Rock é Rock Mesmo

O Van Halen e o melhor de seus melhores mundos

Poucas coletâneas resumem tão bem a carreira de um grupo seminal para a história do rock

Meus amigos, o que é a natureza. Vejo gente por aí nesse mundo virtual questionando se uma banda já acabou, se já deveria ter acabado, ou se o mundo precisa dessa ou daquela banda – só para usar um clichê jornalístico dos mais gastos, de tanto que é usado. Já devo ter falado disso em todos esses anos de coluna semanal na web, e vou falar mais ainda, talvez não hoje. O que essa juventude precisa entender é que bandas de rock e o rock em si são eternos: não morrem ou renascem jamais. Estão sempre ali pra gente ouvir e renascer, mudam nosso estado de espírito, para o bem ou para o mal. Só depende da gente.

O Van Halen. Há quem, dotado de uma indiferença bovina, discorde. Mas o grupo é sem sombra de dúvidas um dos mais prolíficos da história do rock. Conseguiu como poucos superar a saída de um vocalista insubstituível, que foi muito bem substituído por outro. Recebeu o primeiro de volta e, agora, a custa de um sério problema nas articulações dos dedos do guitarrista Eddie Van Halen, está – digamos – em compasso de espera. Depois de anos tocando guitarra como nenhum outro guitarrista, Eddie está se submetendo a um tratamento com células tronco, de modo a recuperar a cartilagem que amacia as articulações. O mesmo que Tony Iommi, um dos maiores criados de riffs de que se tem notícia, faz.

Ao me preparar para encarar uma viagem de ônibus de cerca de 15 horas de duração (só de ida), incluindo um trecho em meia pista na gloriosa Régis Bittencourt, a “rodovia da morte”, rumo à Curitiba, para cobrir o Psycho Carnival, tive que sacar da minha estante-cemitério de CDs alguns defuntos. Além de lançamentos recebidos e outros baixados, que carrego por questões profissionais, queria algo que ouvisse por desobrigação. Eis que – acreditem – optei pela coletânea do Van Halen pelo fato de o CD ser duplo, mas embalado naquelas caixinhas de baixa espessura (como se fosse um disquinho só), pra não ocupar espaço na bagagem. Sim, sou daqueles que andam com um CD player à tiracolo, não um tocador de mp3.

O título “The Best Of Both Worlds” traduz que a seleção traz as duas melhores fases do grupo, com David Lee Roth (1974-1985, seis discos) e Sammy Hagar (1985-1996, quatro discos) nos vocais, respectivamente. O disco foi lançado em 2004 e desencadeou uma das várias turnês que o grupo tem feito desde 1998, com Sammy ou David à frente; essa foi com Sammy. Noventa e oito foi o ano de lançamento de “Van Halen III”, com Gary Cherone nos vocais, que decepcionou o mundo, mas deixa isso pra lá. No CD duplo são 33 músicas irrepreensíveis, que marcam bem todas as fases pelas quais passou o compositor extraordinário que é Eddie, o sujeito que praticamente definiu a sonoridade do hard rock dos anos 80 e influenciou mesmo as gerações do pós punk e do pop – vide o solo de “Beat It”, vocês sabem pra quem.

Não é fácil resumir a carreira de um grupo numa coletânea, sempre há queixas de músicas que não deveriam ter entrado ou ficaram de fora. De outro lado raramente um disco – mesmo de uma referência como Van Halen – é bom de cabo a rabo. O que faz desse CD duplo um espetáculo do rock é perceber como épocas tão distintas e fases pessoais de cada integrante e até da banda, podem se encaixar tão bem. Não é nada, não é nada, são dezessete anos de história, mais de cem músicas e dez álbuns que nunca decepcionaram. Isso sem falar nas três músicas novas, que abrem o disco depois da super clássica “Eruption”, que, caçulas, circulam por ali como se fossem gente grande, pinçadas de um ou outro CD da fase Hagar. E ainda três da fase David cantadas, ao vivo, por Sammy Hagar.

Pense numa música do Van Halen. “Jump”? Tá dentro, claro. “You Really Got Me”? Também, talvez a melhor regravação já feita de uma música do Kinks. Baladas da fase Hagar? Tem, sim senhor. Coisa do naipe de “When It’s Love” e “Why Can’t This Be Love” não foram deixadas de lado. Música que foi tema de novela global? Ok, vamos e “Can’t Stop Lovin’ You”, também com Sammy Hagar. Não, o “love” ali nos títulos não é por acaso. Algo mais obscuro com Lee Roth? Pois não: “Everybody Wants Some!!” e a espetacular “I’ll Wait”. Sentiram o drama?

No sou o tipo de sujeito, vocês sabem, que sai por aí pregando a superficialidade. Quer conhecer uma banda? Sai comprando os discos, ou, atualizando a frase, sai baixando tudo, um por um. Ouça direito, um de cada vez, com tempo pra ouvir. Não é colocar o disco pra tocar como música de fundo e ir fazer outra coisa. Faça da audição a ocupação principal. Se preferir um resumo, mergulhe fundo nesse “The Best Of Both Worlds”. Ao ouvir, observe que o encarte conta tudo tintim por tintim e ainda indica a que álbum cada música originalmente foi gravada, de modo que você pode ir atrás, de acordo com a prioridade estabelecida, de cada disco. Não hesite. Permita-se a experiência de vivenciar o Van Halen em toda a sua plenitude. Depois me conta se sua vida mudou ou não.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Jefferson em maio 13, 2010 às 12:40
    #1

    Grande banda e grande disco! Parabéns pelo site.

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