O Homem Baile

Blaze Bayley faz da decadência o ganha pão

Ex-vocalista do Iron Maiden passou ontem pela terceira vez no Rio; show no Hard Rock Cafe foi marcado por atraso à Guns N’Roses, público reduzidíssimo e histeria incomum. Foto: Reprodução/internet.

blazebayleySeria cômico senão fosse trágico, mas até que o ex-vocalista do Iron Maiden, Blaze Bayley, conseguiu superar as dificuldades de um show de estrutura e organização inacreditáveis, ontem à noite, no Rio. Marcado para às 22h30 de uma terça numa casa de frequência limitada no shopping mais vazio de um dos bairros mais distantes da cidade, o show só foi começar depois de uma da manhã, num atraso idêntico ao do Guns N’Roses. Não foi dado aos cerca de 120 fãs contados à dedo o motivo do atraso, mas circulava a informação que a banda estava num o vôo vindo de Lima, no Peru, que aterrissou no Rio somente às 22h15.

Blaze não quis saber de nada disso, colocou um casaco com capuz e conduziu a banda, à espreita do público (o camarim fica do lado oposto ao palco), para o show começar. Trajando uma camisa 10 da seleção brasileira com seu nome às costas e uma bandana que oculta a calvície, o vocalista partiu pra cima do público, iluminado por luzes de discoteca e com o som sendo ajustado em plena música de abertura, “Madness And Sorrow”, do novo disco do grupo, “Promisse And Terror” – positivamente o Hard Rock Cafe não é o local mais adequado para um show de rock acontecer. Não era isso, entretanto, que passava pela cabeça do público, cuja empolgação beirava a histeria na maior parte do tempo. Era de impressionar como todos cantavam as músicas, e não só as quatro dos velhos tempos do Iron Maiden distribuídas entre as 15 dos álbuns de Blaze.

E não é por acaso. Blaze Bayley tem várias músicas com refrões facílimos de serem seguidos, carrega um discurso afinado com tiradas como “vocês é que tem o poder de me trazer aqui” e – honra seja feita – uma boa banda que, como ele, não se intimidou ante as latentes e desanimadoras dificuldades. Com o som surpreendentemente bem ajustado, a interação com a platéia é instantânea, e o vocalista converte a decadência pós Iron em trabalho bem feito. Mesmo porque algumas músicas falam por si só, caso de “Blackmailer”, com belo solo; da dobradinha “Blood & Belief”/”The Launch”, que faz uma inesperada roda de pogo ser aberta; e a cadenciada “Letting Go Of The World”, que trata de um drama pessoal, um dos temas (obviamente) preferidos de Blaze Bayley.

Um ponto a ser enaltecido é que Blaze não mantém carreira oportunista à custa de sua passagem pelo Iron Maiden, incluindo no set somente músicas que ele gravou com o grupo. A simples escolha de um clássico do Iron daria um óbvio up grade no set list, mas Blaze investe em seu trabalho, mantendo, inclusive, praticamente a mesma formação em sua banda já há bastante tempo - exceção feita ao baterista Lawrence Paterson, substituído nessa turnê por questões médicas. Enquanto o baixista David Bermudez se diverte um bocado no palco, fazendo caras e bocas, os guitarristas Nico Bermudez e Jay Walsh se revezam em solos e andamentos com um entrosamento que chama a atenção. A platéia, animadíssima, aprovou.

Eles tocam “Lord Of The Flies”, a primeira do Iron Maiden, com pouquíssima reverência, impingindo uma velocidade quase punk, o que se repete em “Futureal” e “Man On The Edge” (aquela do refrão chiclete “falling down/falling down”). Já “The Clansman”, incluída no repertório do Maiden após a volta de Bruce Dickinson, é espertamente bem fiel à versão original. A música é dedicada à liberdade de escolha dos fãs em relação a que tipo de música ouvir, numa outra intervenção dialética de Blaze no meio do show. Depois de quase duas horas de uma apresentação vigorosa, o vocalista diz que não vai a lugar nenhum antes de dar autógrafos e ser fotografado dezenas de vezes, prolongando a noite ainda mais. A suspeita é que ele iria dali direto para o aeroporto, embarcar para Salvador, onde continua hoje a turnê pelo Brasil. Afinal, é preciso ganhar honestamente o pão de cada dia.

Set list completo:

1- Madness And Sorrow
2- Voices From The Past
3- City Of Bones
4- Blackmailer
5- Faceless
6- Smile Back At Death
7- Blood & Belief
8- The Launch
9- Lord Of The Flies
10- Futureal
11- Letting Go Of The World
12- Waiting For My Life To Begin
13- The Brave
14- Leap of Faith
15- The Clasman
16- Man On The Edge
17- The Man Who Would Not Die
18- Robot
19- Kill And Destroy

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Jefferson em maio 20, 2010 às 9:55
    #1

    Particularmente não gosto de Bayley, mas acho que é difícil ter a coragem de seguir em frente mesmo com tantas dificuldades

    Abraço

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