No Mundo do Rock

Hammerfall volta à tona com metal tradicional encorpado

Depois de três anos entre coletânea, discos ao vivo e de covers, grupo sueco reaparece no mercado com novo guitarrista e baixista repatriado do passado. Fotos: Micke Johansson/Divulgação Nuclear Blast.

O novo line up: Pontus Norgren, Oscar Dronjak, Joacim Cans, Fredrik Larsson e Anders Johansson

O novo line up: Pontus Norgren, Oscar Dronjak, Joacim Cans, Fredrik Larsson e Anders Johansson

O mundo dá voltas. Em torno do ano de 1997, o baixista Fredrik Larsson tinha acabado de gravar o álbum de estreia do Hammerfall, mas decidiu deixar a banda para tocar algo mais pesado e extremo que o metal tradicional praticado pelo grupo sueco. Passados dez anos, ele é chamado para substituir Magnus Rosén, que deixou o grupo para… usar sua criatividade em outros projetos. Essa não foi a única novidade no Hammerfall, que em 2008 teve que trazer Pontus Norgren para o lugar do guitarrista Srefan Elmgren, convocado às pressas para atuar como piloto de avião. Cada uma…

Isso explica um pouco a inédita lacuna de três anos entre o álbum anterior, “Threshold”, e o recém lançado “No Sacrifice, No Victory”. Bem, lacuna o modo de dizer, já que, nesse período, saíram a coletânea dupla “Steel Meets Steel – Ten Years Of Glory”, em 2007; e ainda o DVD gravado ao vivo “Rebels With a Cause” e o disco de covers “Masterpieces”, no ano passado - no Brasil encartados juntos. Talvez fosse esse o tempo de folga que o grupo precisava para fazer um balanço e entrosar a nova formação, já que sempre pinga um show aqui, outro ali.

Dadas a novidades, o fato é que valeu a espera pelo sétimo álbum, que tem o mérito de mostrar renovação sem o prejuízo daquilo que já era bom. “No Sacrifice, No Victory” traz uma colante faixa de abertura, uma potente instrumental, riffs matadores e uma cover, dessa vez de uma banda pop que pouco tem a ver com o Hammerfall. Quem conta mais sobre essa nova fase é justamente Fredrik Larsson, o filho pródigo que voltou pra casa com a moral de ter visto a banda mundialmente famosa quando ela ainda não era nada. Confira o resultado do bate papo telefônico direto da Suécia:

Rock em Geral: Você ficou dez anos fora da banda e agora decidiu voltar. Como isso se deu? O que você ficou fazendo durante todo esse tempo?

Fredrik Larsson: Eu saí da banda porque queria fazer algo diferente, tocar em bandas com som mais pesado, thrash metal, death metal… Acabei tocando em varias bandas locais, daqui da Suécia. Eles colocaram outro baixista e depois desse tempo todo não acreditei quando o Joacim (Cans, vocalista) me ligou e perguntou se eu que queria voltar para a banda. Topei porque achei que seria legal voltar a tocar com os velhos amigos.

REG: Esse disco demorou três anos para ser lançado, você acha que a banda precisava dar um tempo?

Fredrik: Acho que sim, precisávamos desse tempo para o disco. Fizemos uma coletânea e um álbum de covers, junto com um DVD. A banda precisava realmente de uma parada para planejar um álbum de estúdio. E nesse período de três anos tivemos muitos lançamentos que nos mantiveram no mercado, então não acho que esse tempo de três anos tenha sido um problema.

REG: Desde o álbum “Threshold” vocês trocaram de guitarrista e baixista, com seu retorno. Que tipo de mudança isso acarretou na hora de compor as novas músicas?

Fredrik: Eu acho que o Pontus (Norgren, guitarrista), trouxe muitas idéias novas em termos de arranjos e timbres. Eu contribuí bastante para a seção rítmica da banda. Eu e o Anders (Johansson, baterista) temos uma experiência juntos e nos damos muito bem, nos completamos um ao outro, como deve ser a relação entre o baixista e baterista em uma banda.

REG: Que diferenças você vê entre o Hammerfall de hoje e o de dez anos atrás?

Fredrik: A banda não era absolutamente nada naquele tempo, nós tínhamos acabado de gravar um disco e estávamos prontos para tocar. Quando eu “perdi” a banda, o disco ainda não tinha saído, e de lá pra cá, claro, aconteceu várias coisas na carreira do Hammerfall. A banda se tornou cada vez maior e hoje é uma bem representativa no cenário mundial do heavy metal.

Fredrik Larsson: o bom filho a casa torna

Fredrik Larsson: o bom filho a casa torna

REG: O disco “Renegade” (2000) foi gravado nos Estados Unidos, e de lá pra cá a banda voltou a gravar só com o Charlie Bauerfeind, que produziu quase todos os discos do Hammerfall. Que tipo de influência ele exerce no som da banda?

Fredrik: Todos na banda ficam sempre muito satisfeitos com ele, porque ele leva a banda a trabalhar duro, mas ao mesmo tempo nos deixa tocar à vontade, no tempo em que precisamos. Isso é importante para nós não sermos tão pressionados, senão acabamos tendo que repetir muito algumas partes. Ele é um produtor muito bom e muito ambientado com a banda. É o tipo de pessoa que você admira e com o qual fica bravo também. É a pessoa certa para esse tipo de trabalho, e o resultado disso é realmente muito bom.

REG: Nesse tipo de música feita pelo Hammerfall há sempre algo de épico nas letras, nas roupas que vocês usam. Esse é o modo de vida de vocês ou só uma espécie de “composição do personagem” que a música pede?

Fredrik: Acho que é um pouco as duas coisas, de certa forma. É importante entregar para os fãs um show completo quando você está no palco. É muito chato quando as pessoas acordam, com jeans e camiseta, e vão para o palco fazer um show. Achamos que as roupas são uma coisa muito importante para se fazer um bom show. E é claro que é um tipo de vida também. Não é que usemos essas roupas o tempo todo o dia inteiro, mas de certa forma, é, sim, um jeito de vida, nós crescemos ouvindo a melhor fase do heavy metal e assimilamos tudo isso em nossas vidas.

REG: Em geral nos discos do Hammerfall a primeira faixa é curta e a mais colante do disco. É uma estratégia que vocês usam a cada álbum?

Fredrik: Bem, na verdade temos que fazer tipos de músicas diferentes num mesmo disco, não podemos ficar nos repetindo, senão fica tudo muito chato. Claro que é legal ter refrões colantes nas músicas, achamos que é um elemento necessário, e em geral colocamos essa música na abertura do álbum e como primeiro single. Esse tipo de composição surge quando ensaiamos, ainda sem ter as letras concluídas, só com as guitarras tocando e “cantando” os refrões. Ensaiamos muitas músicas, uma atrás da outra, e no fim das contas percebemos que sempre uma ou duas músicas ficam na cabeça de todos, todos cantarolam e assoviam essa melodia. Então essa é que é a música que vamos colocar na abertura do CD, para fazer para as pessoas sempre se lembrarem dela.

REG: Outra coisa que todo disco do Hammerfall tem é uma música instrumental…

Fredrik: É verdade, mas não chega a ser um lugar comum. Eu acho que a desse disco (“Something For The Ages”) é diferente. É uma amostra de até onde podemos ir em termos instrumentais, eu acho que é realmente uma grande música. Tocamos muito essa música, nos ensaios, e temos tocado ao vivo também. O público agita muito com ela, é muito bom, muito divertido.

REG: A maioria das músicas do disco foi feita pelo Joacim e pelo Oscar Dronjak (guitarrista). Como é tocar numa banda com dois compositores? Eles trazem as músicas prontas para os demais pegarem e ensaiarem?

Fredrik: Em geral eles vêm com o tema da música, feita pelos dois juntos. Às vezes o Oscar faz a música sozinho e o Joacim escreve as letras e as linhas vocais; às vezes eles trabalham juntos. Em geral eles colocam essas músicas não finalizadas numa demo e passam para nós pegarmos para depois ensaiarmos juntos e ver o que funciona.

REG: A música “Punish And Enslave” é toda baseada num riff de guitarra. Você acha que o primeiro passo para se compor uma música colante é criar um bom riff?

Fredrik: Essa música tem um riff muito pesado e realmente muito bom, é claro que esse é um ingrediente importante. Mas para mim que sou baixista, eu gosto do groove da música, onde o baixo entra, o que me dá uma visão bem peculiar em relação ao que todos estão ouvindo na música.

REG: Sobre o disco “Masterpieces”, de covers, sobrou alguma versa que vocês pretendem gravar?

Fredrik: Aquele disco foi mais para reunir todos os covers que já tínhamos feitos num único disco, e logo estaremos fazendo outros, é assim o tempo todo, mas não necessariamente com a intenção de gravarmos num disco.

REG: E esse cover de “My Sharona” (do Knak), como rolou?

Fredrik: Ficou legal porque em vez de gravarmos a música no original, colocamos uns riffs. O Oscar sempre tocava um riff parecido na turnê, e um dia ele chegou com o riff principal de “My Sharona”, e disse: “Podemos fazer isso ao vivo”, e todo mundo achou que seria uma boa idéia. A coisa evoluiu para os ensaios e foi ficando muito boa. No final das contas a faixa ficou como uma típica música do Hammerfall.

REG: Parece heavy metal pra dançar…

Fredrik: Sim, sim… Por que não?

REG: No meio do heavy metal é comum vermos bandas se repetindo, mas o Hammerfall sempre se renova, de certa forma. Qual o segredo de não fazer sempre o mesmo disco?

Fredrik: Eu acho que o Hammerfall evoluiu muito, e nesse disco demos um grande passo. Mesmo sendo o meu primeiro disco desde que voltei para o grupo, mas ao ouvir os outros antigos, posso perceber diferenças entre cada um deles. Acho que eu e Pontus contribuímos bastante, trazendo muita energia e motivação, e se percebe isso no disco, é o que todos têm dito. É difícil dizer, porque eu estou envolvido, mas e eu Pontus quisemos trazer algo de novo para a banda, nos dedicamos muito no estúdio para ajudar, sem o sentimento de competição, mas de fazer o melhor.

REG: Quando vocês voltam ao Rio?

Fredrik: No inicio do ano que vem vamos fazer uma turnê pela América do Sul e espero que os produtores daí se interessem pelo Hammerfall!

Se renovar sem perder as características do metal tradicional é o desafio do Hammerfall a cada álbum

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