Som na Caixa

Kiss

Sonic Boom
(Baixado da internet)

kisssonicboomHá cerca de um ano Paul Stanley dizia que, se quisesse, poderia fazer novas músicas para se tornarem clássicos do rock, mas que desistira de compor porque os fãs só queriam ouvir os hits do Kiss. A julgar pelo álbum solo dele, “Live to Win”, de 2006, que trazia grandes canções de hard rock, ele estava certo. E para surpresa geral, o guitarrista mudou de idéia e resolveu, junto com o Kiss, fazer os tais “clássicos do rock”, reunidos neste “Sonic Boom”, não sem antes prometer uma sonoridade dita como “dos anos 70”.

Entre as várias fases pelas quais o Kiss passou, a do hard rock foi a que ficou mais latente como marca registrada de uma carreira que já dura quase 40 anos. E ainda que o sotaque setentista seja a busca nessa volta ao disco desde o apenas razoável “Psycho Circus”, de 1998, prevalece o hard rock na maioria das faixas, realçado pelo conceito Kiss de “party every day”, irresistíveis riffs de guitarra e refrões grudentos e bem sacados que não deixam nem o ouvinte menos atirado imóvel. Não raro o próprio título da música se transforma em grito de guerra em refrões repetidos até colar implacavelmente na cabeça de quem ouve.

“Modern Day Delilah”, a primeira a ser conhecida e que abre o CD, é um hard rock porrada dos bons, muito mais pelo riff e pelas evoluções instrumentais (com um quê discreto de funk rock) do que pelo açúcar por vezes exagerado no gênero. Curta, com solo econômico e refrão pegajoso, resume aquele tipo de canção que Paul Stanley prometia fazer. Grudenta também é “Never Enough”, cujo título fica na cabeça já pelo instrumental cantarolável. O “novato” Tommy Thayer garante o bom solo da vez, como faz, aliás, na maior parte das faixas, num disco que parece moldado para não ser um culto ao exagero – deixe isso para os figurinos épicos. Thayer vai bem, também, nos vocais de “When Lightning Strikes”, outra da linhagem do Kiss dos anos 70.

As guitarras que introduzem “Stand”, de andamento cadenciado, não deixam dúvidas quanto à sonoridade que foi ponto de partida; a faixa poderia tranquilamente fazer parte de um dos shows da turnê do “Kiss Alive” que ninguém iria perceber a diferença. O trabalho de vocais – sobretudo de Stanley – é fantástico, anexando outra das características marcantes da carreira do grupo, especialmente na fase hard rock. “All for The Glory”, cantada pelo batera Eric Singer, é outra que remete ao rock’n’roll do início do grupo. Se destaca pelos os vocais trançados numa produção precisa que separa bem o baixo de Gene Simmons e as boas evoluções das guitarras, apontando para mais um refrão colante daqueles.

Destoam um pouco as três músicas assinadas exclusivamente por Gene Simmons. Pouco inspiradas, deixam a desejar, mas sem comprometer no cômputo final. Já “Say Yeah”, da qual o baixista participa, bem poderia ter sido gravada no álbum solo de Paul Stanley. De simplicidade atroz e carga dramática suficiente, tem a medida certa para arrebatar qualquer fã de rock interessado em diversão. A clássica paradinha para os vocais constrói a imagem dos braços erguidos em coreografia, como acontece nos shows. É o arremate perfeito para deixar o disco preso na vitrola. Em suma: um discaço que nem o mais otimista dos fãs do Kiss poderia esperar.

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