No Mundo do Rock

Novos ares para o Ektomorf

Como o grupo húngaro está trabalhando para sair das limitações de um dos subgêneros do metal e das eternas comparações com o Soulfly e o Sepultura fase “Roots”; quarteto é um dos mais representativos vindos do leste europeu. Fotos: Divulgação.

Zoltán Farkas e sua guitarra: preparada para a guerra

Zoltán Farkas e sua guitarra: preparada para a guerra

Você pode estar estranhando que numa entrevista com uma banda apareça a foto de um único sujeito. Mas explica-se que hoje o Ektomorf, grupo oriundo da Hungria, é mesmo Zoltán Farkas e mais dez. Fundador e único integrante que permanece desde o início, é ele quem compõe tudo, além de tocar guitarra e cantar. Zoltán está para o Ektomorf assim como Max Cavalera está para o Soulfly, e a citação não é acidental: para muitos o Ektomorf é uma espécie de “clone oficial” do Soulfly, ou mesmo do Sepultura fase “Roots”.

Ao menos até agora, já que, no novo álbum, “What Doesn’t Kill Me…”, de gravadora nova, Zoltán parece ter dado seu maior passo rumo a uma identidade própria com sua banda, hoje completada por Tamás Schrottner (guitarra), Zsabolcs Murvai (baixo) e Jozsef Szakács (bateria). Também já faz um tempão que ele parou de usar referências à música de origem cigana da Hungria, assim como fez o Sepultura para conquistar o mundo no passado, com os chamados ritmos brasileiros. O disco é o sexto da carreira do grupo, e atira para vários ramos do metal, além de ter músicas colantes que ajudam – e muito.

Sepultura e Soulfly, no entanto, não são a única ligação do grupo-de-um-homem-só com o Brasil. No ano passado, Zoltán foi visto o Rio de Janeiro, em visita a família da namorada brasileira com quem vive em Hamburgo, na Alemanha. Nessa entrevista, concedida por e-mail, ele fala dessa nova fase, de algumas músicas do novo disco, da mais recente turnê e que não se importa com comparações com grupos dos quais é fã. E ainda admite que torce pelo retorno da formação clássica do Sepultura. Confira:

Rock em Geral: O Ektomorf acaba de fazer uma turnê pela Europa. Como foram os shows? Vocês tocaram muita coisa do disco novo?

Zoltán Farkas: A turnê foi muito boa, com os ingressos esgotados todas as noites. Tivemos uma resposta muito boa do público. A parte principal do repertório foi de músicas do disco novo, mas tocamos todos os clássicos, aqueles que não podemos deixar o palco sem tocar, porque eu adoro e os fãs pedem por músicas como “Outcast”, “Fuck You All” e “I Choke”. Foi uma grande turnê.

REG: Sobre o disco novo, “What Doesn’t Kill Me…”, fale sobre o título e todo o conceito das músicas:

Zoltán: “What Doesn’t Kill Me…” é cem por cento sobre o que tem acontecido no mundo, com um monte de coisa sobre a minha vida pessoal e a vida da banda. O pensamento é tipo “aquilo que não acaba comigo me faz mais forte”. Tempos difíceis… Sobre a música “What Doesn’t Kill Me…”, é simples e bem direta, com uma pegada forte de um riff, numa afinação mais baixa. Eu fiz essa música no ano passado, quando estava no Rio, na casa dos pais da minha namorada, Sara.

REG: Nesse disco as referências do Sepultura fase “Roots” e do Soulfly não aparecem tanto como antes. Você acha que está ocorrendo uma mudança na carreira da banda?

Zoltán: Todos têm suas influências, certo? Eu tive e tenho as minhas também, mas com o tempo você descobre o seu próprio jeito, o seu próprio estilo. Como você vê, fazemos uma entrevista e temos um oceano entre nós. Eu nunca imaginei que chegasse a este nível, o que significa que a minha música está atingindo as pessoas e que eu achei meu jeito original de fazer e tocar música, e estou orgulhoso disso.

REG: Você se importa quando as pessoas comparam essas bandas com o Ektomorf?

Zoltán: De maneira nenhuma.

REG: Sepultura e Soulfly costumam usar referências à música brasileira no som deles. Você faz a mesma coisa com a música húngara tradicional?

Zoltán: Não com a música húngara, mas com o folclore cigano, sim, embora os últimos dois álbuns fiz menos isso. Fiz muito no “Kalyi Jag” e no “Destroy”, e é possível que eu volte a usar isso no próximo álbum. As pessoas pedem, perguntam muito sobre esse tipo de coisa, mas vamos ver, porque eu só faço algo se sentir que devo fazer.

REG: As músicas “Nothing Left” e “Revenge to All” lembram muito o material antigo de bandas como o Prong, no início dos anos 90. Você concorda? Gostava das bandas desse período?

Zoltán: Eu realmente nunca ouvi essas bandas, mas vou dar uma olhada agora. Honestamente esses riffs simplesmente vieram do nada.

A banda completa, com Zoltan Farkas, Tamás Schrottner, Zsabolcs Murvai e Jozsef Szakács

A banda completa, com Zoltan Farkas, Tamás Schrottner, Zsabolcs Murvai e Jozsef Szakács

REG: Algumas músicas nesse disco (“I Got I All”, “New Life” e “Rat War”) têm um arranjo colante que faz o som do Ektomorf parecer mais assimilável por qualquer tipo de público. Você planejou isso?

Zoltán: Fico feliz de ouvir isso! Honestamente, não havia nada premeditado, as músicas vêm sempre quando eu estou escrevendo. Estou muito feliz com isso porque o círculo dos nossos fãs está crescendo e abrangendo novos fãs, desde fãs de black metal até aqueles que curtem hip hop. É muito bom que o Ektomorf esteja entrando para o mainstream da música pesada com este álbum. Na Europa estamos conquistando mais espaço e convites de mídia de outras áreas, isso é muito bom!

REG: Fale sobre a música “Sick Of It All”, em que você divide os vocais com um convidado:

Zoltán: A grande voz é do meu amigo Lloyd Dana Nelson, do Stuck Mojo. Eles estavam abrindo para nós numa turnê no ano passado e nos tornamos amigos. Eu escrevi essa música no ônibus da turnê e gravei as partes dele no último show, com o meu computador, que usamos depois no estúdio. A música tem muito groove e as letras falam sobre racismo. Lloyd é negro, eu sou cigano, então sabemos o que isso significa.

REG: Esse disco é bem curto (39 minutos), se compararmos com os padrões de um CD. Foi de propósito, para soar como nos tempos do vinil?

Zoltán: Eu não tinha mais nada para compor, aquilo era tudo que eu tinha. Eu não colocaria mais músicas num álbum só para preencher 50, 60 minutos. Eu não faço isso, acho que é simplesmente perfeito ouvir o que é curto e direto.

REG: Você acha correto chamar o som do Ektomorf de “world metal”, como na expressão world music?

Zoltán: Sim e não. Como te disse, eu já usei muitos elementos de world music e música cigana antes, mas não mais.

REG: Quando bandas européias usam referências do folk, sempre acontece no meio do metal melódico, o que não é o caso do Ektomorf. Como essas idéias surgem?

Zoltán: É o meu jeito de compor. Eu não estou interessado em melodias, adoro os grooves, este é o porquê. Um show do Ektomorf é cheio de energia e de grooves.

REG: O Ektomorf também tem muitas influências do nu-metal americano, gênero em franca decadência nos Estados Unidos. Isso faz você pensar em mudar o tipo de som que faz também?

Zoltán: Eu não ligo muito para rótulos, só componho aquilo que sinto. Por exemplo, o metalcore foi moda por um tempo, e isso nunca mexeu comigo. É claro que me inspiro em estilos que vêm e vão, mas o Ektomorf vai sempre ser como agora.

REG: No princípio você cantava na sua língua, mas depois mudou para o inglês. Que diferenças você vê entre as duas coisas?

Zoltán: Não faz muita diferença, graças a Deus minha voz se mantém a mesma em qualquer idioma. Por falar nisso, há poucas semanas recebi um convite de um projeto húngaro de um antigo vocalista de uma banda de thrash metal. Ele me pediu para fazer uma música (música e letra) em húngaro. Eu fiz, pela primeira vez em nove anos, e ficou muito bom. Não há uma diferença muito grande. Atualmente em inglês é mais fácil porque você pode cantarolar as palavras e pequenas palavras. O principal é que todos entendem, e isso é muito importante para mim, então o inglês é melhor.

REG: No álbum “Outcast” foi feita uma cover para “Fuel My Fire”, do Prodigy…

Zoltán: Eu gosto do Prodigy, eles têm bastante groove, as letras também são fortes, então decidimos fazer ficar melhor! Eu sempre gosto de fazer covers que não tenham a ver com o metal porque é mais interessante para mim. Agora mesmo estou trabalhando numa cover para o próximo disco que também vai ficar muito legal.

REG: O Ektomorf está com uma nova gravadora. O que muda na carreira da banda?

Zoltán: Mudou muito, eles são muito melhores. Mas você sabe que quando assina com uma gravadora você sempre espera pelo melhor. Nesse momento tudo está bem e funcionando, de modo que vejo um bom futuro com a AFM.

Zoltán: é muito bom que o Ektomorf esteja entrando para o mainstream da música pesada com este álbum

Zoltán: é muito bom que o Ektomorf esteja entrando para o mainstream da música pesada com este álbum

REG: A propósito, o que Ektomorf significa?

Zoltán: Ektomorf significa “forte corpo humano”, do tipo que eu achei numa revista de fisiculturismo há um tempo. Eu escolhi esse nome porque soa muito original e não é inglês, é latim. Eu gosto mais do som do que do significado.

REG: Você prefere uma reunião do Sepultura ou o Soulfly?

Zoltán: Eu nunca tive a sorte de ver o Sepultura clássico ao vivo, então prefiro uma reunião do Sepultura.

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