O Homem Baile

Retrofoguetes: ativados e no comando

Grupo instrumental de Salvador dividiu as atenções como o canadense Danko Jones (foto), no Festival DoSol, em Natal; ambos fizeram shows marcados pela participação do público. Foto: Jomar Dantas/Divulgação DoSol

retrofoguetesComeçou ontem, em Natal, no Rio Grande do Norte, a sexta edição do Festival DoSol. Realizado pela terceira vez utilizando simultaneamente o Centro Cutural DoSol e o Armazém Hall, tendo como área comum parte do Largo da Rua Chile, o evento reuniu cerca de 3 mil pessoas, entre 15h30 e 4h da madrugada de domingo. Ao todo, se apresentaram 17 bandas, nos dois palcos. Embora o canadense Danko Jones tenha causado grande expectativa, coube o Retrofoguetes, de Salvador, fazer o melhor espetáculo da noite, que levantou o público do palco Armazém Hall, destinado às bandas principais - o grupo já havia se apresentado no DoSol em 2005.

Havia sido uma tarde problemática nos dois palcos. Mais cedo, um dos bateristas do Vendo 147 teve dificuldades para segurar parte de sua bateria, que se deslocava de acordo com a vibração do palco. O grupo faz um instrumental pesado com dois bateristas tocando num kit siamês, um de frente para o outro. Foi, até então, a melhor apresentação do festival, que citou o tema do personagem “Vingador”, do seriado “A Caverna do Dragão”, e encerrou com um pout pourri excepcional, que incluiu trechos turbinados de clássicos do Black Sabbath, AC/DC, Led Zeppelin, Jimi Hendrix e Metallica.

O som também castigou o público no show do local Rejects, cujo volume, altíssimo, não encontrou equalização adequada e atrapalhou a performance pesada do grupo. O trio traça um crossover moderno de metal lento, pesado e arrastado, com o grunge de Seattle. Embora seja revelação da cena local, não cativou a quantidade de público que se esperava. No outro palco, a psicodelia do ótimo Plástico Lunar também foi prejudicada pela ausência dos teclados, ocultos no som que chegava a público, e com o projeto solitário O Melda, Claudão Pilha não conseguiu se fazer ouvir como havia planejado, usando o capacete crivado de anéis metálicos.

Foi nesse cenário que o Retrofoguetes, dessa vez trajando macacões brancos, mudou a história da primeira noite do festival. Acompanhado por um ténico de som experiente, o combo instrumental já entrou no palco com pompa e circunstância. De início, o som quase cristalino da guitarra de Morotó Slim causou espanto, mas aos poucos a platéia, inicialmente comtemplativa, passou a aplaudir o grupo compulsivamente, sobretudo depois da adesão a outros ritmos que não a surf music de raiz, incluindo até uma versão impagável para o antigo tema da entrada de jurados do programa de calouros de Silvio Santos. É de se estranhar, inclusive, que o nome de Morotó não apareça entre os maiores guitarristas brasileiros em todos os tempos.

Dentre os nacionais, o grupo baiano foi o que reuniu um maior público, entre o translado de um palco a outro, incluindo a área aberta onde funcionava uma feirinha com vários lançamentos de selos independentes à disposição do público. Por pouco o trio não roubou a cena do canadense Danko Jones, que soube muito bem se afirmar como atração principal, aproveitando a boa qualidade do som, o tempo para apresentação, maior que os demais participantes, e a disposição do público em receber um artista pouco conhecido no Brasil, quiçá em Natal. Falando muito entre uma música e outra, o guitarrista (que dá nome à banda) disse estar orgulho de estar pela primeira vez no Brasil, e de o País ser o primeiro da América do Sul que ele visita.

Fazendo um hard rock moderno, nervoso e cheio de riffs, não tardou para o grupo arrancar aplausos do público, que acompanhava cada pedido de palmas do baixista. Em cerca de uma hora de show, o guitarrista instigou os natalenses a pensar sobre política, sexo e se eles realmente gostam de rock. Ao final, numa homenagem ao conterrâneo Rush, um trecho de “YYZ”, a instrumental mais cantarolada do mundo, foi levada num volume altíssimo, e ainda rolou tempo para um bis solitário.

Outro show que entra facilmente no rol dos melhores do festival é o do paranaense Sick Sick Sinners, que levou vantagem por tocar no palco DoSol. Com o local abarrotado, o psychobilly do grupo converteu os fãs de hardcore ao gênero, que se divertiram a valer em sucessivos moshes, rodas de pogo e stage dives. Tanto que nem perceberam os constantes problemas com o som que culminaram no corte de um dos vocais. A combinação da guitarra semi-acústica com o baixo acústico, tocado em alta velocidade, acrescenta muito ao som do grupo.

Duas bandas de Natal, já conhecidas de outras festivais, foram bem. O Bugs, como quarteto, ficou bem mais pesado que antes, e as músicas do novo EP prometem. O Bonnies também tocou para um bom público no palco DoSol, mostrando uma empatia trazida por mais experiência de palco. O Cassim & Barbária, de Floripa, reúne integrantes de outras bandas da cidade, e precisa definir melhor qe tipo de som quer fazer, já que o show apresenta tantas variações que é claro, positivamente, a falta de um rumo. Mais que isso, o The Baggios, grupo do guitarrista do Plástico Lunar, deve complementar a formação antes de agendar o próximo show.

BARULHINHO RUIM

Nessa edição a produção do festival apostou num público mais, digamos “adulto”, e para isso escalou uma espécie de prorrogação com artistas de gosto questionável. Assim, os palcos praticamente se transformaram em pistas de dança de salão e o chamado “Barulhinho Bom”, se eventualmente atraiu mais público, acabou saindo pela culatra, ao distoar (em princípio) dos objetivos de um festival como o DoSol. Exceção honrosa se faça ao Eddie, de Olinda, cuja credibilidade supera com facilidade tais circunstâncias.

O Festival DoSol prossegue hoje, em Natal, a partir das 15h30. Confira a programação completa aqui.

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Mario Mamede em novembro 8, 2009 às 6:41
    #1

    Dosol é massa! Queria poder estar curtindo contigo Mestre! Abração e YEAH ROCK!!

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