Fazendo História

Cachorro Grande
A aposta do rock nacional para 2005

Matéria revelando em primeira mão os detalhes do álbum “Pista Livre”, o primeiro do grupo por uma gravadora. Capa da edição número 81 da revista Dynamite, de março de 2005. Fotos: Reprodução/Internet

cachorrodyna81Há cerca de um ano eles não sabiam ao certo se o segundo disco, já gravado, seria lançado. Hoje comemoram a masterização do terceiro, feita nos estúdios Abbey Road, por Chris Blair, o homem que tem no currículo títulos do naipe de “Ok Computer” (Radiohead) e “Love On Other Planets” (Supergrass). Em um ano muita coisa mudou para a banda que, com uma fita de rolo embaixo do braço, foi colocada para correr do escritório da antiga gravadora, que exigia uma coisa “mais dentro do padrão radiofônico”. Hoje, além do terceiro álbum, “Pista Livre”, o Cachorro Grande participa do “acústico dos gaúchos”, ao lado de Wander Wildner, Ultramen e Bidê ou Balde, e tem o primeiro álbum relançado. Como se vê, em um ano a banda foi do inferno ao céu.

Mas não pensem que as coisas foram fáceis para o Cachorro Grande. A banda faz um rock retrô à sixties desde 99, e saiu do sul do País para tocar em tudo o que era festival independente. Em 2001, o disco homônimo deveria ter colocado o grupo na mídia, mas, vítima da má distribuição do mercado independente, ficou praticamente incógnito. O segundo, “As Próximas Horas Serão Muito Boas”, gravado a duras penas num gravador de rolo, custou a nascer, e só saiu depois que Lobão resolveu editá-lo encartado na revista outracoisa, em maio do ano passado. Aí, sim, as coisas começaram a acontecer.

Em outubro, quando a Dynamite conversou com a banda, eles já estavam prestes a assinar o contrato com a Deckdisc, e entraram em estúdio no início do ano, para em menos de trinta dias concluir a gravação de “Pista Livre”, o disco que, impulsionado pela estrutura de uma gravadora, promete colocar o Cachorro Grande na ordem do dia do rock nacional. Depois de uma visita aos estúdios Tambor, a reportagem da Dynamite teve acesso exclusivo a uma cópia do disco (antes de ele passar por Abbey Road) e depois conversou com o vocalista Beto Bruno e o guitarrista Marcelo Gross, a dupla “Jagger and Richards”, como eles mesmos gostam de dizer. Completam a banda Jerônimo Bocudo (baixo), Gabriel Azambuja (bateria) e Pedro Pelotas (piano).

A conversa resultou nessa entrevista exclusiva e em primeira mão, onde a dupla conta como foi todo o processo de gravação, fala sobre o trabalho num estúdio profissional (fato inédito para eles), sobre as expectativas e a repercussão em cima do novo disco, além de apresentarem eles próprios cada música. “Pista Livre” estará disponível no mercado somente em maio, e o primeiro single, “Você Não Sabe o Que Perdeu”, no início de abril. Mas antes disso, você pode ficar por dentro de tudo. Aqui e agora.

Como aconteceu a gravação do disco?

Marcelo Gross: Esse foi o disco que mais rolou com tranqüilidade, nos outros nós fizemos tudo na correria. Trabalhamos com o Rafael (Ramos, produtor) e o Rodrigo Vidal (engenheiro de som), dá para deixar as coisas na mão deles, eles sacaram o espírito da banda. O Rafael entende de Stones, Supergrass, essas coisas que nós gostamos. Começamos gravando no estúdio AR, bateria e pianos, e depois fomos para o estúdio Tambor. Foi a primeira vez que nós gravamos num estúdio profissional. Nas outras duas tínhamos gravado em estúdios pequenos que não tinham os periféricos necessários para deixar o disco porrada, uma coisa profissional mesmo. Isso nos deixou mais empolgados ainda.

Beto Bruno: Nós nunca havíamos entrado num estúdio de verdade, com a infra-estrutura que tivemos ali. Nunca trabalhamos com produtor, sempre ficava tudo por nossa conta. Quando chegamos foi um susto, e a maneira como nos trataram foi perfeito. Conseguimos ficar com a cabeça cem por cento no disco, foi muito diferente dos outros. Acordávamos, íamos correndo para o estúdio e saíamos de lá três da manhã, às vezes até mais tarde. O Rafael foi sensacional como produtor, ele catalisou a energia da banda. Desde o primeiro dia nós começamos a sentir firmeza em relação a ele e ao Rodrigo Vidal, que é um cara que faz mágica.

Foi quanto tempo de gravação?

Marcelo: Menos de um mês, chegamos no dia 6 de janeiro e terminamos 3 de fevereiro. Foi um “intensivão”, trabalho pra caramba. Até pensei que por ser no Rio, ia dar para pegar praia todos os dias…

Vocês chegaram com todas as músicas prontas? Elas foram testadas nos shows?

Marcelo: Chegamos com tudo pronto, só não tinha a “Sinceramente”. Logo que nós chegamos no Rio o Beto disse que o repertório tava bem fechado, mas se tivesse uma balada seria melhor. O Rafael disse a mesma coisa, precisava de uma balada. Acabamos fazendo a música no Rio mesmo, fiz a letra no estúdio. As outras nós já tínhamos aprontado.

Beto: Tava faltando um baladão daqueles clássicos. E o Gross tinha uma música que era uma coisa mais folk, uma mistura do Bob Dylan do “New Morning” com o Paul McCartney do “Ram”. Eu propus dar uma arrastada naquele tempo, tirar uma batida do violão para ver se não rolava uma balada. Aí o Gross se trancou e saiu com a música inteira. Enquanto rolava um tempo entre uma bateria e outra, nós ensaiamos e acabou acontecendo. Era para nos termos gravado esse disco em março, mas a gravação foi antecipada. Quando o Rafael avisou que nós íamos gravar em janeiro, estávamos em São Paulo e ajeitamos as metades de música do Gross com as metades de músicas minhas, e acabaram saindo as outras oito músicas.

Marcelo: No final do ano fomos fazer um show no Garagem Hermética (casa de shows em Porto Alegre), aproveitamos e tocamos o disco inteiro, para ver o que a galera ia achar e para nos sentirmos seguros.

Esse disco tinha um conceito de como ele deveria ser?

Marcelo: A medida em que as músicas iam aparecendo nós íamos vendo o que precisava. Apareceram umas quatro canções, aí dizíamos: “estamos precisando de uns dois rockões da porra”. Daí trabalhamos “Você Não Sabe o Que Perdeu” e “Agora Eu Tô Bem Louco”.

Beto: Sempre temos uma visão de como as músicas funcionam entre elas dentro de um disco. Mas é no final das gravações que, olhando de cima, vamos ter uma noção do que o disco vai ser. Até a gravação definitiva nós fomos experimentando um monte de coisa e acabou dando no que todo mundo queria. Eu tô feliz porque ficou bem melhor do que imaginávamos. No primeiro e no segundo disco nós corríamos atrás pra caralho, uma dificuldade. Nessa época do ano, no ano passado, nós não sabíamos se íamos conseguir lançar o segundo disco, que tava gravado e ninguém queria lançar. E agora estamos com o lançamento certo para o terceiro disco. Não tem como não estar feliz.

Quais eram as músicas que já estavam prontas?

Marcelo: “Velha Amiga”, que foi a primeira do disco, “Longa Metragem”, “Novo Super Herói” e “Super Amigo”. ”Interligado” é uma música que o Beto fez no início da banda e eu tinha feito um arranjo de cordas para ela, mas nós não gravamos porque não tínhamos como pagar esse arranjo de cordas ou ter alguém legal para escrever.

O disco vai ser masterizado em Londres…

Marcelo: Vai ser masterizado pelo Chris Blair, o mesmo cara que masterizou o “Love On Other Planets”, do Supergrass, e “Ok Computer”, do Radiohead.

Como rolou de fazer essa escolha?

Marcelo: O João Augusto (produtor, da Deckdisc) ouviu o disco, se amarrou e disse que tínhamos que masterizar em Abbey Road. O Rafael já tinha esse nome, que é o cara que fez todas essas bandas que nós gostamos. Ele nos disse e ficamos com o sorriso na orelha. Se você imaginar que o “Próximas Horas…” foi gravado em rolo… Várias vezes eu peguei ônibus para ir masterizar na casa de um cara em Porto Alegre. Se numa dessas 20 vezes que eu peguei ônibus eu imaginasse que o nosso próximo disco ia ser masterizado em Abbey Road, eu tinha largado tudo. Nem em brincadeira nós falávamos isso. É uma realização.

Beto: Quando ele falou nós choramos dentro do estúdio. O cara foi editor de tape do Abbey Road, desses discos novos que eu escuto. Nem brincando pensamos que um dia íamos masterizar um disco no Abbey Road. Sabe aquelas brincadeiras que você faz quando tá bêbado? Nem assim fizemos isso.

O disco anterior foi rejeitado pela gravadora porque não estaria no “padrão radiofônico”. E esse, tá no padrão de tocar em rádio?

Marcelo: Ele tem as duas coisas. Tá no padrão rock e no padrão rádio. Ele tem condições de tocar no rádio, pois foi gravado com toda uma qualidade de som. O outro disco toca no rádio pra caramba aqui. “Hey, amigo” é um som que toca direto. Foi o primeiro lugar aqui no Rio Grande do Sul. “Que Loucura!” toca direto em São Paulo. Mas esse não é tanto a questão do padrão radiofônico, é a qualidade do som mesmo, que cai mais redondo no ouvido das pessoas.

Beto: É Cachorro Grande, não teria como ficar aquela coisa tão radiofônica. Não que eu não goste, eu gosto de música pop. Um dos discos mais sensacionais da minha vida é o “A Hard Days’s Night”, dos Beatles, que são coisas popérrimas. Mas nós nunca pegamos uma música na mixagem ou na composição, na gravação e pensamos: “essa aqui é para tocar no rádio”. Aquilo ali é o que nós sentimos mesmo.

Mas você acha que tem coisa que toca?

Beto: Só vendo, eu não sei te dizer. Até não gosto de arriscar palpite, mas por outro lado nós somos uma banda que tá batalhando há um tempão, e eu fico super feliz que toque, porque fazemos músicas para as pessoas ouvirem. Vivemos de música, nenhum de nós tem outro emprego, não sou um dentista que brinca de rock. Essa é a nossa vida, eu parei de estudar na sexta série.

Vocês chegaram a pensar em aproveitar que estavam fazendo um disco bem produzido, para fazer um disco que dê para rolar também…

Marcelo: Não, não pensamos assim. Sempre pensamos em tirar o som mais legal possível. Por exemplo, se você pegar o Jet, é uma sonoridade meio tosca, meio anos 60, e é radiofônico pra caramba, toca no rádio direto. O Strokes têm aquela voz podrinha lá, mas tá sempre tocando. Nossa mentalidade foi fazer um disco legal pra caramba, com o melhor som possível. Se vai tocar no rádio ou não isso já são outros quinhentos.

Vocês agora estão numa gravadora que tem estrutura para fazer divulgação. Vocês acham que chegou a hora de a banda crescer em termos de projeção na mídia, como aconteceu com outros artistas da Deck?

Marcelo: Se isso acontecer vamos ficar muito felizes. Nós trabalhamos desde o início para ter um reconhecimento maior, para nossa música chegar ao maior número de pessoas possível. E se a gravadora nos dá essas condições, vamos abraçar com tudo. Eu tenho certeza que uma galera que não conhece vai ouvir e acabar achando simpático. Estamos com uma expectativa legal, e a Deck tem essa política de direcionar o artista para o público dele, que eu acho fundamental. Normalmente as majors perdem o foco para onde tem que direcionar o artista. É uma coisa que eu vejo que não acontece com a Deck, daí o sucesso da Pitty e do Dead Fish.

Beto: Nenhum de nós tem preconceito com mídia. Graças a Deus existia toda aquela mídia nos anos 60, senão eu não teria todo o material dos Beatles que eu tenho. Eu quero que nós toquemos também, não vejo problema nenhum. E depende disso para conseguirmos shows, é dos shows que nós vivemos. Eu quero ter uma vida boa também.

Vocês já sabem quais vão ser os outros singles do disco?

Marcelo: Tem as que nós gostamos bastante, que é “Velha Amiga”, que nós queremos trabalhar porque ela é muito importante para nós, e tem outras que talvez sejam trabalhadas: “Bom Brasileiro”, “Novo Super Herói” e “Sinceramente”.

Como vocês escolheram o single?

Marcelo: A direção da gravadora faz a reunião deles e nós fazemos a nossa. Pensamos em começar com um som que fosse mais a nossa cara possível. E “Você Não Sabe o Que Perdeu” é nossa cara total. Quando eles fizeram a reunião deles, escolheram a mesma música, acharam que essa era a mais apropriada para começar os trabalhos.

Beto: Temos bastante coisas diferentes nesse disco que não fizemos nos outros, mas a primeira coisa que eu gostaria que a galera visse é um rockão típico da Cachorro Grande. Tem muita gente que espera isso, eu também espero isso das bandas que eu curto.

Mas agora vocês vão pegar um público maior, de gente que nunca ouviu falar na banda e que vai passar a conhecer…

Beto: Mas eu me preocupo com aqueles que estão ali desde o primeiro disco, com quem foi atrás dos discos e quer ouvir aquilo ali. Eu tenho o olhar de fã, porque não gosto de ser decepcionado pelos meus ídolos.

Falem um pouco da “Desentoa”, que parece ser bem diferente das músicas de vocês…

Marcelo: Ela não é tão diferente assim. No primeiro disco tem “Fantasmas”, que é um clima assim, no segundo tem “Olhar Pra Frente”. Essa é a música mais experimental do disco. Nós piramos com um teclado maluco que o Paul McCartney usava no “Band On The Run” e o Supergrass usa direto. É uma música para frente. Pensamos em fazer uma coisa diferente mesmo. Estamos sempre tentando buscar o som característico do Cachorro Grande, que não pareça com Beatles, Stones ou Supergrass.

A letra de “Novo Super Herói” é baseada em alguma história verídica?

Marcelo: É a cara de uma galera que tem aqui no Rio Grande do Sul e em São Paulo também. A cada semana é uma bandinha diferente que surge e o cara tá sempre mudando, sempre acompanhando a nova onda. Ele gosta da onda, não do som. É o típico caso da turminha indie, que tá sempre atrás da última bandinha da moda e não sabe o que quer. É uma tiração de sarro com eles.

Beto: A galera tá um pouco sem personalidade. Eles escutaram Nirvana, viraram indie, botaram a camisa do Nirvana. Depois foram ouvir Blur, tavam curtindo pra caralho, teve uma fase mod no começo dos anos 2000, depois escutaram Strokes, trocaram de super herói de novo. A última agora é Libertines, então tem um monte de viadinho em São Paulo andando com um visualzinho Libertines, cabelinho arrumadinho e o olhinho pintado. Nós temos fama, de “pô, os guris tão tocando lá em Recife, mas estão de terninho”. Estamos de terninho há sete anos. Não somos uma banda que apareceu e mudou, nós sempre quisemos ser parecidos com os Beatles e foda-se.

Você acha que o crescimento do Cachorro Grande vai abrir portas para que outras bandas do Sul cresçam também?

Marcelo: Eu acho que nós vamos abrir portas para bandas que fazem rock de verdade, independente de ser do Sul ou não. Se fizermos sucesso, vamos acabar abrindo portas para essas bandas de rock boas, rock anos 60, tipo banda antiga, rock and roll de verdade mesmo.

Tem muita banda grande do Sul que não consegue crescer no restante do Brasil…

Beto: Talvez por não apostarem muito, parece que tá tudo bem. Eles fazem uma média de shows de modo regular e todos vivem bem e acabam ficando por aqui mesmo. Se investissem mais mudaria o cenário, mas não é o caso. Eu vejo muita banda acomodada, o que para mim é pensar pequeno pra caralho.

Turnê planejada?

Marcelo: Continuamos fazendo shows esporadicamente, agora vai ter esse acústico com bandas gaúchas, nós, Wander Wildner, Ultramen e Bidê ou Balde. Vai ser mais do repertório do primeiro e do segundo disco. Depois vamos seguir excursionando como o “Pista Livre”. Assim que sair o disco vamos fazer as capitais e botar o pé na estrada. Antigamente ninguém nos queria, agora tem esses três discos saindo quase ao mesmo tempo… Esse ano vai ser de bastante trabalho para nós, e depois vai ser um ano de colheita, de finalmente curtir um pouco, depois de todo esse tempo de batalha. Foi sempre muito difícil para nós, agora é que as coisas vão entrar nos eixos.

CONHEÇA AS MÚSICAS QUE ESTÃO EM “PISTA LIVRE”
Beto Bruno e Marcelo Gross

Você Não Sabe o Que Perdeu
Marcelo: É a cara da Cachorro Grande, por isso foi escolhida como primeira música de trabalho.
Beto: Letra positiva, eu acho legal abrir um disco com uma faixa assim.

Agora Eu Tô Bem Louco
Marcelo: É um rockão da porra, tem a participação do Lobão dizendo “E agora?“. Foi muito engraçado ele fazendo isso, uma curtição violenta.
Beto: É um rockão direto, típico da Cachorro Grande.

Desentoa
Marcelo: E um dance sensacional. Usamos teclados diferentes e fizemos uma coisa de bordão do piano que deu um balanço bem legal.
Beto: Partiu de uma linha de baixo inspirado naqueles dances que os Stones fizeram no final dos 70.

Bom Brasileiro
Marcelo: Tem uma pegada inglesa dos Stones, mas com uma letra que fala dos brasileiros. É uma coisa bem Rio de Janeiro. Quando fomos para o Rio ficamos jogando bola na praia, tomando caipirinha, e isso nos influenciou.
Beto: É uma pérola, o Gross tava iluminado quando escreveu, e eu gosto muito da maneira que eu cantei.

Situação Dramática
Marcelo: Rolou num período de dificuldade. Ela surgiu como uma oração, “mas tudo isso vai mudar”, uma coisa positiva. E é bem Frank Zappa no começo da carreira.
Beto: Eu ainda não entendi a letra, mas gosto do refrão que diz que as coisas vão mudar.

Interligado
Marcelo: Fizemos para ser uma coisa meio “Eleanor Rigby”. O arranjo de cordas ficou fiel ao arranjo original.
Beto: É a música do meu coração, eu acho que foi a coisa mais distante que a Cachorro já fez. Sou muito fã dela.

Eu Pensei
Marcelo: É Beatles fase “Rubber Soul” e tem bastante influência de Byrds. É aquela coisa que nós sempre gostamos. Eu usei uma guitarra de 12 cordas, igual a do Roger McGuinn.
Beto: Eu fico feliz de ter “músicas Beatle” no nosso repertório, que remete diretamente aos Beatles antes da lisergia.

Novo Super Herói
Marcelo: Tem uma influência do The Clash e do Televison. A letra tira sarro dessa galera que cada dia é uma coisa.
Beto: Lembra o Clash do “Sandinista”, que é outra coisa que nós gostamos muito. A letra é a sacada mais legal do disco.

Longa Metragem
Marcelo: É tirando sarro de cineasta. Quando cineasta dá pra ser xarope, puta que o pariu!
Beto: Ela é complicada pra caralho, tem três partes distintas e eu gosto disso, quebra o tempo toda hora. É uma daquelas faixas estranhas que os discos bons têm que ter.

Sinceramente
Marcelo: É o baladão do disco, aquele clima das baladas do Paul McCartney, uma coisa meio clássica, um solinho a la George Harrison.
Beto: Todo mundo tem um carinho especial por ela, porque sempre que ouvirmos vamos nos lembrar da gravação do disco.

Super Amigo
Marcelo: Essa eu acho que não parece com nada, é pesadona.
Beto: É uma música que não tem referência nem parece com nada que eu conheça. Ela cumpre o papel daquela coisa de nós querermos fazer cada vez mais músicas que não pareçam com nada.

Velha Amiga
Marcelo: É a música que dá o tom do disco, a primeira que saiu, e fala da relação dos músicos com a estrada.
Beto: É a música mais importante, é a cara e o carro chefe do disco. Ela foi a primeira que começamos a construir, e o nome do disco aparece dela.

Cachorro Grande
Pista Livre
(Deckdisc)

cachorropistalivreParece que não, mas para conseguir uma sonoridade retrô, do jeito que o Cachorro Grande quer, também é preciso produção e gravação de primeira linha, e foi isso que o grupo gaúcho buscou neste terceiro álbum. “Pista Livre” (com a capa ainda em produção) não é positivamente sujo como os anteriores, mas manteve toda a essência rock’n’roll que a banda transformou em sua característica mais marcante. Ou seja, aquele rock que todos na banda ouvem desde sempre aparece aqui devidamente atualizado por uma produção caprichada.

Dito isso, restam as composições da dupla Beto Bruno e Marcelo Gross, que também não falharam, e algumas músicas até apontaram para caminhos a serem mais bem desenvolvidos. É o que acontece nas “irmãs” “Desentoa” (num ritmo quase de discoteca, enfatizado pela linha de baixo e pela produção diversificada) e “Novo Super Herói”, que convence mais pelo embalo e pela letra do que pelas discretas guitarras que marcam o andamento; e também com a tensa “Longa Metragem”. Já “Interligado”, semiacústica, é uma pérola escondida no meio do rock cru do Cachorro Grande, e foge totalmente do conceito do disco.
Mas tem aquilo que todo mundo quer, que são os rockões típicos do grupo, como “Agora Eu Tô Bem Louco” (com participação discreta de Lobão), “Super Amigo”, com bases pesadas e teclados bem encaixados, que nasceu para receber solos e mais solos nos shows, e “Você Não Sabe o Que Perdeu”, a faixa que vai apresentar a banda para o mercadão. “Sinceramente”, uma baladaça de fazer corar David Coverdale e Steven Tyler, também marca presença, mas são os teclados à Police no refrão da otimista (apesar do título) “Situação Dramática” que vão prender o ouvinte. Vale destacar, em todo o disco, a característica voz de Beto Bruno, e o bom entrosamento entre guitarras e teclado, em arranjos bem sacados.

Mas o mais importante é que o Cachorro Grande deve entrar de vez no mercado fonográfico brasileiro, e provar que o rock pode, sim, ter espaço nas rádios e gravadoras. E nem é preciso fazer concessão, não. Basta uma certa dose de criatividade e disposição para tocar e quebrar barreiras.

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