Rock é Rock Mesmo

Josh Homme enquadra o Arctic Monkeys

Líder do Queens Of The Stone Age está deixando sua marca gravada na primeira década deste século; até o hype inglês cedeu às suas guitarras criadas no deserto

Meus amigos, eu me rendo. Não, isso aqui não é a coluna vizinha - O rock como ele é - nem eu estou me referindo ao sensacional clássico do Rainbow. Mas confesso que, recentemente, tenho ouvido muito a Planet Rock. Para quem não se tocou, me refiro a rádio de classic rock de Londres, que outro dia tocou, sim, “I Surrender”. Enquanto escrevo essas linhas com um atraso do cão, por exemplo, está tocando “Poison”, na versão original, com Alice Cooper – não a cover assim, assim feita por Tarja Turunen. Sim, eu me rendo.

Só que não era isso que eu queria falar. Estou aqui para me render ao som de uma banda dessas do novo rock dos anos 2000, quer tratei com deboche e desdém. Mas juro que ela – a banda – andou mudando muito e contribuiu pacas para que eu viesse aqui fazer essa espécie de “mea culpa”, muito embora não seja essa a expressão mais legal a ser usada. Pois saibam vocês, meus caros leitores, que bandas certinhas sem muito tempero às vezes piram, vão atrás de sonoridades diferentes, de produtores sabichões e dão uma guinada de 180º em suas carreiras. Eu, aliás, pensando nisso, cheguei a anotar a sugestão para mim mesmo – como faço habitualmente – de bolar uma coluna com esse assunto. Como falta ajuntar um número maior de artistas que tiveram essa troca de viés em suas carreiras, vou deixar para depois. Quem quiser ajudar, pode dar umas sugestões, nos comentários, e-mail, orkut, myspace, twitter, sei lá. Um exemplo? Beatles, em “Revolver”.

Muito bem, vocês já devem ter sacado que falo do Arctic Monkeys, banda que só conheci mesmo quando se apresentou por aqui no TIM Festival de 2007. Lembro que na resenha que fiz para este site reconhecia no grupo o indelével sotaque do rock dos anos 80, lugar comum na sua geração. Lembro, ainda, que no mesmo texto verifiquei, durante o show deles, sutis referências ao Black Sabbath, no que virei motivo de chacota entre alguns amigos, que cravaram que eu só vi Black Sabbath no Arctic Monkeys porque só conhecia o Sabbath, e não as milhares de outras referências musicais que povoam o pop rock nesse mundão. Daí que o tempo passou e redigi, há pouco tempo, com prazer e regozijo, uma notícia em que Alex Turner e seus amigos diziam que o Black Sabbath era a grande influência para eles nas músicas novas, essas que hoje estrelam “Humbug”, o terceiro disco dos rapazes. Isso além de um deles usar uma clássica camiseta do grupo, vinda direta dos anos 70, em uma foto. Não, eu não estava louco lá na Marina da Glória.

Mas não foi só isso. Eu próprio, ao ler a notícia, vaticinei: Arctic Monkeys igual a Black Sabbath? É ruim, hein? Mas a notícia principal não era essa, e sim a de que o novo disco, o tal “Humbug” estava sendo produzido por Josh Homme, o sujeito por trás do grande Queens Of The Stone Age e envolvido em tudo o que de legal acontece no rock nos últimos tempos. Agora por exemplo, ele está metido com Dave Grohl (de férias com o Foo Fighters) e com John Paul Jones, um dos três remanescentes do Led Zeppelin, numa bandaça chamada Them Crooked Vultures. Pois ele foi convocado para pilotar a piração do AM, e digo isso porque, segundo consta, os ingleses é que tomaram a decisão de chamar Josh, e isso é ponto pra eles.

Não, meus amigos, Josh Homme não transformou o Arctic Monkeys numa filial de sua banda, mas foi por pouco. Isso porque eles chamaram Josh, mas não deram o bilhete azul para James Ford, espécie de quinto Monkey que atuou como produtor no álbum anterior, “Favourite Worst Nightmare”, e ainda trabalhou com outros artistas moderninhos e contemporâneos ao Arctic Monkeys como Klaxons e a caminhoneira Peaches. O resultado é que, por conta disso, o grupo não deixou de lado o jeito de tocar – sim, eles têm um -, mas misturou tudo com aquilo que eles traduziram como fãs de última hora (nem tanto) do Black Sabbath e tudo sob a batuta de Josh Homme e o controle (digamos assim) de James Ford.

Disse tudo isso para chegar a conclusão que o ano de 2009 poderia acabar hoje que o melhor disco já foi lançado. Sim, eu me rendo. O Arctic Monkeys pirou e fez o disco do ano. Faço a revelação não em tom de novidade, mas de reafirmação desavergonhada do óbvio. Isso porque até o menos antenado dos fãs de rock e música pop em todo o mundo já sacou que o single “Crying Lightning” é sensacional. Que Josh Homme embutiu o deserto de onde ele saiu em músicas como “Potion Approaching” e “My Propeller”, e na sonoridade de todo o CD, de uma forma geral. Que “Dangerous Animals” é um espetáculo, e que o pós punk ainda aparece debaixo da poeira; vejam se “Cornerstone” não parece ter saído diretamente de um dos discos do Morrissey. Até ecos de Los Hermanos – acreditem – foram vistos em “Dance Little Liar”. Não que os Monkeys tenham bebido na fonte dos barbudos, mas significa a admissão (outra vez) de que ambos foram diretamente em referências comuns. Ponto para os Hermanos. Mas atenção: isso não é uma resenha.

E olha que estou falando de um disco que ainda nem saiu, já que a data de lançamento é daqui a 19 dias, dia 25. Ainda assim, vai ter gente lendo isso aqui e achando que estou dizendo o que todo mundo já disse. Sim, porque nesses tempos é assim: baixa-se logo e esgota-se o assunto antes de ele próprio existir. E é aí que este velho homem da imprensa folga e se orgulha de ter visto Black Sabbath no Arctic Monkeys antes do próprio grupo. Façanha que, honra seja feita, nem o meu amigo Moderninho de Plantão teria conseguido em sua incansável busca pelas novidades novíssimas mais novinhas em folha. Mas, repito, sou eu que me rendo.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado