É verdade que foi feito para ser exibido nos cinemas, mas “A Vida Até Parece Uma Festa” não é exatamente um filme. Trata-se de um documentário feito a partir de um apanhado gigantesco de cenas amadoras captadas por Branco Mello (integrante do grupo) durante toda a trajetória dos Titãs, somadas a imagens de arquivo de redes de TV que deram destaque ao grupo ao longo dos anos. Quase sem roteiro e com qualidade precária, cabe muito mais no formato DVD mesmo - sem nenhum demérito.

Embora não apresente ordem cronológica e as legendas de identificação sejam minúsculas (talvez não adaptadas da telona para o DVD), são as imagens que foram veiculadas as que salvam a lavoura, ao dar noção ao espectador da trajetória mutante do Titãs. Do início, com os figurinos brega/chique, passando pela descoberta do punk com “Cabeça Dinossauro”, e do grunge, em “Titanomaquia”, está tudo lá. Até as saídas dos integrantes foram bem representadas, incluindo o dramático acidente que matou o guitarrista Marcelo Fromer, bem como o da prisão de integrantes por porte de drogas. O benefício imediato foi a sensacional “Polícia”, que no filme aparece sendo tocada junto com o Sepultura, em 1994.

Por vezes as imagens de TV, com repórteres, apresentadores e os integrantes narrando falam por si só, mas em outros casos falta uma locução em off que situe o espectador, já que a narrativa cinematográfica é quase nula. Nota-se, também, a ausência da crônica musical, que poderia situar a relevância da trajetória titânica no contexto da música brasileira com maior precisão, mostrando os altos e baixos da carreira de acordo com cada redirecionamento musical, ainda mais no caso do Titãs. As cenas de bastidores poderiam ser mais interessantes, mas Branco exagerou em performances de gosto questionável que abusam do humor tipicamente paulistano que pode não fazer sentido em outras regiões do País.

Não resta dúvida, no entanto, que o documentário relembra e reforça a importância dos Titãs no rock nacional. Entre as melhores cenas estão uma em que o grupo faz uma votação para escolher a música de trabalho; os shows para públicos gigantes no Rock In Rio de 1991 e do Hollywood Rock de 1994; a emocionante participação do especial de fim de ano de Roberto Carlos, atestado de boa fase para o Titãs; as caras e bocas de Paulo Miklos durante todo o filme; uma cena de um ensaio em que Charles Gavin é humilhado pelo produtor Liminha por querer “tocar” em vez de “acompanhar”, já que é baterista; e a revelação de que Branco Mello e Sérgio Britto quebraram um disco de ouro, cujo LP era do Bananarama!

Nos extras, dez minutos de cenas de bastidores a mais, partituras de todas as músicas dos Titãs que aparecem no filme, extraídas do Songbook oficial, para download em computador, e seis videoclipes. São eles “Flores”, “Saia de Mim”, “Será Que é Isso Que Eu Necessito”, “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana”, “Isso” e “Epitáfio”. Resta saber o porquê dos demais clipes não terem entrado também.

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