Rock é Rock Mesmo

A volta do rock

Evento bizarro para comemorar o dia mundial do rock acabou ressuscitando o Teatro Odisséia como um point rock fortalecido no Rio de Janeiro

Meus amigos, era para dar errado, mas deu certo. Quer dizer, não sei caso a caso, mas, no conjunto da obra, acabou que tudo fluiu bem. Um evento fadado ao fracasso acabou gerando uma noite memorável para o combalido cenário do rock carioca. Da última vez que usei tal adjetivo para o rock debaixo do sovaco do Cristo o tiro saiu pela culatra de modo que tive que escrever uma nova coluna. Tomara que aconteça assim de novo. Desesperar jamais, diz o cancioneiro popular.

Não sei se me faço entender, mas ocorre que, no meio da semana passada fiquei sabendo de um evento “surpresa”, num lugar “desconhecido” e que ninguém deveria saber que ele – o tal evento – iria acontecer. Explico. Com o patrocínio de uma fabricante de calçados, algum diretor de marketing da vida decidiu criar o flashrock, para comemorar, de véspera, o Dia Mundial do Rock (13 de julho, para quem ainda não se tocou). A idéia é avisar pra todo mundo que o show, gratuito, vai acontecer num lugar desconhecido (embora muitos saibam onde), de supetão, do nada, e depois comemorar a iniciativa dita involuntária. Ora, sou do tempo em que, ao se criar um evento, um show de rock, a primeira coisa a fazer em seguida é divulgar o máximo possível para encher o lugar. Mas depois que criaram o tal show secreto, o velho homem da imprensa rock deveria mesmo esperar de tudo.

Pois eis que, no domingão de tarde, estávamos todos lá, na rua lateral do Teatro Odisséia, nos fundos do Circo Voador, em plena Lapa de mil casas de show, esperando o Cachorro Grande subir em cima da carroceria de um caminhão para fazer o bom show de rock, como de hábito. Ocorre que o grupo, dado a viagens instrumentais em seus shows, deveria tocar por apenas meia hora e pronto. Poderia voltar então para São Paulo, com a certeza do dever cumprido. De graça, sim, e sem avisar. Mas era só meia horinha e pronto. Flash rock mesmo. Só um piscar de flash de máquina fotográfica e pronto.

Mas, de alguma forma, a noite seguiu. Aqueles que comandam o Teatro Odisséia, com o mesmo senso de oportunidade que baniu o rock do local para lucrar com grupos de gosto questionável no esquema “Lapa people”, preparam um show “alternativo” com as bandas Fantasmagore, Macaco Bong (ambas vindas diretamente do PIB, festival de música instrumental ocorrido em São Paulo, na véspera) e Moptop. Evento pago, claro, ainda que fosse oferecida a esmola de meia entrada (ou algo assim) para os não sei quantos primeiros que corressem para a porta de entrada após o precoce fim do show do Cachorro Grande.

No que, já na rua, no meio do povo antenado que “descobriu” o tal evento, me pus a pensar. Se for para fazer um evento gratuito, por que não divulgar amplamente, de modo a atrair multidões para o rock? Em vez de colocar o Cachorro Grande em cima de um caminhão de batata, nos fundos do Circo Voador, por que não usar o amplo anfiteatro, construído pelo governo, em frente ao Circo, e montar um palcão digno da comemoração do dia do rock? No lugar da triste meia hora, não seria interessante deixar a cachorrada fazer um show completo, e ainda colocar as três bandas que tocaram no Odisséia, como abertura, se apresentando gratuitamente para um público muito maior, consumindo bebida a preço de mercado? Até para a fábrica de sapatos, que obviamente espalharia placas, cartazes e galhardetes por toda a parte, teria sido mais interessante. Só a caixa registradora do Teatro Odisséia é que não tilintaria. Sim, meus amigos, eis aqui mais um caso do óbvio que cega.

Ocorre que, por incrível que pareça, a coisa acabou dando certo. Imaginem que o Teatro Odisséia, mesmo com o avançar da hora, e considerando que três bandas tocariam, e, ainda, que era um domingão, ficou completamente lotado e com bom público até a alta madrugada de segunda. Até o vocalista do Moptop mandou a feliz pergunta: “Ninguém aqui trabalha, não?”. Parece pouco, mas fazia muito tempo que shows de rock não levavam tanta gente a um local como o Teatro Odisséia. Pois não é que a idéia bizarra do Cachorro Grande tocando em cima da carroceria de um caminhão acabou dando certo? Ou, por outra, e melhor ainda, deu certo do nada, em nome do rock.

Disse isso tudo, mas, evidentemente, não fui o único a perceber a tal movimentação em prol do rock. O pessoal do Teatro Odisséia também gostou do que viu e pretende fazer outras noites rock aos domingos. A primeira delas foi colocada na mão de Renato Jukebox, chama-se “Faça Você Mesmo” e acontece do dia 9 de agosto. Não, não vai ter a patacoada de fingir que não existe, não. Vamos divulgar essa parada pra valer. Porque rock, rock é rock mesmo.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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