Rock é Rock Mesmo

E agora vou esclarecer

O texto que postei aqui na semana passada não era uma defesa do Metallica, não era sobre Metallica, não tinha nada a ver com Metallica. O texto era sobre o abominável jornalismo-polêmica.

Meus amigos, escrever é de amargar. E não sou eu quem está dizendo. A frase é de Otto Lara Resende, um dos amigos mais próximos do Mestre, e deve ter sido cunhada há uns belos 40 anos. Ele dizia isso porque quebrava a cabeça para achar as palavras corretas, a construção mais adequada, o jeito mais simples e com riqueza vocabular para se expressar. E eu digo isso, porque, às vezes, parece que não consigo me fazer entender. Falo o óbvio, escrevo fácil, quase que intuitivamente, como se estivesse falando, e neguinho não entende patavina.

Vejam vocês que o texto que postei aqui na semana passada não era uma defesa do Metallica, não era sobre Metallica, não tinha nada a ver com Metallica. O texto era sobre o abominável jornalismo-polêmica, com o intuito de descer ao nível dele, e, por alguns minutos, polemizar. O título, aliás, já dizia isso com uma clareza translúcida e cristalina. No primeiro parágrafo, para não deixar dúvidas, aviso logo que “não sou advogado, muito menos de banda, muito menos de banda grande, gigante”. Imaginem que um amigo meu, que é professor, ainda assim, disse que “saí em defesa do Metallica”. Professor, meus amigos, professor. Só pode ter passado direto pelo início, na ânsia de chegar logo ao miolo do texto.

A coluna da semana passada – repito – nada tem a ver com Metallica. Poderia ser outro mega show, digamos, que colocasse U2, Rolling Stones, Coldplay, Guns N’Roses ou Radiohead em evidência. Se o nosso amigo especialista no tal jornalismo-polêmica fizesse sua relação de bravatas, e eu quisesse retrucar do lado de cá, o faria. Profissionalmente, não sou fã de Metallica ou de banda alguma, e, como crítico, passei uns bons dez anos explicando prós e contras da pior fase da carreira do grupo, em um monte de veículos, incluindo este site. Sinto por aqueles que usam o reducionismo para me qualificar, mas, não, eu não sou um “metaleiro” de “raciocínio juvenil”. Esse tempão todo que trabalho no jornalismo musical mostra que nunca estive profissionalmente encalacrado nesse ou naquele nicho. Mas sou, sim, a favor da segmentação e contra o ecletismo burro micareteiro que não discerne uma coisa de outra.

Ocorre que, diferentemente da maioria dos jornalistas que atuam nos grandes veículos, circulo bem por boa parte dos subgêneros do rock, incluindo o heavy metal. Em geral, nesse meio - já disse e repito - o metal é visto como algo menor, desde os tempos da estreia do Black Sabbath. Tem jornalista que se trava todo, só de ouvir a palavra metal. Como não sou advogado, também não sou médico nem vendo plano de saúde. Como jornalista, contudo, não posso virar as costas para os fatos, e o metal está aí, firme e forte, com suas virtudes e mazelas, como qualquer subgênero do rock ou mesmo da música pop, que, no fundo, é o que nos interessa.

A falta de entendimento dessa turma toda me fez lembrar os tempos da Vizinhança Estéril e de uma coluna, escrita em 2005, intitulada “Escrevendo para iniciados”. Naquela oportunidade, citei algumas bandas de além Dutra para diagnosticar o mal que afligia a crônica musical paulistana na época, que, súbito, passou a elogiar tudo que aparecia no rock de lá. Fosse bom ou ruim, o enaltecimento era batata. Ao criticar esse jornalismo chapa branca à Nelson Motta, fui mal interpretado e apontado, entre outras coisas, como “inimigo de banda”. Patético, não? Tive que fazer uma coluna parecida com essa, na vã tentativa de tornar tudo mais claro.

Pois agora, quase cinco anos depois, parece que escrevo, ainda, para iniciados. Falo, assim, de um amaneira generalizante, mas admito que há, sim, os que entenderam que eu falava de jornalismo-polêmica e não de Metallica. Poderia até citar o amigo Flávio Flock, de humor peculiar, que enriqueceu a questão com seu comentário, mas vou realçar o bom humor de André Forastieri, que veio aqui com o belo clichê “agradecer pela propaganda” e até admitiu que acertei – involuntariamente, já que não o conheço pessoalmente - algumas de suas chatices. No fim das contas, e a julgar pelas retwittagens e número de acessos que a coluna e o site, com um todo obtiveram, o texto cumpriu seu papel: polemizou e me fez tirar uma ondinha. Só faltou me deixar famosinho e me fazer faturar um dinheirinho, mas um dia eu chego lá.

Mas o que mais me agradou é que, circulado equivocadamente na web como um duelo entre os dois jornalistas, o texto mereceu uma análise pormenorizada de Alex Antunes. Vejam só: Alex Antunes! Todos que participam da comunidade da extinta Revista Bizz sabem que ele anda meio lelé da cuca, mas, ainda assim, gagá, é o Alex Antunes, que eu, menino, lia na nos primórdios da Bizz. Alex chegou a fazer um escore e errou e acertou aos montes em sua análise, já que o texto (como toda peça de opinião bem feita, modéstia a parte) tem nuances que só algumas pessoas percebem. Algumas notam outros pormenores, mas somente o autor é que pode explicar a totalidade do conteúdo. Só o fato de ele ter se dado ao trabalho, já valeu à pena ter descido o nível para dar uma de jornalista-polêmico. Obrigado, Alex. De coração.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Tiago em fevereiro 5, 2010 às 11:03
    #1

    Acontece, por maior clareza que você possa ter, de as pessoas entenderem de maneira distinta da que você pretendia. Um texto tem muitas possibilidades de interpretação, porém não infinitas. Há aqueles que viram uma defesa do Metallica, outros, um duelo entre você e outro profissional, e, certamente, os que leram como uma coluna sobre jornalismo polêmico. Talvez, todas essas interpretações possam valer, mesmo não sendo esta a sua intenção. Agora, você restringir as opções de leitura àquela pretendida por você é jogar contra o seu próprio texto, empobrecê-lo de sentidos.
    Os textos, depois de publicados e/ou ditos, deixam de ser apenas de quem os escreve ou fala. Passam a ser, também, de todos aqueles que codificam a mensagem, criando significados próprios, segundo seus próprios repertórios e experiências de vida.
    Abraços aê!

  2. Vital (o amigo professor) em fevereiro 6, 2010 às 18:26
    #2

    Fala Bragatto! Eu entendi ambos os textos direitinho, só fiz uma chamada que também brincava com o jornalismo polêmica. A minha tuitadinha de 140 letras pode não ter captado a essência do seu texto, mas foi a melhor que eu pensei na hora. Coisas dos dias de hoje e da rapidez das coisas. Se contribuiu pra mais lagumas pessoas clicarem e pensarem no que você escreveu, acho que tá valendo né? Abraço!

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