No Mundo do Rock

Edguy conquista o mundo

Grupo alemão consegue a rara façanha de sair dos guetos do metal europeu para atingir uma platéia mais ampla, a custa de bons refrões. Fotos: Alex Kuehr/DivulgaçãoNuclear Blast.

Papo firme: tudo em cima com o Edguy, cada vez menos alemão e mais global

Papo firme: tudo em cima com o Edguy, cada vez menos alemão e mais global

Você pode não ter se dado conta, mas o Edguy deixou há muito tempo de ser um grupo encravado no travado metal melódico alemão para se consagrar como uma das mais importantes bandas de rock pesado do mundo. Prova disso são as longas turnês pelo planeta, que deságuam em lançamentos simultâneos como um DVD gravado ao vivo em São Paulo, em 2006 e um CD bônus do álbum mais recente, “Tinnitus Sanctus”. O disco extra traz um show captado em Los Angeles, berço do hard rock e ao mesmo tempo infectado durantes anos pela praga em que o nu-metal se transformou.

Foi no chamado boca a boca que o grupo conseguiu transpor a barreira do Atlântico e de outros mares para salpicar o mapa mundi com uma música mutante que, a rigor, só agora é que mostra sinais de acomodação e certa repetição. Ao menos é o que diz o baixista Tobias Exxel, na entrevista, lá embaixo. Para ele, que se considera musicalmente conservador, o grupo sempre buscou novos rumos, ao mesmo tempo em que administra as dificuldades assumidas no trabalho com o prodígio Tobias Sammet. Além de cantar e compor praticamente todas as músicas, o xará ainda divide o tempo (e a torrente de idéias) com o projeto paralelo Avantasia.

Parece ser o conflito parte do caminho de sucesso que o grupo tem trilhado, em que pese a vocação em inventar refrões colantes que aproximam o metal do pop sem nenhum medo de ser feliz. Tobias, o Sammet, por si só é uma jóia que o mundo da música pop precisa cooptar para levá-lo a um universo ainda mais amplo, possivelmente com o Avantasia ou em carreira solo. Enquanto isso não acontece, brilha o Edguy, no lastro imprevisível deixado pela música pesada. Entenda mais um pouco sobre a banda nas palavras do outro Tobias, o Exxel:

Rock em Geral: Gostou do resultado final de “Tinnitus Sanctus” depois que ouviu o CD?

Tobias Exxel: É um grande álbum, todos nós do Edguy ficamos muito satisfeitos e orgulhosos com o disco. É diferente do “Rocket Ride” e diferente das coisas mais antigas.

REG: O disco começa com músicas que falam de religião, a primeira é “Ministry Of Souls”… Há alguma conotação religiosa com o título e essas músicas?

Tobias: Há sempre alguma coisa sobre religião aqui e acolá, e também numa música como “New Age Messiah”, do EP “King Of Fools”, por exemplo. Mas seria um exagero dizer que “Ministry Of Saints” é uma música religiosa, mesmo no sentido figurado. O Edguy toca em shows gigantes e com todos olhando para a banda, como se fôssemos super heróis, e é lógico que não achamos com isso que o Edguy é uma religião. É ótimo quando sua banda favorita vai até a sua cidade e você fica entusiasmado com e não pensa em nada a não ser o show e encontrar a banda ou algo do tipo. É sobre isso que essa música fala, e nesse caso religião é uma coisa diferente. Religião é importante, a energia, a motivação de cada um, mas não é esse o nosso background, o Edguy não virou uma banda white metal.

REG: Falando de “Sex Fire Religion”, essa é uma música pesada e bem diferente do Edguy dos velhos tempos antigos. Como a banda mudou tanto em todos esses anos?

Tobias: Sempre estamos buscando fazer coisas novas, não só nessa música em especial, mas em geral em todo o disco, e todos tem que entender que uma banda não quer fazer o mesmo álbum de novo o tempo todo. Somos todos muito orgulhosos dos nossos lançamentos anteriores, como “Theater Of Salvation”, “Vain Glory Opera” e “Mandrake”, por exemplo. Agora é tempo para mudar, e isso já vem acontecendo no “Rocket Ride” e no “Hellfire Club”.

REG: O “Mandrake” parece ter sido o disco chave para essas mudanças…

Tobias: Se você olhar com atenção, os três primeiros discos são bem diferentes entre si. Isso é uma coisa natural, acho que músicos têm que seguir seu sentimento, tem que tentar coisas novas, e é claro que se a maioria dos seus fãs entende que você tem que fazer essas mudanças, tudo acaba dando certo. Ao vivo tocamos músicas de todos os discos. Não nos concentramos só no “Tinnitus Sanctus” agora, por exemplo. O jeito de compor do Edguy continua o mesmo e ninguém diz que não quer mais ouvir os discos antigos. Ficamos muito orgulhosos dessas músicas durarem tantos anos.

REG: Você não acha que no inicio o Edguy era associado ao heavy metal melódico e agora é uma banda mais voltada para o heavy rock e o hard rock?

Tobias: Somos uma banda que toca rock pesado, é verdade, não somos um hype. É legal tocar na turnê e misturar todas essas músicas de “Tinnitus Sanctus”, do “Rocket Ride” e do “Mandrake”, do “Vain Glory Opera”… No palco elas soam como se não tivessem mais diferenças entre elas. Tudo cresce junto e é bom porque a “vibe” do público é ótima. Quando estivemos em São Paulo (em fevereiro) mais uma vez tivemos o sentimento de que a maioria das pessoas realmente gostou do disco, o que é a coisa mais importante.

Felix Bohnke (bateria), Dirk Sauer (guitarra), Tobias Sammet (vocais), Jens Ludwig (guitarra) e Tobias Exxel (baixo): conflitos do bem

Felix Bohnke (bateria), Dirk Sauer (guitarra), Tobias Sammet (vocais), Jens Ludwig (guitarra) e Tobias Exxel (baixo): conflitos do bem

REG: Essas mudanças no som da banda ganharam força quando o Tobias começou a trabalhar o com projeto Avantasia. Você vê relação entre as duas coisas?

Tobias: No Avantasia o Tobias tentou usar influências ainda mais modernas, o que acabou por influenciar também o Edguy. Eu sou um cara bem tradicional, que aprecia o heavy metal tradicional e o metal melódico alemão. Mas o Tobias gosta de coisas mais modernas, então de alguma forma chegamos a algo entre as duas coisas. Eu e os demais temos idéias para o Edguy, assim como o Tobias, e então há aquele choque de idéias, o que é comum numa banda. Às vezes a influência maior é do Avantasia, ou o Edguy fornece idéias para o Avantasia. Em geral quando estamos fazendo nossas músicas, ninguém fica sequer pensando sobre o Avantasia. Sempre tentamos nos concentrar no Edguy, ficamos juntos, conversamos juntos, tocamos juntos, ensaiamos juntos, praticamos juntos e sentimos o que aflora, musicalmente. Esse é o melhor caminho, sem pensar nessa ou naquele tipo de influência. Porque se você faz isso deliberadamente, a música sai de um modo não muito natural.

REG: É difícil trabalhar com um cara como o Tobias, que faz quase todas as músicas no Edguy e ao mesmo tempo define o que é do Avantasia?

Tobias: Respondendo honestamente, sim, às vezes é muito difícil trabalhar com ele. Ele sempre aparece cheio de idéias, mas todos os outros têm opiniões diferentes, e às vezes ele não gosta dessas opiniões, porque ele canta, já vem com as linhas melódicas na cabeça e os refrãos e coisas assim. Às vezes é um saco discutir com ele. Ele é o autor da grande maioria das faixas dos álbuns do Edguy porque tem as principais idéias de como cantar, e às vezes é muito difícil para todos os outros juntos exercer influência nisso. Mas no fim das contas é o que acontece.

REG: Agora vocês estão já pensando nas músicas do próximo disco ou ele está trabalhando para o Avantasia?

Tobias: Ele está trabalhando no Avantasia, e no momento estamos também ensaiando para os próximos shows, boa parte dele nos festivais de verão daqui. Depois vamos nos preparar para mais uma turnê nos Estados Unidos em setembro, e no final do ano vamos para a Austrália. Esperamos ainda esse ano voltar para o estúdio e começar a fazer músicas novas para um álbum - quem sabe - ser lançado no final de 2010.

REG: Fale sobre o sujeito que canta no na faixa bônus, Granato Rambocco…

Tobias: Ah, ele e Tobias Sammet são a mesma pessoa. É uma grande música, nos divertimos muito fazendo esse tipo de coisa. É uma grande gozação, porque essa música é tipo um country sobre pessoas que cantam de uma forma tradicional. Uma típica música de um grupo de southern rock americano. Uma piada.

REG: Há um CD bônus no álbum, com um show gravado em Los Angeles…

Tobias: Era para ser só algumas faixas bônus, mas gostamos da idéia de colocar o CD inteiro, porque tínhamos essa boa gravação feita em Los Angeles no ano passado. Não é como um verdadeiro disco ao vivo, mas é como se fosse os antigos bootlegs ou algo parecido. É uma gravação boa, passa muito energia, então tivemos essa idéia maluca de um CD bônus.

REG: É difícil para uma banda européia fazer turnês de sucesso nos Estados Unidos. Você acha que finalmente vocês conseguiram se dar bem lá?

Tobias: Sempre nos demos bem nos Estados Unidos. Há alguns anos, na nossa primeira vez por lá, tinha algo como 50 ou 100 pessoas no primeiro show. Mas as coisas foram melhorando e ficando cada vez melhor, e hoje em qualquer lugar no mundo nós tocamos para um grande público. Isso porque os fãs das antigas iam aos shows e falavam para os outros, e no boca a boca o público foi aumentando a cada turnê. O metal europeu tem dificuldade de ter sucesso nos Estados Unidos, mas há um grande número de fãs no underground que se interessa muito pelos grupos europeus.

REG: Sobre o DVD “Fucking With Fire: Live”, como decidiram gravar o show de São Paulo? E por que demorou tanto para ficar pronto e ser lançado?

Tobias: Pois é, nós gravamos há uns dois anos, e estávamos no meio de uma turnê, havia muitos shows a serem feitos, além de festivais, com o Aerosmith na Alemanha, outra turnê americana, e um monte de coisas acontecendo. Logo depois da turnê, por alguma razão tínhamos muitas idéias para esse novo álbum, inclusive posso te dizer que o titulo apareceu antes de todas as músicas. Então decidimos finalizar o álbum, porque todos estavam muito empolgados com ele, para depois terminar o DVD. Acho que não existe nenhum problema o fato de esse DVD sair dois anos e meio mais velho, porque a banda continua a mesma, a atitude é a mesma. É um grande show, um grande DVD e estamos muito orgulhosos.

REG: Tem a ansiedade dos fãs…

Tobias: Foi muito bom aquele show em São Paulo e foi muito legal assistir a esse DVD num cinema aqui na Alemanha, num evento de lançamento. Em 2004 ou 2005 lançamos o DVD do “Superheroes” com três músicas, também gravado em São Paulo. Era para ser um DVD grande, completo, mas por problemas técnicos não pudemos fazê-lo. O Edguy sempre deu azar quando foi gravar um DVD, mas dessa vez finalmente conseguimos e estamos muito felizes por isso.

REG: Por que vocês só tocam em São Paulo quando vêm ao Brasil?

Tobias: Da última vez ficamos chateados porque só tivemos a chance e fazer um único show no Brasil, em São Paulo. Mas nessa turnê devemos fazer Rio de Janeiro, Porto Alegre e Florianópolis, como fizemos há dois anos. Nós queremos mesmo tocar em outras cidades do Brasil, espero que possamos fazer isso da próxima vez. E o Rio ainda é uma cidade linda, vale até como turismo!

Sempre na estrada, o Edguy tem um grande horizonte a ser percorrido

Sempre na estrada, o Edguy tem um grande horizonte a ser percorrido

Tags desse texto:

Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Wivian Amaral em setembro 27, 2009 às 21:57
    #1

    Certamente é um pouco dificil trabalhar com alguém que cria as músicas e as melodias, mas o Tobias faz isso muito bem. Comecei a escutar a banda por causa dele, meu presente de 15 anos será CDs e DVDs, o Avantasia que gosto bastante. É uma ótima banda, assim como o Edguy e recomendo para quem não conhece.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado