Fazendo História

Toda a paixão pela essência do rock’n’roll

Um telefonema inesperado de uma assessora de imprensa praticamente implorava para eu preencher um “buraco” na agenda de entrevistas com o Motörhead. Era preciso ligar para a casa de Lemmy Kilmister em cerca de dez minutos, e assim foi feito. Matéria publicada na Rock Press número 5 (ainda em tablóide), de outubro de 1996. Foto: Marcos Bragatto

motorhead96Não há duvidas de que o Motörhead é a banda que mais representa a fidelidade e o amor pelo rock’n’roll em todo o planeta. Suas músicas sempre decantaram a paixão por uma vida e um estilo rock levado às últimas consequências. Lemmy Kilmister, baixista/vocalista e fundador da banda, é a melhor tradução prática do trinômio sexo, drogas (no caso álcool) e rock’n’roll.

Feio, bêbado e com voz rouca e cansada, Lemmy tinha tudo para não ser nada, mas acabou como um ícone de várias gerações. Foi o Motörhead que inventou toda essa história de crossover punk/metal e conseguiu ser o pioneiro na união dessas duas tribos, reunindo nos shows suas mais radicais facções. “Ace Of Spades”, lançado em 80, é um marco da história da música pesada e é até hoje ponto de partida para muitas das novas tendências do metal.

Depois de tanto tempo na estrada, o Motörhead continua em alta. Na festa de aniversário de 50 anos de Lemmy, nada menos que o Metallica tocou só covers deles, com todos “fantasiados de Lemmy”. “Fico orgulhoso de ter esse reconhecimento dos garotos, eu acho que eles realmente gostam de mim”, comenta ele com modéstia. Antes de embarcar para o Monsters brasileiro, e às vésperas de lançar mais um álbum, o bem humorado Lemmy concedeu esta entrevista de respostas curtas, por telefone, direto de sua casa, em Los Angeles:

O Motörhead tocou no Brasil duas vezes. Qual é a sua expectativa de tocar aqui de novo, desta vez no Monsters Of Rock?

É simplesmente um show do Motörhead, e vamos fazer o melhor que pudermos.

Já tocaram no Monsters inglês?

Não, nunca tocamos na versão inglesa, mas já estivemos em Donington outras vezes.

Acha que vai ser muito diferente a versão brasileira do festival?

Nós tocamos no Monsters da Alemanha e foi muito legal também. Acho que esse tipo de festival tem mais ou menos o mesmo jeito em qualquer lugar do mundo, as bandas é que fazem a diferença.

Parece que você gosta muito do Brasil, não é?

Sim, é verdade, eu até fiz uma música para os brasileiros que vão aos nossos shows.

Você tem mantido o mesmo estilo desde o início da banda, a que conclusão você chega a respeito do rock’n’roll depois de todos esses anos?

Bem, é uma pergunta muito complexa e conceitual, mas o que posso dizer é que é uma vida cheia de diversão e bastante agitada, e eu recomendo isso para todo mundo.

A banda vai lançar um novo álbum ainda este ano?

Sim, nós acabamos de concluí-lo, vai se chamar “Overnight Sensation”, e não sei o que vocês vão achar dele. É um pouco mais lento que o “Sacrifice”, mas acho que todos vão gostar.

Você costuma afirmar que bebe todo o tempo, mas a sua voz continua a mesma, qual a receita?

Bem, não bebo tanto quanto falo, mas venho tentando, e não canto nada, também venho tentando.

Costuma beber muita cerveja?

Eu gosto de cerveja, sim, a maioria das pessoas bebe. Mas, particularmente, prefiro whisky, cerveja me deixa gordo.

Você trabalhou como ator nos filmes “Eat The Rich” e “The Airheads”. Pretende repetir a dose?

Vai depender do roteiro, de toda a história, mas não tenho mito mais saco para essas coisas.

Ouviu o último álbum do Sepultura?

Não ouvi ainda, é um bom álbum?

Sim, é bem diferente, tem influências de música brasileira.

Deve ser interessante…

O que você diria que vai acontecer com o heavy metal?

Eu sei lá que diabos vai acontecer, estou pouco me importando com isso tudo, só me preocupo com o Motörhead.

Tem ouvido novas bandas?

Tenho ouvido muitas bandas novas cujos trabalhos as pessoas me entregam ao longo das turnês, e há muita coisa boa na Inglaterra, assim como em todo o mundo, mas não consigo guardar nenhum nome em especial.

O que você acha da volta do Sex Pistols?

Não sei, não li nada sobre o assunto. Eu os vi no final dos anos 70, bem no começo e eles eram muito legais. Mas agora não tenho muito interesse em vê-los de novo.

O que você acha do “revival punk” nos Estados Unidos?

Não me interesso por isso, o Motörhead existe há mais de 25 anos, nós nunca paramos de tocar, é o que nos mantém. Nunca me imagino parando de fazer rock’n’roll, muito menos voltando depois. Não há a mínima razão pra eu fazer uma coisa ou outra.

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