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Nirvana

Live at Reading
(Universal)

nirvanareadingNão é sempre que se pode determinar quando uma banda está no auge, mas, até o século passado, ser a atração principal do Reading Festival era um senhor sinal. Se o álbum/vídeo acústico, gravado no final de 1993, representou a melancólica despedida do Nirvana e de Kurt Cobain, este show, em agosto de 1992, pode muito representar a síntese de uma banda que saiu dos porões de uma cidadezinha do interior dos Estados Unidos para ganhar o mundo. Já era enorme ali, mas ainda guardava toda a verdade que uma banda carrega; era o auge, e, portanto, o início do fim.

O trio, que tem como quarto elemento no palco um sujeito que não pára de pular e dançar em todas as músicas, pouco fala durante o show, a não ser para fazer algumas piadas, como o anúncio falso de que aquele seria o último show do Nirvana; quando Cobain pede parabéns para a aniversariante do dia, a mãe do então baterista Dave Grohl; ou ao ver atendido o pedido para que o público grite o nome de sua esposa, Courtney Love, que dera a luz à menina Francis Bean doze dias antes. Isso sem falar na piada maior da noite, com a cena que ficou marcada na história: Kurt Cobain entrando no palco em uma cadeira de rodas, com uma peruca loira, vestido com uma camisola hospitalar sobre a roupa que não tiraria durante toda a noite. Cerca de cinco meses depois ela levaria essa alegoria ao extremo, nos shows que fez no Brasil.

Com apenas dois discos lançados, o repertório do show inclui praticamente a íntegra de “Nevermind” – só “Something In The Way” ficou de fora –, considerado depois o disco da década (venderia cerca de 35 milhões de cópias), puxado pelo sucesso extraordinário da ótima “Smells Like a Teen Spirit”. Aqui, o hit que perturbava a cabeça de Kurt Cobain é iniciado como se os músicos errassem a introdução, mas o recurso é em vão e o poderoso riff logo levanta a poeira em meio à fumaça do frio de fim de noite de Reading. Curiosamente, a música é encaixada – certamente de propósito – bem no meio do set. Tudo engendrado cuidadosamente (ou seria por instinto?) apontando para um crescente de arrepiar.

Não que a sequência “Breed”/“Drain You”/“Aneurysm”, no início, não seja poderosíssima, mas no caso do Nirvana parece que Kurt, Dave e Krist Novoselic se alimentam da energia do público para fazer uma performance a cada música mais agressiva, desaguando na tradicional destruição no set no final. Em “Spank Thru”, música até então oculta, já no bis, Cobain vai ao chão para solar à Angus Young; em “Love Buzz”, ele debulha a guitarra impiedosamente; e em “Stay Away” a porrada come solta, como numa avalanche sonora que deixa a platéia enlouquecida – muito embora as cenas do público sejam raras. A impressão que se tem é que se o set list, com as 25 músicas, fosse tocado de ponta cabeça, o grand finale seria basicamente o mesmo.

Depois de citar “Smoke On The “Water”, do Deep Purple, e levemente “It’s Only Rock’N Roll (But I Like)”, dos Stones, o encerramento vem em “Territorial Pissings”, com Dave destruindo (literalmente) o kit de bateria e Krist partindo o baixo em dois, enquanto Kurt sola o Hino Nacional dos Estados Unidos e depois desce até o fosso para desplugar a guitarra e entregá-la ao público. Depois, ele ainda seria abordado por um garoto gordinho de bochechas rosadas, no backstage, atrás de um autógrafo. Tinha visto o show da vida dele. Até abril de 1994, o mundo também veria. Lição de rock, agora, só neste ótimo DVD.

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