O Homem Baile

Nas asas do rock

Cidadão Instigado e Comunidade Nin-Jitsu agregam gêneros díspares ao rock e garantem a melhor noite do Festival Casarão, em Rondônia; revelação local, Hey Hey Hey também fez bonito. Fotos: Érica Pascoal/Divulgação.

Mano Changes lidera o showzaço do Comunidade Nun-Jitsu

Mano Changes lidera o showzaço do Comunidade Nun-Jitsu

Fez pouso ontem, no Kabanas, em Porto Velho, a edição desse ano do Festival Casarão. O festival vem em palcos itinerantes desde a última quarta. Com uma instalação mais estruturada, não foi problema para as bandas fazerem grandes apresentações, cada qual com seu público e tamanho. Curiosamente, se destacaram dois grupos que usam o rock como veículo para lançar misturas inusitadas, que, de forma improvável, funcionam. Se o Cidadão Instigado usa as guitarras para resgatar a música brega dos anos 70, o comunidade Nin-Jitsu faz de riffs consagrados do classic rock a cama para trazer à tona a batida do miami bass, há séculos chupada no tal funk carioca.

O correto show do Cidadão Instigado poderia ter durado mais...

O correto show do Cidadão Instigado poderia ter durado mais...

Nem sempre é fácil reproduzir no palco aquela porção de barulhinhos que o Cidadão Instigado grava em estúdio, mas é notório o esforço que Fernando Catatau e sua turma fazem atingir esse objetivo – plenamente alcançado. De outro lado, Catatau parecia mais agressivo ao empunhar sua guitarra, num sinal de que a tendência é show, hoje correto, crescer ainda muito mais. O grupo, por exemplo, não está tocando mais a íntegra de “U-HUU”, sua obra prima, e ontem fez um show até curto – cerca de uma hora –, que inclui uma música do álbum anterior, “Método Tufu…”. Ele ainda teve parte do tempo emprestado para o guitarrista Edgar Scandura levar dois hits do Ira! (“Tolices” e “Núcleo Base”, cantada a plenos pulmões por Catatau) e uma músicas de sua carreira solo. Poderiam ter investido mais na parceria, colocando Edgar para tocar músicas do Cidadão, o que não rolou.

Mas quem melhor soube aproveitar a estrutura e colocou pressão nas caixas foi o Comunidade Nin-Jitsu. Riffs de guitarra tomados de clássicos do rock, assim como acontece com o batidão de morro carioca, tomaram conta do salão de forma avassaladora. A linha guia do grupo cruza pontos fora da curva como Falco, Cream e o “Rap da Felicidade”. O Comunidade já faz parte da história do rock nacional por ter transformado o funk de morro em música de qualidade minimamente razoável, não apenas matéria-prima para antropólogos descolados. Por isso, é mesmo um mistério o grupo gaúcho não ser convidado para se apresentar em outros festivais – Mano Changes deixou isso claro ao agradecer à produção do Casarão por terem “lembrado da gente”. O grupo tem um disco novo, “Atividade na Laje”, e dele soltou pérolas como “Funk da Paz Rebola o Resbolah” (preparadas de plantão não aceitaram o convite para testar o ritmo no palco) e “Chuva nas Calcinha”, além de velhos hits como “Detetive” e “Analfabeto”. Com bases oriundas do funk de raiz, o grupo fez de longe o melhor show desses três primeiros dias.

Hey Hey Hey: boa revelção do rock de Porto Velho

Hey Hey Hey: boa revelção do rock de Porto Velho

Não que isso fosse fácil, porque ninguém ali queria deixar barato. O Hey Hey Hey, por exemplo, headliner do palco B, mandou um rock vigoroso, com um bom trabalho de guitarras. O vocalista Marcos é curto e grosso, e parece retirar daí mesmo, paradoxalmente, o carisma com leva suas músicas: um punhado der boas canções já registradas em quatro EPs, pesadas na medida certa, que cativam com facilidade. A melhor notícia, no entanto, foi a apresentação de uma nova, composta já depois d troca de baixistas, seguramente a melhor do show. Recepção semelhante teve o “Theoria das Cordas” – o nome é ruim, mas o som, não -, só que a dupla de guitarristas pega mais pesado, abusando de riffs típicos do heavy rock setentista. Um deles é espécie de “Zakk Wylde meets Chris Cornell”, e o outro o provoca com evoluções que resultam em ótimos duelos. No final uma bela jam session – com viradas de bateria - deixou uma precoce sensação de nostalgia no ar.

Identificado com a nova onda do metal americano, o Survive veio do Acre disposto a mexer com as estruturas. Muito bem tocado, o som da banda mostra a fusão insólita de peso, melodia e hardcore de grupos como As I Lay Dying e Killswith Engage. Curiosamente o vocalista é a cara de Iggor Cavalera, mas se chama Max… Ele busca soluções para ao show, como subir em cima da mureta que faz do palco B um cercadinho, ou usar como tema em uma das músicas, a história da “conquista” do território acreano, num contexto de batalhas típico do heavy metal.

Três bandas inicialmente programadas não deram as caras – Coveiros, The Name e Cabocriolo – e o Soda Acústica entrou no line up de última hora. A cabeçuda música universitária dos rapazes não agradou e deve se transformar em poesia o mais rápido possível. Entre eles e o Cidadão Instigado rolou tanta coisa boa que poucos tiveram saco para a rave que Edgar Scandurra, sozinho no palco, implementou já na madrugada. Não precisava, né, guitarrista?

Marcos Bragatto viajou à Porto Velho à convite da produção do Festival Casarão.

O Festival Casarão termina hoje. Saiba mais aqui.

Veja também:
Cobertura da primeira noite;
Cobertura da segunda noite.

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