Som na Caixa

Hammerfall

No Sacrifice, No Victory
(Nuclear Blast/Laser Company)

hammerfallnosacrificeBandas que praticam estilos conservadores como o heavy metal tradicional (já no nome) têm sempre como desafio maior se renovar a cada novo disco, mas sem perder suas características básicas, que é o que mantém aquele séquito de fãs ao longo dos anos. E o Hammerfall se sai muito bem mantendo suas fórmulas de atuação ao gravar cada novo CD, buscando centralizar as atenções muito mais nas boas composições do que nos arranjos e no entorno do gênero. É uma atitude de risco, que nem sempre dá certo.

Dessa vez, deu. “No Sacrifice, No Victory” é, em grande parte, um coletivo de boas músicas que segue a típica linha do metal tradicional e do próprio Hammerfall. Abre com “Any Means Necessary”, uma música colante e de peso certeiro que bem poderia iniciar outros álbuns do grupo, como “Renegade” e “Crimson Thunder”, só para citar dois deles. Diferentemente do álbum anterior, “Threshold”, onde poucas boas composições sobreviveram dentre outras sem inspiração, dessa vez brilham boas idéias que superam de longe os momentos menos generosos do disco. O riff de “Punish And Enslave”, por exemplo, está entre os grandes achados do guitarrista varapau Oscar Dronjak, que junto com o gogó Joacim Cans compõe quase tudo, ante a estreia do guitarrista Pontus Norgren e o retorno do baixista Fredrik Larsson. A música, pesada e cadenciada, vai direto para o próximo “best of” do grupo.

A urgente “Legion”, de seu lado, rápida e com solos arrojados bem no meio da música, se conecta diretamente com o metal melódico, sem apelar ou repetir clichês. Sem falar no solo propriamente dito, que cruza o cérebro do ouvinte sem dó. Ela contrasta com “Between Two Worlds”, uma baladaça açucarada que, além de tomar emprestado a introdução de uma das músicas do Black Sabbath ou de Ozzy em carreira solo, depõe contra o próprio álbum. Convenhamos que não é qualquer um, dentro do universo do hard rock/heavy metal, que tem a manha de fazer uma balada sem soar piegas. E o Hammerfall – podem anotar – está fora dessa.

Outro artifício regular num álbum do Hammerfall é a faixa instrumental. Só que dessa vez ela é a que mais destoa do conjunto de músicas do disco. “Something For The Ages” é assinada por Pontus Norgren e tem teclados de Jens Johansson (irmão do batera Anders), o que dá à faixa um sotaque “retrô” bem distinto, até porque Joaquim Cans evidentemente não participa. Norgren deve compor mais, a julgar por este petardo cujo refrão cantarolável fala por si. O chato é que a música abre espaço para a parte menos inspirada, a começar pela faixa-título, bem sem sal. “Bring The Hammer Down” vem ainda com resquícios de Stefam Elmgren, e “One Of a Kind”, assinada por Jesper Strömblad (ex-guitarrista, hoje no In Flames), parece resgatada do passado remoto do Hammerfall; as duas passam batido.

A redenção vem – quem diria – com a cover da popaça “My Sharona”, do grupo Knack, sucesso no final dos anos 70. Com roupa nova, ficou em parte a cara do Hammerfall, cheia de riffs, e, de outro lado, até dançante e de fazer rir o mais mal humorado fã de metal. No fim das contas, “No Sacrifice, No Victory” recupera o grupo sueco, que volta à toda depois de um disco apenas razoável (“Threshold”), e com uma formação remodelada que parecer dar um novo viço ao metal tradicional que lhe é peculiar.

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