Som na Caixa

Pain

Cynic Paradise
(Laser Company/ Nuclear Blast)

paincynicPeter Tägtgren é um dos produtores mais respeitados e inventivos do metal extremo, e, entre uma gravação e outra, com vários artistas e com sua própria banda – o Hypocrisy – grava sozinho um disco do Pain. Esse grupo de um homem só investe no metal industrial sujo, cheio de referências à música eletrônica, mas nunca deixando de lado o peso e as guitarras de origem. Um achado no meio de tantos crossovers de qualidade questionável.

Nesse sexto álbum, o prolífico produtor mostra sua face mais pop, se é que ela existe. “Follow Me”, em que Peter divide os vocais com Anette Olzon, do Nightwish, é o exemplo mais cristalino desse flerte desavergonhado e interessante. A música é dançante, tem um bom refrão, teclados e guitarras melodramáticos e o delicioso dueto vocal masculino/feminino garante diversão em poucos minutos. Uma verdadeira pérola pop. Sai o lado soturno, pesado e deprê; entram o despojamento e a falta de compromisso com receitas já aproveitadas. A faixa é tão boa que o remix que aparece no CD bônus não supera a versão original. Anette aparece ainda em “Feed Us”, não tão certeira, mas também com um refrão colante.

Peter canta na maior parte do tempo com a voz limpa, e atira para muitos lados com boa mira. “Have a Drink On Me” é puxada por um efeito de slide guitar que lhe dá sotaque country, e a batida nervosa e a linha de baixo de “Don’t Care” (a única com bateria acústica) parecem ter saído de uma das músicas da fase tardia (e mais pesada) do Sisters Of Mercy. Referências que são muito bem embaladas numa produção daquelas em que é possível perceber o cuidado em colocar, em cada pedaço de cada faixa, um som a mais, um efeito aqui, um barulhinho acolá. As guitarras de “Not Your Kind”, enxertadas numa música aparentemente feita para compor o CD, são um bom exemplo disso.

Já “Reach Out (And Regret)”, cadenciada, mas agressiva, é puro Marilyn Manson. Sua batida semimarcial recebe um solo de guitarra simples e eficiente, enquanto o teclado faz um climão sufocante. A faixa é o exemplo mais bem acabado de um produtor que sabe usar toda a tecnologia que tem à disposição, sem que isso lhe subtraia a inteligência – coisa cada vez mais rara nos nossos tempos. A dose é repetida na menos inspirada “Generation X”, cujo refrão traz, no fundo, teclados e guitarras embrulhados no mesmo pacote, num efeito de arrepiar.

O CD bônus mostra outras fontes em que Peter Tägtgren deve beber. São dois covers: “Behind The Wheel”, do Depeche Mode, e inacreditável “Here Is The News”, do Electric Light Orchestra, muito bem pinçada. Há ainda um remix para “No One Knows”, que, lento, tornou a música chata; e outro para “Clouds Of Ecstasy”, hit do álbum anterior, “Psalms of Extinction”; além de “Follow Me”, que não supera – como foi dito - a versão oficial do CD. Com o “paraíso cínico” de Peter Tägtgren, o Pain se mostra cada vez mais factível a um público ampliado e diversificado. Ponto para o produtor.

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