No Mundo do Rock

Sonho realizado

Rockz chega ao disco de estréia com os olhos firmados no presente e no futuro; em “A Tão Sonhada Bicicleta” o grupo, formado por remanescentes de outra época do rock carioca, testa a nova formação, mais enxuta, com um dos guitarristas assumindo os vocais. Foto: Divulgação.

Bruno Pederneiras, Gabriel Muzak, Pedro Garcia e Daniel Martins: rock sintonizado com o mundo

Bruno Pederneiras, Gabriel Muzak, Pedro Garcia e Daniel Martins: rock sintonizado com o mundo

O Rockz já roda por aí há bastante tempo, mas, até hoje, ao citar o nome do grupo, vem à tona o passado dos integrantes, que se graduaram no rock independente carioca nos anos 90. O guitarrista e vocalista Gabriel Muzak era um dos malucos do Funk Fuckers, turba de rap/hardcore pornô cujo expoente maior foi BNegão; o baterista Pedro Garcia era o Pedrinho, que junto com Bruno Pederneiras (ou Nobru, guitarra) compunham dois terços do Cabeça, lenda do rock carioca.

Curiosamente, o som do Rockz, identificado com o pop/rock contemporâneo, não carrega lembranças dessa época. “Não nos interessava fazer aquele crossover que rolava nos anos 90, de ‘HCpunkrockrap’”, conta Nobru. “Buscamos um ‘rockenroll’ que pudesse tocar na pista, um som mais dançante, sem perder as guitarras e falando desse universo noturno de boite rock”. Essa intenção aparece claramente no “Disco’08” (já no título), o segundo lançamento, virtual, com o repertório apurado nos – animados, diga-se – shows do quinteto.

Sim, eram cinco os Rockz até essa época, incluindo o baixista/tecladista Daniel Martins (Benflos) e o vocalista Diogo Brandão, que acabou saltando fora para se dedicar ao teatro. Quem via o rapaz fazendo cara e bocas nos shows do Rockz compreende o porquê. A troca de vocalistas acabou impedindo o lançamento de “Disco 08” em formato “físico”, como explica Nobru: “Não teria sentido prensar um disco sem o Diogo na banda. Disponibilizamos para download (www.tramavirtual.com) e começamos a trabalhar no “A Tão Sonhada Bicicleta”, pra gerar um material e continuar a tocar a banda pra frente”.

Diogo deixou seu registro antes, em 2006, num EP demo que circulou pela cidade e abriu várias portas. Só que uma história de caderninho marcou o disquinho. Em 2007, o americano The Bravery lançou o segundo álbum, “The Sun And The Moon”, cuja capa, com o grupo sobre um fundo de raios de sol se espalhando, é praticamente idêntica à do CD do Rockz. “Quando o Bravery veio ao Rio (fez show no Circo Voador), o Pedro entregou o disco para um dos caras. Depois de um tempo saiu o disco deles com a capa parecida com a nossa e pintou essa comparação em alguns blogs na internet, uma matéria no jornal e tal”, aponta Nobru. “O assunto tomou um vulto maior do que o necessário. Só não queríamos que achassem que a cópia tinha sido nossa”, completa, ciente das idiossincrasias do rock nacional.

rockz-2Com “A Tão Sonhada Bicicleta” nas mãos, isso agora não faz o menor sentido. O disco tem nove faixas e marcou a efetivação de Muzak nos vocais, decisão tomada depois de “5 minutos, no máximo”, como diz Nobru. O forte de Gabriel, a bem da verdade, não são os vocais, mas, como é craque em estúdio, o jeito bem próprio de tirar sons de guitarra. “(O som) mudou muito, mas não por causa dele. Ficamos a fim de compor tocando todos juntos, em busca de num som mais orgânico. A banda começa a improvisar e a coisa vai tomando forma na hora, inclusive as letras, que ficaram a cargo do Gabriel”, explica Nobru. O título é do tempo em que o sonho de consumo de qualquer pré-adolescente era a tal bicicleta, em vez de um videogame ou um laptop.

O CD é independente e o carro chefe, caso a expressão ainda exista, é “Tô Planejando”, um compêndio de coisas que o protagonista da música que fazer, mas fica sempre no quase, como ler uma pá de livros, ver uma porção de filmes, arrumar um lugar pra morar ou uma grana pra ganhar. Difícil quem escuta não se identificar com um ou outro verso. “Tem a ver com não deixar pra amanhã o que você pode fazer depois de amanhã. A gente tenta não planejar muito pra não atrapalhar, na base do ir fazendo e ver o que acontece”, explica Nobru. Mas o que chama a atenção nela é o rock dançante – cara dos anos 00 – como ele bem disse lá em cima, enfatizado num clipe nervoso.

Outra que chama a atenção é “Hare Hare”, à custa de um colante refrão, mas os próximos clipes vão para “Paramédicos”, com a direção do Fernando Ceylão, e “Bombardeio Cego”, cujas imagens já estão gravadas. A primeira é mais cadenciada, embora pulsante na hora H, como boa parte do repertório do Rockz; e a segunda, uma porrada das boas, com ênfase para aquele vocal nervoso/paranóico presente também – de novo - em “Tô Planejando”. E “As Horas Passam Crazy”, embora Nobru alegue “só impressão”, é puro Jimi Hendrix contemporaneizado.

Formação estabilizada, disco debaixo do braço, shows rolando… O negócio agora e lançar esse disco pelo Brasil, coisa que, para uma banda independente, com bem observa Nobru, vai acontecer durante um bom tempo. Resta saber se ele será o bastante pra gente poder falar do Rockz sem necessariamente chamá-lo de superbanda do underground. Não que a isso incomode, mas também não ajuda muito. “Pode parecer que por conta disso a gente é mais alguma coisa do que os outros, mas no fim das contas é o som que vai dizer”, finaliza o sábio e premonitório Nobru.

Tags desse texto:

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado