desses caras. Espero ansiosamente por outro!!! =D

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