O Homem Baile

Fora de controle

Com a Fundição Progresso colocando gente pelo ladrão, Franz Ferdinand reafirma pacto firmado com o Rio há quatro anos em outro show contagiante; integrantes terminam a noite nos braços do público - literalmente. Foto: Reprodução/Internet

franzferdinandNo terceiro show da história do Franz Ferdinand no Rio era de se esperar que o grupo britânico tivesse o público nas mãos, mas, ainda assim, a noite superou as expectativas. Depois da boa abertura do Moptop, com a Fundição Progresso abarrotada, Alex Kapranos e sua trupe fizeram outra – mais uma – apresentação memorável, com direto a solo de bateria, números dançantes (com a inclusão de um sintetizador), um bis com sete músicas e muito acompanhamento por parte do público. No fim, Kapranos e o guitarrista Nick McCarthy, no auge da empolgação deram um mosh cada um e voltaram do meio da platéia – acreditem – sãos e salvos. O repertório foi ligeiramente diferente do show de Porto Alegre, na quinta, com a saída de duas músicas e a entrada de outras quatro. Contagiante, o show nada ficou a derver ao do Circo Voador, em 2006.

Curioso que, embora o grupo tenha investido em ritmos mais dançantes no último álbum, “Tonight: Franz Ferdinand”, as músicas anteriores também protagonizaram pontos altos no show, ainda que executadas com o arranjo original; em time que está ganhando não se mexe. Assim, era um tal de McCarthy sentar e levantar de um sintetizador moderninho/retrô, montado no centro do palco, o tempo todo. A já clássica “Take Me Out”, por exemplo, desencadeou um espetáculo aeróbico puxado por Alex Kapranos de fazer inveja às dançarinas do Faustão. “Walk Away”, que abriu o bis como quem não queria nada, teve seguramente o maior coro à capela já visto pelos escoceses. Na ótima “Can’t Stop Feeling”, música síntese da nova fase, coube a Kapranos pilotar o teclado.

Outras entre as novas que realçaram no show foram “Turn It On”, colada em “Take Me Out”, que chacoalhou o público entrelaçado da Fundição, assim como “Ulysses” e seu irresistível lalalá. A diversidade da multidão que acompanhava cada movimento (sonoro e físico) da banda mostra que ela já se despediu há muito tempo dos limites do indie rock, do underground ou qualquer um outro que um dia já existiu. O FF é, hoje, banda grande com a alça de mira apontada para o mainstream de U2 e Coldplay, ainda que atue com um palco pobre e com aquele figurino de vitrine da Bemoreira Ducal. O fato de o público ter vibrado com uma música do Pearl Jam antes de o show começar é a prova de que, na próxima vinda, o grupo precisa se assumir como grande e dar um passo a mais.

Os rapazes do Franz Ferdinand já se sentem tão locais que Kapranos arrisca um “tudo bem” aqui e um “vamos fazer barulho” acolá. Ele só precisou de uma cola, afixada no piso, para apresentar a banda, em português, no final do bis. E que bis. Com pouco mais de uma hora de show, parecia que estava tudo acabado. O set terminou, ao final da colante “Outsiders” e seu ooô, com uma segunda bateria montada à frente, à direita do palco, e os quatro gaiatos mandando uma batucada à Olodum que obteve resposta imediata da platéia. Quando voltaram ao palco, emendaram um bis com nada menos que sete músicas.

Entre elas, além de “Walk Away”, foi a “antiga” “This Fire”, com o bombástico refrão “This fire is out of control / I’m going to burn this city”, que arrematou a platéia de vez. A pressão do som e do acompanhamento do público parecia que a ia colocar a Fundição abaixo. Seria o desfecho ideal, mas o quarteto conseguiu ainda transformar a enfadonha “Lucid Dreams” em um final minimamente digno da noite. Cada integrante foi deixando o palco, um da cada vez, até que Paul Thomson finalizasse os trabalhos com – quem diria, indies! – um solo de bateria. Eles ainda voltariam para agradecer e para o mosh de Kapranos e McCarthy, um de cada lado do palco. Alegria total para cerca de 4 mil fãs e agregados, que vibraram em quase duas horas de show.

Set list completo:

1- Bite Hard
2- The Dark Of The Matinée
3- This Boy
4- Do You Want To
5- Auf Achse
6- No You Girls
7- Tell Her Tonight
8- Can’t Stop Feeling
9- Take Me Out
10- Turn It On
11- The Fallen
12- Michael
13- 40′
14- Ulysses
15- Outsiders
Bis
16- Walk Away
17- Come On Home
18- What She Came For
19- All My Friends
20- Van Tango
21- This Fire
22- Lucid Dreams

O Franz Ferdinand se apresenta domingo, em Brasília, e terça, dia 23, em São Paulo. Veja os detalhes aqui.

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. gustavo em março 20, 2010 às 12:53
    #1

    Realmente eles fizeram história, de novo, no Rio. Mais um show com set list impecável, empolgação invejável e um controle do público que pouquíssimos têm!

    Não sei quanto a chamá-los de “grande”. Aqui, acaba que eles são, mas falar que podem entrar num hall de U2 e Coldplay, é forçar um pouco. O mundo ficou esperando uma super banda depois do 1o CD, o que acabou não acontecendo comercialmente (visto que todos os três CDs são muito bons, mas não foram sucessos absolutos de público e crítica)

    Só espero que eles continuem lançando boa música, sem esquecer de passar no Rio pra fazer mais shows inesquecíveis!

  2. Marcos Lauro em março 20, 2010 às 13:16
    #2

    Também não acho necessária essa comparação com U2 ou Coldplay. Já vi o quanto o Franz ficou apagadinho no palco gigantesco do U2.

    As bandas de hoje têm esse perfil mesmo. Palco pequeno, sem tanta produção. Esse é o caminho. Deixemos os palcos grandes e cheios de truques para o já citados ou ainda o “deuses do metal”.

    Mas o texto conseguiu transmitir a sensação para quem não estava lá. Arrepiou.

  3. Denis em março 21, 2010 às 20:15
    #3

    A banda é foda. Mas tem uma presença de palco muito fraca, apesar do publico interagir bastante.

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