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The Black Crowes

Warpaint Live
(ST2)

blackcroweswarpaintlive“As coisas novas estão ficando velhas muito depressa nesses tempos esquisitos”, disse o vocalista Chris Robinson, ao dar boa noite à platéia que encheu The Wiltern, em Los Angeles, em março do ano passado. Era basicamente o show de lançamento do álbum “Warpaint”, o primeiro de inéditas desde o retorno grupo, que havia tirado longas férias, e já se gravava tudo para este DVD. Se todos percebemos tudo girar muito rápido nos dias de hoje, imagine um sujeito que se veste com roupas de brechó e lidera uma banda retrô como o Black Crowes…

É preciso louvar a ousadia do grupo, porque não é qualquer um que tem coragem para encarar um a platéia sem tocar um hit sequer, só a íntegra de um disco, embora àquela altura devidamente vazado na internet, que acabara de ser lançado. Nem no bis foi incluída uma única canção de sucesso. Depois das 11 faixas de “Warpaint”, seis músicas obscuras de lados B do grupo ou covers pouco familiares até para um grande conhecedor do rock da virada dos 60 para os 70, época para a qual o Black Crowes sempre lançou sua fonte de inspiração. Exceção, talvez, para “Torn And Frayed”, do “Exile On Main Street”, clássico dos Stones de 1972, que pode ser considerada conhecida.

O problema é que “Warpaint”, embora incensado como um “grande retorno”, está longe de ser um bom disco. Ou, por outra, não tem um número de faixas suficiente para segurar um show. Mesmo porque, uma coisa é elaborar o repertório de um álbum, equilibrando as músicas minimamente em torno de um conceito cuja audição se torne um processo agradável. Outra é concatenar uma série de músicas para tocar ao vivo, de modo a motivar umas duas mil pessoas querendo rock e diversão. Se o repertório parece ser algo impeditivo, a performance do grupo, sempre muito bom no palco, é o que se salva.

Balada colante, “Movin’ On Down The Line” é uma das que se destaca, com um final recheado de solos, onde o uso do slide guitar quase passa do ponto – o recurso é adotado em quase todas as músicas. “Evergreen” taz um belo duelo entre os guitarristas Luther Dickinson (novo na banda) e Rich Robinson (irmão de Chris), em geral encarregado da guitarra base. O batera Steve Gorman, na fraca “Wounded Bird”, troca o instrumento por um bumbo pendurado no tronco, desses de banda marcial, e por um bongô na pretensamente climática “Whoa Mule”, quase uma canção gospel que encerra o show. Assim como a última do bis, a pesada “Hey Grandma”, música tradicional americana que enfatizou o caráter big band do set, com a participação de duas vocalistas de apoio.

A surpresa foi a inclusão de duas músicas de Delaney & Bonnie & Friends, o grupo que deu apoio ao então novato Eric Clapton, no início dos anos 70. “Poor Elijah” e “Don’t Know Why” (essa do primeiro disco de Clapton), no entanto, ganharam um sotaque tão próprio do Black Crowes que nem pareciam que não eram do grupo. Alheios a isso, os integrantes se empolgaram pra valer no final, deixando claro que a vocação deles é mesmo o palco. Ainda que o repertório não tenha ajudado, valeu pela ousadia e por aquilo que deveria ser o handicap para qualquer banda de rock: o show.

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