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Lynyrd Skynyrd

Sweet Home Alabama
(ST2)

lynyrdskynyrdsweetPara o mal ou para o bem, o nome Lynyrd Skynyrd quase sempre é sinônimo de tragédia, graças à fatídica queda de um avião particular que transportava a banda em 1977, que vitimou o vocalista Ronnie van Zant, o guitarrista Steve Gaines, sua irmã, que fazia vocais de apoio, e o diretor de palco Dean Kilpatrick, além de deixar todos os outros feridos, fisicamente e para sempre. Fora isso, anos depois o guitarrista Allen Collins também partiu depois de passar quatro anos numa cadeira de rodas, após um acidente de carro no qual sua namorada morreu.

Não é disso que trata este DVD, mas a história valoriza ainda mais o curto trecho de uma apresentação gravada em Hamburgo, em 1974, com a formação clássica do grupo, num teatro com cadeiras numeradas e um palco minúsculo que mal acomoda os sete integrantes. São apenas três músicas, nas quais o grupo mostra toda a exuberância do som que eles inventaram e carregam até hoje, calcado na cultura da rebeldia sobre duas rodas e no crossover de blues rock e country que formaram o chamado southern rock – ou rock do sul dos Estados Unidos. A filmagem foi resgatada do clássico programa Rockpalast, que rolava nas madrugadas de sábado na TV alemã nos anos 70, assim como a íntegra do show de 1996 (parte principal do DVD), gravado já no encrave rochoso de Loreley, às margens do Rio Reno, mais à sul do País.

A comparação entre as épocas – inevitável - é também necessária para tentar entender um pouco da história do grupo, que ganhou fama após o acidente e 1977 e só voltou a se reunir em dez anos depois. Impressiona, em princípio, a semelhança física e vocal de Ronnie van Zant e seu irmão mais novo, Johnny, 11 anos mais novo, que assumiu o posto. Um espectador distraído, com as duas imagens frente a frente, cravaria que se trata da mesma pessoa, de um menino que maturou liderando sua banda. Outra é perceber como, 22 anos antes, já estava tudo ali no Lynyrd Skynyrd: as três guitarras características estão intactas. No clássico instantâneo “Free Bird”, por exemplo, são praticamente idênticas em andamentos e solos, numa prova de que o grupo havia, já em 74, esgotado as possibilidades em si próprio. “Sweet Home Alabama”, o grande hit do grupo, na época, tem a mesma recepção calorosa que em 1996. A música é apresentada como novo single, do segundo álbum do grupo, assim como “Workin’ For MCA”, que completa o raro bônus do DVD.

O “calorosa” dito ali em cima não chega a ser tão quente assim. Johnny inclusive - mais de uma vez - clama pela participação mais aconchegante do público, afastado um dez metros do palco, talvez por questões de logística para a o registro das câmeras da TV alemã. As três guitarras, ao vivo, realmente impressionam, porque no meio das músicas e, sobretudo nos solos, dificilmente tocam a mesma passagem. Enquanto uma se encarrega de dobrar o peso fornecido pelo baixista Leon Wilkeson (da formação original), as outras duas promovem duelos espetaculares. É o que acontece em “Double Trouble”, em “Saturday Night Special” ou na ótima “That Smell”, que, a despeito de toda a rebeldia que envolve o grupo, dá um sutil toque antidrogas. Na mesma linha, “Simple Man” (outra com show dos guitarristas) é dedicada à matriarca dos van Zant. Um olhar menos óbvio facilmente percebe o caminho que deu origem às twins guitars desenvolvidas pelo Wishbone Ash, consagradas pelo Thin Lizzy e que desaguaram no Iron Maiden.

Johnny van Zant força os vocais com o sotaque típico da região que projetou a banda, muito bem acompanhado pelas senhoras que lhe dão sustentação e sobressaem em “That Smell” e “Swamp Music”. Os três guitarristas – Hughie Thomasson, Gary Rossington e Rickey Medlocke – fazem pequenos solos individuais no final de “Call Me The Breeze”, mas é no bis único, justamente com “Free Bird”, que eles enlouquecem e não deixam seus antepassados vexados. As imagens têm o “climão” de transmissão de TV, mas é possível ver cada detalhe, incluindo o uso dos famosos dedais de vidro que produzem o efeito conhecido como slide guitar e ajuda a definir ainda mais o southern rock. Épocas à parte, trata-se de um belo e emocionante registro de um clássico do rock mundial.

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