O Homem Baile

Agressivo, Krisiun deixa público carioca em frangalhos

Grupo fez o show de lançamento do álbum “Southern Storm” na cidade, em noite de gala pra a música pesada. Matanza e Enterro se encarregaram da abertura. Foto: Axel Jusseit/Divulgação.

Krisiun Session 29.03.2008“Aqui é metal, nós vamos bota pra foder”, anunciou o baixista e vocalista do Krisiun, Alex Camargo, ontem à noite, no Circo Voador. Nem precisava, já que, a essa altura, a banda mais pesada do Brasil já tinha detonado a porrada “Sentenced Morning”, uma das muitas do último álbum, “Southern Storm”, incluídas no show, que quase colocou o tenda abaixo. Talvez ele quisesse passar o recado para as bandas Matanza e Enterro, que haviam tocado mais cedo: com o Krisiun, o bicho ia pegar pra valer.

E pegou mesmo. Com um repertório até enxuto para uma banda headliner, o trio mostrou que as palavras que melhor definem o som poderoso são precisão, peso e volume. É de impressionar como só três pessoas, com instrumentos de configuração básica, conseguem fazer tanto barulho mostrando uma habilidade técnica impecável, no que foi fundamental a qualidade do som do Circo Voador. Não à toa volta e meia Camargo voltava a dizer que “tem gente que fala o que quer, mas subir aqui no palco e fazer é que eu quero ver”, talvez se referindo àqueles que questionam efeitos de estúdio que turbinariam o som do grupo.

Pois o Krisiun faz tudo ao vivo, impulsionado pelo fantástico baterista Max Kolesne, cuja obsessão é a velocidade, o que não o impede de buscar variações interessantes, considerando os limites da música pesada e extrema em último grau do Krisiun. É o que acontece em “Minotaur”, outra das novas, inspirada numa sutil batida tribal que não lhe tira a agressividade que o gênero exige. Em “Refusal”, do álbum “Assassination”, no qual o trio começou a buscar variações de melodia mais ousadas, um poderoso refrão faz as incessantes rodas de pogo ganharem, também, uma estranha vitalidade. Na clássica “Vengeance’s Revelations”, o público responde com os punhos cerrados erguidos para o ar, num belo espetáculo de interação com a banda, enquanto o guitarrista Moyses Kolesne multiplica os dedos trocando de mão no braço da guitarra, encarnado assim uma espécie de Eddie Van Halen das trevas.

Esperava-se que fosse incluído no repertório o cover de “Resuse/Resist”, do Sepultura, gravado no último disco, o que não aconteceu, tampouco “In League With Satan”, do Venon, que costumava ser tocada, entrou. O Krisiun acabou fazendo o show padrão de pouco mais de uma hora, provavelmente com o set preparado para as turnês internacionais que não se cansa de fazer com sucesso pelo primeiro mundo. Mas teve espaço para “Ageless Venomous”, que parece ficar mais rápida a cada vez que é tocada, e também para “Bloodcraft”, mais cadenciada e que é daquelas em que o refrão fala por si. Talvez houvesse um bis guardado pelos gaúchos, mas o avançar da hora e o cansaço nocautearam o público, totalmente em frangalhos.

Isso porque, antes, o Matanza enfileirou uma série de porradas/hits para um público ainda maior do que aquele que aguardava pelo Krisiun. O grupo entra no palco com uma disposição incomum, detonando logo de cara seis músicas sem tirar o fôlego da platéia que se acaba nas imensas rodas de pogo. Músicas como “Ressaca Sem Fim”, “Pandemonium” (que ficou de fora do repertório do álbum ao vivo) e “Imbecil”, entre outras, mostram a intercessão com o metal extremo do Krisiun, justificando a noite com as duas bandas.

O vocalista Jimmy se delicia interpretando o papel de ogro sem noção que lhe é peculiar, enquanto o guitarrista Maurício se sai bem substituindo Donida, sobretudo nos riffs mais pesados (para o delírio do público) e quando ensaia uma coreografia com o baixista China. Acontece em “O Chamado do Bar” e “Rio de Whisky”, entre outras. Mas nada supera o “duelo de danças” entre China e Jimmy, depois da impagável “Bebe, Arrota e Peida”.

O Matanza cumpriu muito bem sua hora, no show mais animado da noite. Resta saber até quando vai durar a “reclusão” de Donida, já que, sem ele, provavelmente não existirá um novo álbum do grupo. A abertura coube ao Enterro, grupo de black metal (sem corpse paint, mas com sangue), que segue a cartilha do norte europeu. Apesar do pouco público, fez um show com muita garra e mostrou que, embora conte com integrantes veteranos, pode ser elemento renovador na cena carioca.

Tags desse texto: , ,

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado