Som na Caixa

Megadeth

Endgame
(Baixado da internet)

megadethendgamePode não parecer, mas a atividade musical de Dave Mustaine sempre estará ligada à do Metallica. Assim como sua ex-banda bateu cabeça (no pior dos sentidos) até se reencontrar com si própria, no ano passado, Mustaine também demorou, mas recoloca o Megadeth nos trilhos com este “Endgame”. Era como se ele precisasse de uma coisa para chegar a outra, e o resultado, guardadas as devidas proporções, mantém o nível de “Death Magnetic”, como se os anos de ouro do thrash metal voltassem a bater à porta dos fãs. Ou, por outra, invadisse as janelas por todos os lados como vivíssimos zumbis, de supetão.

Há muitos anos não se via um disco do Megadeth tão comprometido com sua história, identificado com as raízes do grupo e ao mesmo tempo em sintonia com o mundo da música pesada, quase vinte anos depois do lançamento do extraordinário “Rust In Peace”. Inspirado, além de reunir rara formação, Mustaine compôs e arranjou, com meticulosa ajuda do cascudo produtor Andy Sneap, clássicos instantâneos da música pesada. A começar por “Dialectic Chaos”, uma bela introdução completamente instrumental, que abre o disco como nos bons tempos. É a deixa para um coletivo de músicas pesadas com solos e andamentos nervosíssimos jorrando pelo ladrão.

Na maior parte do CD há uma urgência latente que lhe subtrai as partes lentas e pesadas típicas do thrash, desenvolvidas com maestria na fase “Youthanasia”/“Countdown to Extinction”. Mesmo quando desacelera, ainda assim atinge, em mudanças abruptas, níveis de velocidade surpreendentes, como na boa “Bite The Hand”, cujo final, um novelo embolado de riffs cativantes, é de estarrecer. “Bodies”, esta sim, investe no andamento menos veloz para salientar evoluções de guitarra muito bem sacadas, que enlouquecem no final em meio a solos pipocando de todos os lados. Uma das melhores do disco, realçando a meticulosa produção que deixa cada acorde audível em meio a uma barulheira do cão.

É em “Head Crusher”, no entanto, que o disco tinge níveis extremos de peso e velocidade. De início arrasador, a faixa, preferida de Mustaine, surpreende pelo nível de comprometimento de cada instrumento com o conjunto, resultando numa peça thrash de precisão técnica incomum, sem soar, por outro lado, enfadonha. Paulada na moleira é pouco para o modo avassalador com que a música se impõe; é de se imaginar o comportamento do público, ao vê-la tocada nos shows. “This Day We Fight!” é outra que, velocíssima, foge do controle auditivo até do fã de longa data, acostumado a irresistíveis maratonas de guitarras. A sinistra “44 Minutes” rebusca em excepcionais linhas de guitarra a melodia perdida sob tanto esporro, ao menos até os mini solos, que afundam mesmo os tímpanos menos sensíveis, entrarem em ação.

A faixa título não por acaso é espécie de síntese do disco e – por que não – do Megadeth em si. Determina o fim dos tempos - tema preferido do grupo - incorporado na música extrema, sobretudo no death metal, com ênfase na típica voz “Pato Donald” de Mustaine. Mistura como poucas peso com andamentos lentos e velozes, em melodia sufocante espelhada pelo tema abordado. “Endgame” – o disco – resgata a essência perdida pelo do Megadeth nos últimos tempos; é, sem dúvida, o melhor trabalho do grupo desde a sagrada formação do início dos anos 90.

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