Rock é Rock Mesmo

Veteranos goleiam bandas novas

Numa seletiva de novatos para um grande festival, Jason e Gangrena Gasosa até pareciam estrelas internacionais

Meus amigos, o tempo passa, o tempo voa, e, por vezes, parece que estamos no mesmo lugar. É chato ficar nessa de dizer que antes é que era legal, ou no meu tempo é que era bom. Eu, do meu lado - e por ouro lado - não tenho mais tempo nenhum, me transformei num verdadeiro highlander do rock, como, aliás, muitos amigos caras de pau me chamam. Ou seja, posso falar de qualquer tempo porque não sou de tempo algum. Deu pra entender? Aposto que não.

Ocorre que, num domingão daqueles de almanaque, me pirulitei para o Circo Voador para assistir a uma seletiva de bandas para o festival Porão do Rock, que acontece todo ano em Brasília, dessa vez em setembro. Fazia muito tempo que não ia a um evento como público, ou seja, sem ter a obrigação de apurar informações, ficar o tempo todo anotando tudo o que acontece e tendo que ter uma opinião formada sobre tudo – como frisa o cancioneiro popular. No que gostei um bocado de poder olhar sem muita atenção, conversar com os outros, não ter que ver tudo, e assim por diante. Havia lá um corpo de jurados para selecionar uma banda, mas eu não estava nessa. Então: rock! Como nos bons tempos.

Acontece que, entre as bandas concorrentes, estavam as veteranas Gangrena Gasosa e Jason, no que eu me questionei: o que esses caras estão fazendo numa seletiva? Eles têm que ser é convidados para tocar em festivais - no mínimo - pelo conjunto da obra. Soube pelo incansável (porém cansado) Leonardo Panço, que o Jason, que está voltando a tocar com a formação clássica agora, foi chamado de última hora, e todo mundo topou, mesmo porque show no Circo não se rejeita. Soube pela dupla Gustavo Sá e Marcos Pinheiro, produtores do Porão do Rock, que eles e outras pessoas ouviram muitas bandas até chegarem aos concorrentes que iriam tocar no domingão, dia 23 de maio, que, além do Jason e da Gangrena, incluíam Filhos da Judith, Glass & Glue, Lê Almeida, Mauk & Os Cadillacs Malditos e Rockz, e ainda os não concorrentes Rodrigo Santos, Trampa, Autoramas e Raimundos. Mas – ele admitiu – foi tudo muito rápido. Disse que não ia apurar nada, mas fiquei sabendo de um monte de coisa. Na adianta, é a vocação nata. Tá no sangue.

Citei as bandas para dizer que todas são legais, algumas datadas, outras ultrapassadas, mas tudo legal. Mas eis que, quando Jason e Gangrena subiram ao palco, tudo mudou. Sabem quando eu digo que quando uma banda gringa entra no palco, se percebe já no primeiro toque que é, de fato, uma banda gringa? Pois foi o que aconteceu quando esses dois veteranos, remanescentes de outra época, deram o ar da graça. Sensação semelhante tive em novembro do ano passado quando o Retrofoguetes tocou no Festival Dosol (segundo um afamado produtor independente, o único evento que este escriba, acusado de gostar de rock, pode ir), em novembro do ano passado.

E olha que os integrantes o Jason estão longe de estar na ponta dos cascos; os caras não tocam juntos há um tempão. Mesmo assim, foi só a banda subir no palco pra tudo mudar. O público – claro - sacou isso logo de cara e se acabou. Não é preciso ser muito esperto para perceber que o Autoramas com violões é uma lástima; que os covers dos anos 80 de Rodrigo Santos é pra Festa Ploc; e que o Trampa não é assim tão conhecido no Rio para ser incluído num evento desse tipo. O resultado foi uma festa das boas, que iria atingir o momento máximo com a chegada do Gangrena Gasosa. É inadmissível que a produção do Porão do Rock não tenha convidado o grupo para uma apresentação especial, seja pelo som, pela indumentária caprichada ou, como já disse, pelo conjunto da obra. Com o Gangrena o bicho pegou de verdade, e o Circo teve o maior e mais participativo público de toda a noite, incluindo o Raimundos, tido como principal atração.

O resultado não poderia ser outro: os jurados, que não são cegos, escolheram o Gangrena como a banda da noite. O público – claro – também ficou com criadores do saravá metal, numa unanimidade ampla poucas vezes atingida. O público, mais esperto, colocou o Jason no segundo lugar, mas valeu o peso dos jurados que escolheram o bom Filhos da Judith para ir junto com o Gangrena para Brasília em setembro. Eu sei, era pra ser uma banda só, mas mudaram a regra do jogo no meio do jogo e colocaram duas. Bom, né? Mas deixar o Jason de fora foi uma injustiça daquelas. Isso sem falar que, no fim das contas, a produção acabou dando as costas para o público. Coisa feia. Se fosse eu, a essa altura, dava um jeito e convidava o Jason também. Mas como fui condenado justamente por gostar de rock, então tenho mais é que cumprir pena. Uma pena mesmo.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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Comentários enviados

Existem 6 comentários nesse texto.
  1. Reinaldo Araújo em junho 11, 2010 às 15:00
    #1

    Cara, estive no evento e não concordo com vc em um ponto… Nem Gangrena nem Jason (que são dos meus áureos tempos de Garage) deveriam ter o direito de ganhar… É como colocar um time de profissionais para jogar com Sub 20…
    Mas uma coisa é verdade, as bandas novas não tem referência musical… Às vezes sinto falta de alma… Parece que estão ali por vários motivos, menos apresentar um “show musical”… e isso não tem nada a ver com estilo, mas, talvez, com vocação…
    Abs!

  2. Sandro em junho 22, 2010 às 17:44
    #2

    Isso só vai parar quando as bandas cariocas pararem de se preocupar com fotos produzidas pro myspace, maconha fresca pra fumar e ficar imitando novidades estrangeias.

  3. Felipe Gurgel em junho 23, 2010 às 1:47
    #3

    Sempre achei que boa parte das bandas de HC brasileiras não calçava as botas do Jason. Sobretudo as bandas de molecada. Pena mesmo.

  4. McCoy em agosto 30, 2010 às 2:05
    #4

    Desculpem a franqueza. Concordo com o Reinaldo. Temos que fazer com que as bandas novas entendam a necessidade de desenvolver um estilo próprio. Há tempos estou lutando contra aquela mesmice que já começou lá atrás com Charlie Brown Jr, onde todas as bandas se pareciam (Tia Anastácia, Tihuana, CPM 22 e assim por diante, depois fizeram NX Zero, Strike e mais uma cambada de clones de onde eu destaco apenas Fresno… Se tivesse um guitarrista virtuoso seria quase perfeito). E desculpe-me meu caro Marcos, sobre Gangrena Gasosa e Jason, mas essas bandas não chegaram a lugar nenhum exatamente por não serem originais, não tem nada de diferente, ou melhor, que os faça serem ouvidos e seguidos pelos adoraradores de Rock. Infelizmente, pra quem gosta do bom Rock Brasil, ainda prefiro então frequentar as festas “ploc”.
    Seguindo o caminho em que as bandas atuais estão indo… vamos para lugar algum.
    Abraço.

    McCoy

  5. Tyr em maio 6, 2011 às 9:37
    #5

    O ruim é várias bandas boas de verdade e com mais bagagem e estrada terem que dividir palco com pirralhada por não terem onde tocar. É o reflexo do underground carioca que não abre portas para bandas boas decolarem.

  6. Bruno Nigro em setembro 4, 2011 às 11:03
    #6

    Porra, McCoy! Fresno, meu amigo?! Aquilo nem com o Jimi Hendrix ficaria bom. É tudo lixo, letras pobres e melosas, feitas pra menininha semi-retardada molhar a calcinha e olhe lá.

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