Imagem é Tudo

Reação em Cadeia

Nada Ópera?
Ao Vivo em Porto Alegre
(EMI)

reacaonadaÉ de se estranhar que o pós grunge, que dominou as paradas americanas por um bom tempo e chegou até a tocar nas rádios daqui, quando elas ainda tinham relevância, não tenha desencadeado na proliferação do gênero no Brasil, como geralmente acontece. Talvez tenha sido o Reação em Cadeia seu maior representante. O grupo gaúcho fez grande sucesso em sua região e pontualmente fora dela, mas na hora H não conseguiu ter o crescimento que se esperava. Talvez por isso este DVD, com um show gravado no no ano passado no lendário Bar Opinião, soe como o de uma turnê revivalista – o que inclui a comoção extrema de fãs das antigas.

Não por acaso o repertório da apresentação é quase todo da fase pré-2002 e, curiosamente, do disco “Febre Confessional”, que saiu em 2006 e era para ser um grande sucesso nacional, só duas músicas entraram no show. Sábia decisão, se observarmos a cantoria do público em praticamente todas as 17 músicas, mesmo as consideradas “inéditas”, que certamente já haviam chegado aos fãs pelo mundo virtual. Se a idéia do DVD era ganhar fôlego, e, sobretudo, fazer caixa para manter a banda na ativa, os rapazes acertaram na mosca.

Jonathan Correa, o dono da banda, possui o essencial para o gênero, que é a voz de timbre quase idêntico ao de Eddie Vedder, do Pearl Jam, mas suas composições e os riffs de criados em parte pelo guitarrista Daniel Jeffman ajudam, e muito, sobretudo com a banda em cima de um palco – lugar apontado como ideal por todos num dos microdocumentários inseridos entre as músicas do show. Em “Tanto Faz”, por exemplo, que nem é uma das melhores do Reação, um final caótico, com luzes estroboscópias fortes sobre a banda realçam os riffs que sustentam o refrão, numa boa performance do quarteto – que, ao vivo, tem a adição de um discreto tecladista.

reacaonadacdAntes da entrada no palco, um telão no fundo exibe a pergunta: “o rock está morto?”. A provocação é a deixa para que o local, acanhado, se transforme num verdadeiro caldeirão que celebra um passado que não viu saída. Como reza a letra de várias das músicas, aliás. Constatação que não interfere no espetáculo – quem pensaria nisso durante a catártica baladaça “Serenade”? – e nem mesmo a exibição de imagens/efeitos bregas no mesmo telão interferem; a rigor até melhoram a captação de imagens para o DVD.

A força da apresentação da banda, que o DVD registra muito bem, está mesmo nas músicas. O riff da colante “Estou Melhor”, por exemplo, fala por si e realça um refrão mínimo, mas eficiente ao ser seguido por uma pesada (ao mesmo tempo pop) evolução de guitarra. É uma das faixas em que Jonathan deixa o público cantar sozinho – a ótima “Infierno”, também com excelente marcação de guitarra, é outra. “Segredo”, que vem em seguida, mostra Daniel fazendo texturas mais intimistas que tendem a realçar ainda mais o vocal de Jonathan. O que às vezes pega no som do Reação, ainda mais durante um show, são as mudanças de andamento que algumas músicas sofrem, quebrando o ritmo do repertório. Acontece, por exemplo, em “Desespero”, “Espero” e em “Vivendo e Aprendendo”, outra das novas.

O DVD parece não seguir a sequência do show, ainda mais se olharmos para a ordem embaralhada das músicas no CD, que tira o pique da festa e tem três faixas a menos. Mas “Até Parar de Bater” deve ser a do bis, e fecha muito bem o espetáculo com citações instrumentais à “Black Dog”, do Led Zeppelin, sem esquecer que o Who já havia sido evocado em “Me Odeie”. Nas cenas de bastidores, imagens são mostradas sem diálogos, quase transformando tudo num grande videoclipe do Reação. No fim das contas, este DVD não vai causar estardalhaço, mas se os fãs mostrarem força, podem fazer o grupo retomar o elo perdido com a própria carreira.

Tags desse texto:

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado