Imagem é Tudo

Simply Red/U2

Classic Albuns
Stars/The Joshua Tree
(ST2)

simplyredu2classicPergunta recorrente quando um disco é lançado, o porquê de um determinado título sempre rende um bom assunto em entrevistas com artistas ansiosos para que seu trabalho seja reconhecido. Pois saibam que “The Joshua Tree”, título do álbum que o U2 fez para conquistar a América saiu de uma sugestão de Anton Corbjin, fotógrafo holandês que segue o grupo irlandês há uma pá de tempo. Foi ele quem avistou a árvore que aparece sozinha, atrás da imagem da banda e fechou o conceito que Bono procurava. Essa é só uma das histórias que são contadas no documentário que aparece no segundo DVD dessa série, que tenta resgatar a gravação do álbum que colocou o U2 no topo do mundo.

Outra das mais interessantes é que “Where The Streets Have No Name”, que abre o disco e se tornou um dos grandes hits do U2, tocada até hoje nos shows, quase foi apagada pelo produtor Brian Eno. Segundo ele, The Edge aparecia com toneladas de fitas cassetes com coisas que ele gravava em casa, para transformar em música no estúdio, entre elas o esboço dessa faixa. Só que Adam Clayton, em princípio, não gostou dela, e Eno acho que demoraria muito tempo para ajeitar a música – realmente tomou mais da metade do tempo gasto na gravação do disco – e tentou apagá-la “acidentalmente”, no que foi impedido fisicamente pelo engenheiro de som Pat McCarthy, integrante da equipe. Quem conta o ocorrido é Flood, responsável pelas gravações, sem ter sua versão contrariada pelo próprio Brian Eno. Ou seja, foi preciso sair no tapa para que “Where The Streets Have No Name” virasse um hino do rock.

Eno assina a produção com Daniel Lanois, que aparece com Bono diante de uma mesa de som revirando detalhes das gravações como a mudança no jeito de Bono cantar, usando “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” como exemplo. O impacto foi tão grande que Daniel fez a ponte com o gospel americano, cuja citação deixa Bono ligeiramente sem graça. Além de todo o olhar para a cultura yankee, as mudanças vocais de Bono foram a grande marca do álbum.

Segundo Larry Mullen Jr., Daniel Lanois foi também o responsável por tê-lo incentivado a incrementar sua marcante batida, já que, na visão dele, Steve Lillywhite, que produzira os três primeiros álbuns do U2, é um produtor especialista em guitarras – e é mesmo. Lillywhite também aparece, mostrando um trecho de “Where The Streets…” - comparado a Depeche Mode e Pet Shop Boys - que acabou não fazendo parte da mixagem final, assinada por ele, assim como as de “With or Without You” e “Bullet The Blue Sky”.

Brian Eno conta que essa música tinha duas versões distintas, e que The Edge decidiu usar uma parte de cada uma na mixagem final. Do jeito que saiu no disco, ela jamais foi tocada ao vivo no estúdio, todos tiveram que aprender a tocá-la nos ensaios para a turnê. Bono credita a marcação forte de Larry Mullen Jr. às referências que o baterista carrega de John Bonham, do Led Zeppelin. A parte Bono ativista político aparece em “Mothers Of The Disappeared”, sobre as mães de El Salvador que tiveram os filhos subtraídos pela ditadura. Cenas de um show no Chile – que sofreu o mesmo problema – um ano antes, na turnê do álbum “Pop”, mostram as mães no palco junto com a banda. A música nasceu porque o U2 interrompeu as gravações para fazer uma turnê da Anistia Internacional. Àquela altura, Bono já era Bono.

Como o vocalista de uma banda punk se torna um grande ícone da música soul mundial. Este bem poderia ser o título da história que projetou o Simply Red para o mundo da música pop. Os extras do DVD mostram um tímido Mick Hucknall berrando junto do Frantic Elevators, antes de se descobrir como dono de uma voz identificada com a música negra americana. Assim ele liderou – como na tradição da Motown, representada no vídeo por Lamont Dozier – o Simply Red e levou o grupo a ter um álbum entre os cinco mais vendidos em todos os tempos no Reino Unido. Era “Stars”, claro.

A entrada do baterista Gota, um japa que havia trabalhado com Seal e Soul II Soul, e também criou as programações que consagraram o disco, aparece como a primeira e fundamental mudança no grupo, embora o batera original apareça se lamentando. Foi ele que descobriu o equilíbrio entre as baterias digital/acústica necessário para o pop em que o Simply Red mergulharia em “Stars”. Mas a gravação só deu certo porque o grupo saiu de um estúdio em Paris, afetado pelo início da Guerra do Golfo, para se refugiar no paraíso que é Veneza.

O produtor Stewart Levine comanda a mesa de som mostrando as técnicas usadas por Hucknall, como as vozes dobradas na faixa-título. O vocalista, por sua vez, explica como fez “For Your Babies” em homenagem aos amigos que começavam a ter filhos; o reggae “Model”, para as modelos com as quais saía, embora não gostasse do tipo de vida que elas levavam; e o caráter político de “Wonderland”, que criticava a política habitacional de juros altos implantada por Margaret Thatcher. O brasileiro Heitor TP, que deixou a banda de apoio de Ivan Lins para se juntar o grupo aparece tocando sua célebre e discreta guitarra em “Stars”. Nos extras há também versões feitas na época em que o vídeo foi produzido (2004) só com voz e teclado, além de cada músico tocando só as suas partes em músicas distintas.

Se, a despeito dos fatos, o que vale são as boas histórias, a melhor delas é contada pelo baixista Shaun Ward, que, aliás, também ajudou a moldar o som desse disco. Ao entrar para o grupo, durante um almoço, Ward tomou um porre, fechou o restaurante e decidiu andar à cavalo – sem cela, diga-se. Resultado: tomou um tombo e apareceu no estúdio em seu primeiro dia de trabalho com o tornozelo enfaixado e usando uma bengala. Tinha tudo para não dar certo, mas deu.

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