O Homem Baile

‘Antes tarde do que nunca’

Social Distortion chega ao Brasil com atraso histórico e faz show apenas morno para uma platéia essencialmente nostálgica. Foto (do show de Madrid, em junho de 2009): Edvill/Reprodução internet.

socialdistortionPassou ontem pelo Circo Voador, no Rio, um dos shows mais esperados dos últimos – sem exagero – vinte anos. Tanto que o Social Distortion, comandado pela lenda Mike Ness, hoje um bem acabado exemplo de veterano punk que flerta com o rock de raiz à Johnny Cash, reuniu um público “das antigas” que exalava nostalgia por todos os lados. Os cerca de 90 minutos de bola rolando, no entanto, não foram tão agitados como se esperava, com o quinteto (incluindo um tecladista oculto, quase inaudível) alternado músicas lentas, cadenciadas, com raros momentos da fúria juvenil que hoje já não existe.

Foi antes de começar a boa “Creeps” que o venerado Mike Ness parou o show para se desculpar pela demora em vir ao País. “Muito bom estar no Brasil depois de tantos anos, mas, como digo em todos os lugares, antes tarde do que nunca”, falou, num tom de cumprimento oficial. Não que fosse preciso tempo para descansar. Curiosamente o show começou com a instrumental “Road Zombie” e a cover dos Stones, “Under My Thumb”, num ritmo arrastado que não chegou a empolgar. A coisa quase engrenou no hit “Bad Luck”, mas a sequência bolada para o repertório não deixou o circo pegar fogo como era de se esperar; volta e meia quando uma música acendia a fagulha, mais baladas e canções lentas interrompiam o processo.

Mike Ness não ostenta mais o topete que lhe deu fama e fazia a ligação com o rock’n’roll de origem, mas cuida um penteado lambido à gel – chegou a sacar um pente do bolso num dos intervalos - que o próxima de ídolos como o já citado Johnny Cash. Todo de preto, conduz a platéia a uma espécie de “best of” da história do Social Distortion. Mostra com autoridade as ligações do grupo com o street punk (“Sometimes I Do”, ritmada como um hino); o oi dos carecas (na ótima “Sick Boys”), que, sim, compareceram e quase tumultuaram a noite; ou com o “punk antes do punk” de músicas como “Highway 101”, com um som de guitarra ímpar, e “Prision Bound”. Sem lançar nada de novo desde 2004, Ness prometeu um álbum para setembro e tocou “Still Alive”, novinha em folha, fechando o primeiro bis.

O público se esbaldou com baladas como “Ball & Chain” (“eu amo o Rio”, disse Ness), em geral puxando palmas e abrindo rodas no meio do salão com direito a muito body surfin’. Johnny Wickersham poucas vezes assume o lugar de destaque de Mike Ness, mas quando o faz é para solar pra valer, como acontece em “Nickels & Dimes” e em “Mommy’s Little Monster”, outra em que a animação do público fez diferença; até um tombo de Mike Ness foi aplaudido com bom humor. Os fãs só não gostaram mesmo é de o grupo não ter incluído clássicos como “Cold Feeling” (que chegou a ser pedida em uníssono entre um bis e outro), e “Story Of My Life”, que mesmo com o encanto de Ness pela cidade, foi limada de última hora do set list preso no palco. Tiveram que se contentar com a – ótima, diga-se – “Ring Of Fire”, de Cash, espécie de síntese do que é hoje o Social Distortion, fechando a noite.

Na abertura, o Carbona na quis saber de blablablá e emendou um bom punhado de hits de uma tacada só, para um público bem reduzido, mas que soube aproveitar o bom show do quarteto, prestes a lançar um novo álbum. O Social Distortion volta a se apresentar hoje, em São Paulo, no Via Funchal, e amanhã, em Curitiba, no Master Hall. Saiba tudo aqui.

Set list completo:

1- Road Zombie
2- Under My Thumb
3- Bye Bye Baby
4- Bad Luck
5- Don’t Drag Me Down
6- The Creeps
7- Another State Of Mind
8- Mommy’s Little Monster
9 -Sick Boys
10- Reach For The Sky
11- Ball & Chain
12- Highway 101
13- Gotta Know The Rules
14- Sometimes I Do
15- Nickels & Dimes
Bis
16- Making Believe
17- Still Alive
Bis
18- Prison Bound
19- Ring Of Fire

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Diogo em abril 17, 2010 às 17:51
    #1

    Tentei subir no palco pra beijar o Mike Ness, os seguranças é que foram extremamente grosseiros e me espancaram e me jogaram no mijo da Lapa. Não rolou nada de careca de oi e afins na parada!

  2. Felipe Sad em abril 19, 2010 às 14:38
    #2

    Tocaram Cold Feelings em Curitiba :). O show aqui foi basicamente o mesmo set, mas eu achei o show muito bom mesmo… apesar do som meio baixo, como é de praxe no Master Hall. O batera que vacilou feio nos refrões de Ball and Chain, tirou um pouco a animação da galera nessa música. Mas de resto foi foda!

  3. Marcos Bragatto em abril 19, 2010 às 18:02
    #3

    Em São Paulo também… é mole?
    Valeu, Sad!

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