Som na Caixa

Erasmo Carlos

Rock’N’Roll
(Coqueiro Verde)

erasmornrQue Erasmo Carlos é um dos precursores do rock brasileiro, isso não resta dúvida. Mas já há muito tempo ele está devendo um disco de rock de verdade, com músicas próprias. Se esse lançamento, já no título, parece ter vindo preencher a lacuna, o violão que o Tremendão segura na capa denuncia um “pero no mucho” a ser adicionado imediatamente após o “rock”. Não, não foi dessa vez.

Todos esses anos ligados à mpb e compondo com o parceiro Roberto Carlos devem ter tirado a noção de Erasmo do que é rock. Ou, por outra, que o rock não é mais aquilo que ele chama de rock há trocentos anos. Tanto que ele se cercou de gente ligada ao passado (como o produtor Liminha, que faz de tudo no disco), e ao se associar aos mais jovens, optou pelos rapazes do Filhos da Judith, banda nova, sim, mas que faz rock retrô. Não que isso tire o valor do disco, que bem apresenta um punhado de canções. O problema é que lhe falta peso para carregar a insígnia do rock. Se tivesse montado uma banda completa e partido para uma garagem, talvez o Tremendão teria conseguido melhores resultados.

Boas músicas, há. “Jogo Sujo”, por exemplo, traz Liminha deitando e rolando na guitarra, anunciando, como faixa de abertura, um encontro com o rock que pouco acontece nas 12 faixas do CD. O instrumento é celebrado na densa e soturna “A Guitarra é Uma Mulher”, uma das melhores do disco, salientado por Liminha, Dadi e o sempre inventivo Billy Brandão. Ela só não perde para “Mar Vermelho”, de longe a melhor, com peso intrínseco à música e inserção de órgão que remete aos Doors. Até o jeito de cantar aqui é diferente, com Erasmo conseguindo escapar de suas próprias armadilhas, criadas durante os anos em que transitou pela mpb.

O que pega é que Erasmo Carlos quase sempre escorrega em músicas de andamento cadenciado e sem a menor pegada, realçando violões em batida “chacundum” de sarau de colégio que não fazem o menor sentido. Nessa linha, “Encontro às Escuras” e sua irmã “Noite Perfeita” são bossas que têm os dois pés na ingênua jovem guarda, e não é exatamente o que podemos chamar de renovação. Até grupos de rock contemporâneos (Nervoso, Volver) atualizam melhor o gênero. Mesmo a fanfarra “Celebridade”, diferenciada por um naipe de metais e com letra divertida, se sai melhor, no fechamento do CD. Um disco de boas intenções, mas que, positivamente, não funcionou.

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